Os anticoagulantes são coadjuvantes importantes no tratamento de uma série de problemas médicos, como quadros de COVID-19, infartos, diálise e cirurgias, para prevenir a formação de coágulos sanguíneos, comuns nesses casos.

 

“Esses medicamentos são responsáveis por afinar o sangue e impedir sua coagulação, diminuindo, consequentemente, os riscos de problemas vasculares como trombose”, explica a médica Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.

 

O problema é que o principal medicamento utilizado atualmente, a heparina, pode causar o efeito colateral chamado de trombocitopenia induzida por heparina (TIH), piorando os coágulos sanguíneos em vez de melhorá-los. “Fármacos para o tratamento de TIH existentes hoje, chamados de inibidores de trombina, podem causar sangramento severo que não é solucionado, exigindo a interrupção do tratamento”, alerta a médica.

 



 

A boa notícia é que estudo publicado em agosto no periódico Molecular Therapy Nucleic Acids propôs um medicamento inovador para a TIH, oferecendo maior segurança e se mostrando eficaz em camundongos.

 

O tratamento consiste em um inibidor de trombina feito de moléculas de DNA que inclui mecanismo inovador capaz de prevenir o sangramento severo. Além disso, possui seções curtas de DNA que atuam como antídoto contra a coagulação causada pela TIH.

 

“A droga seria especialmente interessante no caso de mulheres grávidas, que não podem fazer uso dos tratamentos atuais para TIH devido ao risco de prejuízos ao feto. Isso porque as células de DNA do medicamento são grandes demais para atravessar a barreira da placenta”, explica a especialista.

 

A partir de testes em camundongos, pesquisadores demonstraram que a nova droga é cerca de 10 vezes mais eficaz do que os tratamentos atuais para TIH.

 

Aline Lamaita diz que a descoberta é especialmente importante pelo fato de a área ser pouco explorada devido ao baixo número de casos de trombocitopenia induzida por heparina. “Apesar de afetar uma pequena parte dos pacientes que utilizam heparina, a TIH é um problema severo e potencialmente fatal. São fundamentais as novas drogas que oferecem maior segurança no tratamento”, destaca.

 

Porém, até que a nova droga possa ser amplamente utilizada, mais testes precisam ser realizados. Pesquisadores estimam que deve levar cerca de cinco anos para que os testes clínicos em humanos sejam completos.

 

“Vale reforçar que a TIH afeta apenas um pequeno número de pacientes. Por isso, o uso da heparina é perfeitamente seguro na grande maioria dos casos, com exceção das contraindicações já estabelecidas, que incluem pessoas com maior risco de complicações hemorrágicas, como idosos e indivíduos que têm aneurismas, tumores e problemas intestinais. De qualquer forma, seu uso, assim como o de qualquer medicamento, deve ser acompanhado por um médico especializado”, reforça a doutora Aline Lamaita.

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