Vem aí o réveillon, época do champanhe e dos espumantes. No ramo das bebidas borbulhantes perfeitas para brindar o novo ano, informações interessantes vêm da Turquia, que tenta retomar sua posição de importante produtora de vinhos, perdida há mais de 100 anos.

Espumantes oriundos de uvas nativas do país têm obtido destaque mundial. “Nossa produção esgota muito rápido. Não conseguimos atender à crescente demanda, especialmente agora que o ano-novo está se aproximando”, contou Candas Misir, diretor da vinícola Vinkara, à Agência France Presse (AFP). Os vinhedos da empresa ficam em Kalecik, a 80 quilômetros de Ancara.

Há 15 anos essa empresa produz espumantes, vinho branco e vinho rosé, utilizando o método do tradicional champanhe. Outras vinícolas turcas seguiram o mesmo caminho, oferecendo bruts que não podem usar o nome champanhe no rótulo, pois a origem desta bebida é altamente controlada.

Por falar em champanhe francês, o preconceito foi um obstáculo e tanto. “Tivemos inicialmente recepção muito reservada. As pessoas se questionavam: 'O que é esse espumante turco?'”, relembrou Misir. Foi preciso promover degustações e mais degustações para convencer distribuidores, lojistas e o público.

Valeu a pena: em 2020, o rótulo Yasasin (“Viva!”, em turco) ganhou a medalha de ouro no concurso Espumantes do Mundo, realizado na exigente França. O aroma é floral, com notas frutadas, lembrando a bebida da região francesa da Alsácia.



A produção, praticamente manual, se dá a partir da linhagem da autóctone Kalecik Karasi, apelidada de “Pinot Noir turco”. Essa uva correu risco de extinção – “ressuscitou” graças aos esforços de pesquisadores e viticultores da Turquia.

Foi um belo trabalho, informou o enólogo Burak Demirel, professor de vinificação da Universidade Namik Kemal, à AFP. Inicialmente, pesquisas identificaram 800 espécies nativas de uvas. “Um potencial enorme que a Turquia pouco explorou por anos. Por isso o país era conhecido como o gigante adormecido da viticultura.”

Neste “despertar”, como define o especialista, a produção triplicou entre 2004 e 2022, atingindo 78 milhões de litros de vinho. Já a oferta de espumantes turcos quintuplicou, chegando a 2,4 milhões de litros no ano passado.

O “fenômeno” turco segue a velha máxima de que a propaganda é a alma do negócio. Andrea Lemieux, autora de um guia de vinhos do país, conta que viticultores de lá não estão atentos só à qualidade da fruta e da bebida, mas também ao marketing do produto. Apostam na internet, nos blogueiros especializados em vinho.

“Muitas pessoas que escrevem sobre vinhos visitam a Turquia especialmente para prová-los. Graças a eles, os espumantes turcos estão se tornando cada vez mais conhecidos”, diz ela.

Em 2022, o país mandou 30 mil litros de espumantes para o exterior. A competição é acirrada com espanhóis e italianos. Em 2021, a Turquia ocupava o sexto lugar mundial como produtora de uvas, com 4,1 milhões de toneladas. Mas apenas 4% da colheita eram destinados à produção de vinho.

O setor sofre forte impacto devido ao governo islâmico e conservador do presidente Erdogan, que enquadrou bebidas alcoólicas em legislação rigorosa e aumentou impostos para o setor. Mas isso não desanima o enólogo Burak Demirel, confiante no potencial do “gigante turco adormecido”.

 “Há uma geração jovem de produtores e enólogos turcos que estão pesquisando muito, na vanguarda de novos desenvolvimentos. O futuro dos vinhos e espumantes turcos é promissor”, garante. Demirel.

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