São grandes os avanços do Brasil e do mundo em relação à Aids. Prova disso são a medicação moderna e sem efeitos colaterais; a expectativa de vida igual ou até superior à de pessoas não infectadas; o tratamento oferecido pelo SUS; e os medicamentos antirretrovirais para não infectados. Porém, permanecem tabus e preconceitos envolvendo o tema. 

Evaldo Stanislau Affonso de Araújo, embaixador da Inspirali, ecossistema de educação médica do país, atribui o problema ao fato de muita gente acreditar que a infecção pelo HIV é sentença de morte. 

“O preconceito é complexo. As pessoas acham que quem se infectou o fez porque teve algum tipo de comportamento moralmente condenável. Porém, a infecção pode ocorrer com qualquer um que não tenha adotado prática sexual, não importa de que tipo, que o torne vulnerável à infecção”, afirma. 



Na opinião do especialista, se investirmos na prevenção e na educação de forma consistente, será possível cumprir os planos da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que HIV-Aids deixe de ser problema de saúde pública até 2030. A seguir, ele explica dúvidas sobre o tema. 

Como o vírus é transmitido?

Por meio de fluídos corpóreos produzidos na relação sexual, por sangue e derivados contaminados. E das grávidas para os filhos durante a gestação ou após o parto. Atualmente, sangue e derivados utilizados por bancos de sangue e em terapias regularmente realizadas no Brasil estão 100% seguros, devido a testes utilizados. Não transmitem o vírus as gestantes e pessoas vivendo com HIV que estejam sob terapia regular e com o vírus indetectável. 

Há pessoas mais suscetíveis a contrair Aids?

Todos estão suscetíveis à infecção, mas há crescimento maior entre os jovens. São mais vulneráveis homens que fazem sexo com homens, a população trans, privados de liberdade e usuários de drogas com compartilhamento de utensílios para o consumo. Utilizando medidas de prevenção adequadas, o risco é controlado. Portanto, o conceito de “grupo de risco” é inadequado. O que existe é a vulnerabilidade associada e exposição potencial sem medidas de proteção.

Quais são os principais sintomas?

A infecção evolui, em geral, de forma assintomática. Por isso, recomenda-se a testagem periódica como prevenção, pois o diagnóstico precoce permite o tratamento e a preservação da saúde. O tratamento deve ser iniciado o quanto antes após a confirmação diagnóstica. Ele é simples e seguro. Pode ser feito com a ingestão de apenas um ou dois comprimidos ao dia. No Brasil, o tratamento é completamente gratuito e fornecido pelo SUS. 

Já existe cura?

Existem casos de cura. Mas essa cura se deu de forma excepcional e impraticável para ser feita em larga escala. Mas podemos dizer – entre aspas – que existe a “cura clínica”. Ou seja, quem se trata corretamente tem expectativa de vida igual e até maior à de pessoas não infectadas pelo HIV.

Como evitar a doença?

Por meio da prevenção combinada. Só a camisinha é insuficiente. Embora muito eficaz, ela precisa ser utilizada corretamente. Infelizmente, os números comprovam que o uso é inconsistente. Por isso, o uso de medicamentos antirretrovirais para não infectados é importante. Se isso ocorre antes de relações sexuais, é o que chamamos de profilaxia pré-exposição, do inglês PrEP. Se o uso é feito após a relação, iniciado até 72 horas após uma exposição potencial, dá-se a PEP. A PrEP e a PEP, com suas variáveis, mudaram a história da prevenção e estão disponíveis para quem precisar em fornecedores privados ou, repito, gratuitamente no SUS. Realizar a testagem frequente também faz parte da prevenção.

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