A oftalmologista Márcia Reis Guimarães, diretora da Fundação do Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães, alerta: a maioria dos pais nem sabe, mas milhares de crianças têm problemas com leitura e aprendizagem devido ao processamento visual. Isso ocorre com uma a cada sete delas.
O agravante é a criança não compreender que é anormal letras tremerem ou embaçarem, ter fotofobia e coceira nos olhos, além de dificuldades em esportes com bola. Como aquilo é comum para ela, nem reclama com os pais ou professores. Com isso, acaba se tornando estudante com dificuldade para manter a atenção e o foco, tem frequentes dores de cabeça ou enxaqueca, além de cansaço.
A Síndrome de Irlen, também chamada de Síndrome da Sensibilidade Escotópica, é desconhecida por grande parte das pessoas, embora 14% da população mundial apresentem essa condição. A origem é hereditária.
Há mais de 30 anos a doutora Márcia trabalha com o diagnóstico desta doença, também capacitando pais e professores em cursos sobre a chamada neurovisão.
Os sinais mais comuns são fotofobia, enjoos, ardência ocular e alterações na orientação visuoespacial. “Há dores nos olhos e cabeça, junto de ansiedade e irritação, principalmente no fim do dia, em decorrência do esforço acumulado para conseguir finalizar as atividades e as obrigações cotidianas”, alerta Márcia Guimarães.
Pais e professores devem ficar atentos, pois os principais sinais podem ser percebidos ainda na fase infantil, principalmente quando a criança está em processo de alfabetização. Ela demonstra dificuldade para ler e compreender o que está escrito, o que compromete o aprendizado a médio e longo prazo.
Segundo Márcia, os efeitos pioram à medida que os anos passam e a quantidade do conteúdo escolar fica maior. As atividades estudantis, a cada ano, requerem mais tempo para execução e, assim, as dores se tornam mais frequentes. O jovem não consegue acompanhar o restante da turma e diminui o interesse pelos estudos, o que interfere no emocional e na autoestima.
Muitos casos são descobertos nas salas de aula, quando professores percebem as dificuldades do aluno e comunicam aos pais a necessidade de ajuda especializada para identificar o problema.
O diagnóstico é multiprofissional. Pode começar na escola, com os professores, e segue com psicólogos e oftalmologistas capacitados para identificar a causa com testes, como o screening ou rastreamento, ou pelo protocolo padrão, chamado de Método de Irlen.
Em Belo Horizonte, a Fundação do Hospital de Olhos oferece dois cursos sobre a síndrome, um para leigos e outro para profissionais da educação e saúde. Informações podem ser obtidas no site https://fundacaoholhos.com.br/