Não pulo carnaval. Gosto muito de samba e já brinquei muito quando era criança e adolescente.
Minha mãe me levava ao baile infantil do Minas Tênis Clube, e a diversão era fantasiar, ficar pulando e jogando confete e serpentina. Foi uma luta aprender a jogar a serpentina de forma que ela voasse longe, e amava a bisnaga, para jogar água nas pessoas, e o martelinho que fazia barulho. Passeávamos de carro pela cidade e íamos espremendo a bisnaga e molhando todo mundo, e ninguém se importava. Isso não existe mais, pelo menos o confete e a serpentina perduraram.
A Avenida Afonso Pena era toda decorada com motivo carnavalesco e era lá que havia os desfiles dos blocos caricatos e das escolas de samba. E a gente ia assistir, ou simplesmente passeava durante o dia, rindo, brincando e molhando quem passasse por nós.
Acredito que se hoje alguém ficar na porta de casa jogando esguicho de água em quem passar, é capaz de dar briga, das feias, e talvez até a polícia ser chamada. As pessoas estão em nível de tolerância zero. Muita gente ainda não se acostumou, ou não aceitou, que Belo Horizonte agora tem Carnaval.
Tenho uma amiga que é enlouquecida pela folia de Momo e por décadas foi para Salvador para curtir a festa por lá. Primeiro porque sempre foi muito animado, com os trios elétricos e camarotes, segundo porque tinha a facilidade de sua irmã morar na capital baiana. Agora o papel se inverteu, e é sua irmã e o marido que estão vindo para BH, para curtirem o Carnaval daqui.
Para falar a verdade, a única coisa que me incomoda por aqui é o mau cheiro nas ruas, porque as pessoas se aliviam em qualquer lugar, e o fato de até hoje não conseguirem criar rotas de fuga para moradores conseguirem sair de suas casas ou receberem socorro em caso de emergência, principalmente emergência médica.
Voltando às memórias, me senti uma adulta quando, com 12 para 13 anos, fomos ao baile adulto do Minas e do Automóvel Clube. Meu pai sempre foi muito animado e como eu tinha dado uma espichada grande, ele viu que conseguiria me levar, apesar da idade. Fizemos programa momesco de família. Ficava todo mundo dançando em círculo, ao som das tradicionais marchinhas de carnaval. Não sei quanto tempo ficamos ali, mas me senti muito importante.
Tínhamos uma turma de amigas do Colégio Izabela Hendrix, éramos muito unidas. Eu era colega da Undine Campos de Freitas e da Angelina Moraes, hoje Moreira, e como as duas tinham irmãs com idades muito próximas, faziam parte da turma, e as amigas delas também. Então havia as irmãs da Undine, Márcia e Junia; e a da Angelina, Dora. E havia outra Márcia, a Soares Guimarães, filha da professora e autora de livros didáticos de português Magda Soares.
Era uma turma inseparável e animadíssima. D. Horalda, mãe da Undine, era apaixonante e não tinha tempo ruim com ela. Topava tudo, fazia tudo para agradar e ainda dava ideias. Morava na Praça Marília de Dirceu, em uma casa linda e grande e, uma vez por mês, fazia uma hora dançante para nós. E enchia de adolescentes. Dr. Júlio, o marido, ficava lá, na maior paciência, aguentando aquele entra e sai de gente e tomando conta, discretamente. Era uma farra. Cada semana dormíamos – todas – na casa de uma de nós. Era divertidíssimo.
Voltando ao carnaval, todo ano a animada D. Horalda nos incentivava a fazer um bloco. E nós não negávamos fogo. Criávamos o tema, a fantasia e ela fazia tudo acontecer. E nos levava aos bailinhos, ou ficávamos ali mesmo, na porta da casa dela, e fazíamos a festa. Claro que com direito a música, porque ela ligava o som na maior altura, colocava os discos e a gente só na diversão.
Saudade, pena que a vida nos leva a caminhos diferentes e perdemos contato com pessoas que foram tão presentes em nossa vida. Ficam as lembranças na mente e no coração. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)