Outro dia, escutei um relato que seria cômico, não fosse trágico. A irmã mais velha de um colega de trabalho, com 82 anos, vinha há algum tempo dizendo que queria morrer. Outra irmã, mais nova, faleceu há três meses, e ela reivindicava sua vez – afinal, é mais velha, a outra não poderia passar na frente.
Pois bem, na sexta-feira passada, ela começou a sentir uma forte dor. Dizia ao marido que nunca havia sentido nada igual. Ele – muito desagradável, segundo a família – respondia com ar blasê: “Uai, mas não vive falando que quer morrer?”. Ao que ela respondeu: “Pedi para morrer, não para ter esta dor”.
Nesse meio tempo, já tinha chegado a cunhada chamando ambulância, providenciando ida para o hospital, chegada de filhos, exames, etc. E o marido repetindo, insistentemente, sua provocação a cada reclamação da esposa, até que a cunhada resolveu chamá-lo às falas e silenciá-lo, antes que se arrependesse amargamente.
A dor era no peito, irradiava pelo braço e ia até o quadril. Depois de vários exames, foi constatado um pequeno AVC. Tudo indicava que após correr a medicação no soro, ela receberia alta. De repente, tudo apita, entra a equipe de socorro e ela se vai, vítima de parada cardíaca. A família está triste; ela, provavelmente, muito feliz. E o marido, talvez, arrependido.
Tinha pressão alta? Tudo indica. Afinal, AVC e problema no coração são sinais de pressão alta, doença silenciosa. Como dizem os médicos, hipertensão é um dos inimigos invisíveis da saúde.
Hipertensão arterial (HA), mais popularmente conhecida como pressão alta, é doença crônica, não transmissível e chega de maneira silenciosa. Na maioria das vezes, por ser assintomática, só é percebida quando aparecem lesões em órgãos essenciais como coração, rins, cérebro, retina e vasos sanguíneos.
Segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 38 milhões de pessoas sofriam de pressão alta no Brasil em 2021. Dados de 2022 da Organização Pan-Americana de Saúde, mostram que as doenças cardiovasculares (DCV) são a principal causa de morte nas Américas. A hipertensão arterial é responsável por mais de 50% delas. Cerca de 25% das mulheres adultas e quatro em cada 10 homens adultos têm hipertensão no continente americano.
Adoção de hábitos saudáveis, como melhora da alimentação e prática de exercícios físicos regulares, é a principal mudança para quem quiser controlar a doença. Obesidade, fatores genéticos, estresse e envelhecimento estão associados à hipertensão.
“O estilo de vida ativo e saudável traz benefícios como, por exemplo, manter o peso apropriado”, afirma o cardiologista Rizzieri Gomes. “O emagrecimento traz a redução da pressão arterial causadora de doenças como AVC e infarto, de gordura no fígado. Associado com exercícios físicos, reduz crises de enxaqueca e alivia dores articulares”, explica.
Excesso de sal, alimentos industrializados, defumados, processados, ultraprocessados, ricos em gorduras, bebidas ricas em açúcares e adoçantes, além de temperos prontos precisam ser evitados.
“As escolhas que fazemos para nos alimentarmos determinam o estado de saúde do corpo todo. Para se ter uma vida melhor, o segredo é equilíbrio. Comer de maneira saudável, sem muitos excessos, pois os alimentos ingeridos têm o poder de manter a saúde do coração, do corpo e da mente em dia”, recomenda o doutor Rizzieri. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)