Férias iguais a essas que estão no fim, nunca tive. Desde que me entendo, férias sempre significavam viagens, quase sempre para fora do país. O resultado era prestar atenção em tudo e, na volta, passava as descobertas mais interessantes para os leitores. Desta vez, foi completamente diferente e, para completar o paradeiro, padeço de uma tonteira que médico nenhum consegue definir e acabar com ela.
O resultado foi uma temporada doméstica, que passei com leituras e filmes na TV. Reler livros nesta quadra da vida na qual me encontro é uma mágica. Começo sempre pelos mais antigos, que ninguém mais conhece ou ouviu falar. Como “Coração”, de Edmundo de Amicis, cuja 50ª edição foi lançada em 1962, e que leio e releio sempre que posso.
Gosto de mergulhar nos bons sentimentos dos personagens italianos, com casos e ações que não existem mais nos dias de hoje. Gosto tanto que, em priscas eras, indo a Milão, entrei em uma livraria e perguntei pelo livro. O espanto foi total, os vendedores não conseguiam entender como uma brasileira procurava livro tão antigo, que há muito havia saído de circulação. Tanto procuraram que acharam o livro, que tenho até hoje. Divido então a leitura entre italiano e português, é ótimo.
Os livros tão antigos nos oferecem imagens de um tempo que existiu mas já passou, em muitos leitores não deixam sequer lembranças. E, para quem gosta da literatura americana como eu gosto, ninguém entende que goste de reler esse tipo de literatura doce e ultrapassada. Vale a pena, porque acalma, alivia.
Em contrapartida, há o outro lado. E um dos livros que gosto sempre de reler é “Diários de Berlim 1940-1945”, de Marie Vassiltchikov. A autora vive em Berlim e, em pequenos textos, vai relatando, com muito conhecimento, os bastidores da operação que planejava assassinar Hitler. E que não funcionou, já se sabia. Mas, nos relatos que a autora faz dá para avaliar como era a vida na capital da Alemanha, nos dias mais terríveis da Segunda Guerra Mundial.
Do fundão de Minas Gerais, o que se previa, pela leitura dos jornais, era um tempo de penação e dor. Mas, pelo dia a dia dos textos, o que se lê é um tempo tão normal como qualquer outro, com uma vida social calma. Pelos acontecimentos relatados, encontros, coquetéis, viagens a outros países e outros fatos diários aconteciam normalmente, a guerra que comia solta não atrapalhava a vida dos berlinenses.
Essa outra visão local do que acontecia em países europeus durante a guerra nos leva a relembrar o que passamos, regulando as viagens com receio de bombardeios, dosando o pão com medo da falta de farinha. O livro nos coloca bem dentro dos conhecimentos despertados por um tema dos mais trágicos da história contemporânea – que nos chegava através da imprensa.
A TV nos premia com um relato local e persistente, que não existiria se a população fosse consultada. Essa disputa se preso tem direito a saída para comemorar fatos nacionais com a família é uma tolice sem fim. Lugar de preso é cadeia e cumprimento de pena, como pensa a maioria da população.
Esses falsos sentimentos de piedade com ladrões e assassinos são uma tolice. Basta pensar o que pensa uma pessoa agredida ou roubada por outra. A vítima quer sempre que a agressora pague pelo que fez. A baboseira da “saidinha” é um recurso barato de burlar a lei. Ficar discutindo o assunto “ad infinitum” é uma tolice e uma falta de assunto sem fim.