O Dia da Mentira, celebrado internacionalmente em 1º de abril, tornou-se o tradicional dia das pegadinhas. Mas, e quando a mentira vai além de uma brincadeira? Um estudo da Universidade Federal do Ceará reforça a máxima do filósofo alemão Friedrich Nietzsche: a mentira é a “conservação da espécie humana”.

 

Segundo pesquisa da Universidade da Virgínia (EUA), quanto mais conexões uma pessoa tiver, maior o potencial de mentir. A pesquisa descobriu que, ao longo de uma semana, as pessoas mentem aproximadamente um quinto do tempo para 30% de suas interações sociais.



Apesar da frequência de mentir ser praticamente igual entre os gêneros, os propósitos mudam: mulheres costumam mentir para agradar ou evitar ferir os sentimentos alheios. Já os homens costumam mentir sobre si mesmos, para impressionar os outros.

 

“Desde cedo, em todas as culturas, somos ensinados a mentir, uma vez que a mentira é um ato instintivo e funciona como uma estratégia de preservação social”, afirma Juliana Santos Lemos, psicóloga clínica, especialista em psicopatologia e terapia cognitivo-comportamental pela PUC-RS.

 

Mesmo assim, há bons motivos para condenar a mentira, segundo Monica Machado, psicóloga, fundadora da Clínica Ame.C, e pós-graduada em psicanálise e saúde mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.

 

“Independentemente do tipo de mentira e dos fatores envolvidos, é fato que muitas pessoas têm uma facilidade maior que outras para mentir, sem deixar margem a dúvidas. Elas manipulam de tal forma que não há como questionar suas versões”, completa a host do podcast Ame.Cast.

 

Segundo estudo publicado na “Nature Neuroscience”, quanto mais inverdades uma pessoa conta, mais fácil e frequente se torna mentir. Os resultados também indicaram que o interesse próprio parece alimentar a desonestidade. Embora o estudo não tenha analisado especificamente a mentira patológica, ele aponta algumas das habilidades de um mentiroso em potencial:

 

Frequência leva à excelência: segundo a psiquiatra Danielle H. Admoni, pesquisadora e supervisora na residência de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, quem mente com frequência torna o hábito cada vez mais normal.

 

“O indivíduo que conta mentiras o tempo todo não precisa de tanto esforço para manter o controle emocional, monitorar a reação do outro e lembrar das histórias falsas que são contadas. Ou seja, ele já chegou ao ponto de criar narrativas convincentes com muita naturalidade”, frisa a psiquiatra.

 

Relação com personalidade: segundo Juliana Santos Lemos, ter mais habilidade para mentir pode estar relacionado com a personalidade do indivíduo. “Por exemplo, pessoas impulsivas, arrogantes e criativas, ou seja, aquelas com imaginação vívida para interpretar e distorcer a verdade, costumam ter mais sucesso com as mentiras.”

 

Inteligência emocional apurada: pessoas com inteligência emocional têm mais capacidade para identificar os agentes estressores à sua volta e saber como agir diante deles. “Por outro lado, indivíduos com baixo coeficiente emocional tendem a revelar com mais facilidade sua tensão em determinadas situações, podendo até ter sua veracidade questionada”, afirma Monica Machado.

 

Falta de comprometimento moral: a moralidade é a barreira que impede a maioria das pessoas de mentir sem escrúpulos e com mais frequência do que poderiam, explica Juliana Lemos. “Entretanto, o que mais vemos é a falta de ética e integridade, a ponto de a pessoa passar por cima dos seus próprios valores”.

 

No extremo dessa escala, encontram-se os psicopatas e/ou sociopatas, indivíduos manipuladores, frios e calculistas, que mentem de forma muito elaborada e não poupam esforços para atingir seus objetivos. “Contudo, dentro de limites moderadamente elevados de desinibição ou desengajamento moral, há várias pessoas ‘comuns’ que conseguem distorcer a realidade a seu favor ao interpretar seu próprio comportamento de maneira egoísta ou egocêntrica”, pontua Juliana Santos Lemos.

compartilhe