O surgimento dos primeiros pelos, o desenvolvimento de mamas e mudanças no corpo e nas características físicas são sinais do início da transição entre a infância e a adolescência. Geralmente, é esperado que a puberdade aconteça entre 8 e 13 anos em meninas, e dos 9 aos 14 nos meninos. Quando esses sinais são evidentes e ocorrem antes dessa faixa etária, eles evidenciam a chamada puberdade precoce.
O endocrinologista pediátrico Sonir Rauber Antonini, que vai presidir o 9º Encontro Brasileiro de Endocrinologia Pediátrica, explica que não há apenas uma causa dessa antecipação. “A puberdade precoce pode estar relacionada a fatores genéticos e ambientais ou ser consequência de outras doenças, como tumores. Estudos recentes indicam a relação entre antecipação da puberdade com o tempo excessivo do uso de telas e baixa atividade física”, afirma.
Pesquisa da Universidade de Gênova, na Itália, publicada pelo Journal of the Endocrine Society, aponta o aumento dos casos de puberdade precoce após a pandemia. Os pesquisadores avaliaram 133 meninas italianas e foram encontrados 72 casos de puberdade precoce antes da crise sanitária (janeiro de 2016 a março de 2020) e 61 casos entre março de 2020 e junho de 2021. Na média mensal, o número se ampliou de forma expressiva, com até novos quatro casos por mês.
Esse será um dos temas do 9º Encontro Brasileiro de Endocrinologia Pediátrica, que será realizado de 20 a 22 de junho, em Brasília. “A pandemia trouxe o aumento do estresse e do uso de telas, mudanças na alimentação, isolamento social e pausa nas atividades físicas. Tudo isso tem se constituído em hipóteses que vêm sendo estudadas e relacionadas com o crescimento dos casos de puberdade precoce no mundo. Durante o encontro, teremos especialistas que abordarão em profundidade esse tema”, ressalta Antonini.
Em meninas, os sinais incluem desenvolvimento das mamas, crescimento de pelos pubianos, aumento acelerado de estatura e início precoce da menstruação. Em meninos, os sinais podem ser o crescimento dos testículos, aumento do pênis, crescimento de pelos pubianos e faciais, além do engrossamento da voz e crescimento muito rápido, com alta estatura.
Uma das consequências da puberdade precoce é o crescimento acelerado, que pode resultar em estatura final menor do que a esperada.
“Quando o processo de puberdade é ativado muito cedo, pode ocorrer crescimento rápido e precoce dos ossos, levando ao fechamento prematuro das placas de crescimento nos ossos longos. Isso pode resultar em um período de crescimento mais curto do que o esperado e, consequentemente, em estatura final abaixo da média esperada para aquela família”, explica Sonir Antonini.
O diagnóstico precoce é vital para evitar essas consequências. O tratamento padrão envolve administração de medicamentos que interrompem e até levam à regressão da progressão da puberdade, bloqueando os hormônios responsáveis.
Em alguns casos, a causa pode ser tumor no sistema nervoso central ou em órgãos periféricos como as glândulas adrenais, testículos ou ovários. Nesse caso, o diagnóstico precoce é ainda mais importante. É importante observar o desenvolvimento da criança e, a qualquer sinal anormal, procurar imediatamente um especialista.
“Existem medicamentos criados para bloquear a produção de hormônios da puberdade, situação relativamente fácil de se tratar. Não é só questão de devolver a característica emocional dessa criança para a infância, mas de preservar várias consequências físicas, emocionais e psicológicas do paciente”, ressalta Antonini.