A dengue é uma ameaça real à população brasileira. Os últimos dados do Ministério da Saúde revelam que o país registra 3,8 milhões de casos prováveis da doença e 1.792 óbitos confirmados pela enfermidade nos quatro primeiros meses de 2024. As pessoas já perguntam entre si: “Já teve dengue?”. A resposta: “Ainda não, estou esperando”.

 



 

Semana passada, recebi uma informação bem preocupante do médico Ricardo Guimarães, do Hospital de Olhos, e que muitos ainda desconhecem: a dengue também atinge a visão. Veja a seguir o texto que ele enviou:

 


“A picada do mosquito pode, de alguma forma, causar modificações oculares, algumas até mesmo graves. A condição não é recorrente, mas existem riscos e cerca de 2% das pessoas apresentarão algum sintoma. O motivo é que o olho possui barreiras vasculares, formadas de células endoteliais e moléculas, protegendo a entrada de diferentes vírus, inclusive o da dengue. No entanto, em determinados casos, o agente infeccioso consegue romper esse obstáculo e causar infecção.

 


O vírus penetra nos olhos pela conjuntiva (membrana que cobre a área branca do globo) ou a córnea (na frente do olho, protegendo-o e cuidando da formação da visão). A ação pode afetar, principalmente, a retina, o nervo ótico e a úvea, elevando o risco para hemorragias, inflamações e a trombose venosa.

 


A ameaça para a retina está nos danos causados às células endoteliais dos vasos sanguíneos, localizadas na parte posterior, transformando o estímulo luminoso em nervoso, enviando-o para o cérebro para que as imagens sejam lidas. Dessa forma, uma hemorragia pode acontecer, a partir do momento em que ocorre um aumento da permeabilidade vascular e o extravasamento de plasma e células sanguíneas.

 

Fiquem atentos aos principais sintomas: fortes dores, fotofobia (sensibilidade à luz), presença de manchas no campo de visão e a visão embaçada, inclusive, pode levar à cegueira. Ainda existem diferentes complicações para essa hemorragia, incluindo o descolamento de retina, podendo causar a perda da visão e, por isso, precisa ser tratada rapidamente.

 

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A neurite óptica se desenvolve no nervo óptico, sendo uma inflamação. O principal sintoma é a perda da visão, com potencial irreversível, visto que, a função do nervo é conectar os olhos ao cérebro, processando as imagens. O risco de descolamento de retina também existe, devido à possibilidade de acúmulo de fluido entre a retina e a coroide, uma camada vascular entre a parte branca do olho e a retina.

 


A trombose atinge os membros inferiores e também gera riscos para a visão, porque causa a oclusão da veia central, levando o corpo a ampliar a produção de anticorpos e, consequentemente, causando um depósito nas paredes internas das artérias e vasos, provocando inchaços na retina e até a cegueira.

 


Todas essas complicações são consideradas graves, principalmente para idosos, portadores de doenças como diabetes e hipertensão, e as grávidas. A pessoa passa pelo procedimento padrão no consultório, ou seja, exame oftalmológico de rotina, com análise especial da retina. Determinados casos requerem ainda uma tomografia de retina.

 


O tratamento é definido conforme cada caso, não existindo uma medicação específica para combater a manifestação ocular da dengue. Os colírios anti-inflamatórios são indicações frequentes para casos leves e, para os graves, corticoides e anticoagulantes.

 

As hemorragias são mais delicadas e um procedimento chamado fotocoagulação a laser é a melhor solução para controle, sendo rotineiro em consultórios para casos ligados a doenças vasculares, evitando também, o descolamento de retina.”

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