Sempre me chamaram a atenção as notícias sobre pessoas comuns, desconhecidas, que abdicavam de seu descanso e de momentos de lazer para fazer ações isoladas de melhoria em canteiros, terrenos e praças perto de suas casas. Ficava admirada com a dedicação e abdicação delas. Considerava-as um exemplo, e pensava como o bairro, a cidade e o mundo seriam diferentes se mais cidadãos fossem assim.
Sempre que nos referimos à palavra cidadania, encontramos explicações como esta: “A cidadania é o termo que designa o conjunto de direitos e deveres de um indivíduo. São exemplos de cidadania o direito ao voto livre e a liberdade de expressão. A função da cidadania é contribuir para a participação ativa dos indivíduos na sociedade. O exercício pleno da cidadania promove a participação das pessoas em diversos setores da comunidade, havendo assim a construção de uma sociedade democrática. Logo, a importância da cidadania remete à transformação social, por meio da participação cidadã.” Sempre colocando como ponto principal e quase único a questão política.
Para mim, cidadania vai além. É colocar o bem comum em primeiro lugar e atuar sempre que possível para promovê-lo, é cuidar do bem comum, é respeitar o outro, é saber que temos direitos, mas também temos deveres. É ter a consciência de que o nosso direito termina quando começa o direito do próximo.
Morava no Bairro Gutierrez, em uma rua calma, em frente a duas castanheiras enormes, lindas. A paisagem mudava ao longo do ano. Primeiro era a época das folhas verdes, depois a mudança de coloração, que passava do avermelhado ao laranja, amarelado, aquele tom outonal belo, até que todas as folhas caíam e ficava o tapete.
Tenho de confessar: era lindo, mas dava muito trabalho para limpar, porque era preciso varrer duas a três vezes ao dia. E tinha a época da queda das castanhas exigindo cuidado, porque a lei da gravidade fazia muito bem o seu trabalho. A força com que a danadinha vinha dava para machucar bastante.
Isso sem contar os buracos no passeio por causa da força das raízes. Era síndica do prédio e chamei um engenheiro para restaurar a calçada. Pedi-lhe para preservar ao máximo a árvore. Foi quando escutei uma pérola: “Não prefere arrancá-la? Damos uma injeção e ela morre de um dia para o outro, porque a raiz vai continuar a crescer e pode causar problemas no prédio.”
Nunca ouvi absurdo maior. Claro que recusei a oferta, agradeci , nunca mais o procurei. Restauramos o passeio e a árvore continua lá, linda, cheia de miquinhos, castanhas e alguns morcegos.
Em dezembro, me mudei para o Sion. Moro agora em frente a uma praça redonda, pequena, com alguns bancos. Agradável. Outro dia, recebi no grupo de WhatsApp do prédio uma mensagem sobre a rifa para ajudar na festa junina da praça. Fiquei admirada. Os vizinhos organizam um arraial comunitário.
Domingo passado, desci para passear com a cachorrinha e havia quatro pessoas ali, fazendo mosaico nos canteiros. Elogiei o trabalho e rapidamente me convidaram a ajudar. Arregacei as mangas e ajudei. Mas como jornalista que sou, sempre estou atenta a tudo. A mulher no “comando” do trabalho recebeu uma ligação e, entre as orientações que deu, disse que veria a pessoa no dia seguinte, no Mater Dei.
Fiquei admirada. A médica abriu mão dos raros momentos de descanso para embelezar a praça em frente de nossas casas. A pracinha está linda, tem “casinha biblioteca” com livros que as pessoas podem pegar emprestado e depois devolver, ou ler ali, enquanto curtem o sossego e a tranquilidade.
Isso, para mim, é a verdadeira cidadania. A união das pessoas por um bem comum. É fazer o bem, não importa a quem. Ou melhor, é fazer o bem para todos, para ninguém, para qualquer um, porque qualquer pessoa pode desfrutar daquela praça. Vai receber um pouco do amor colocado ali pelos moradores que se empenham em construir um lugar melhor e mais bonito para se viver. Espero que isso sirva de inspiração para muitos, como serviu para mim. (Isabela Teixeira da Costa/ Interina)