Muitas pessoas estão ligando para saber por que a jornalista Anna Marina não está assinando a coluna nos últimos dias. Perguntam logo se está de férias. Geralmente, explico, logo na primeira coluna que escrevo, o motivo da substituição, o que não fiz desta vez.
Peço desculpas pelo silêncio e conto aqui o motivo. Aconteceu, sim, uma coisa: teimosia, “doença” que afeta a maioria das pessoas e pode ter sérias consequências.
Quem segue Anna Marina deve saber bastante da vida dela, mas para quem está chegando agora, vou dar uma pincelada. Foi a primeira mulher jornalista da imprensa mineira. Entrou para o Diário da Tarde – vespertino dos Diários Associados em Minas – a convite do amigo Freddy Chateaubriand, em 15 de junho de 1958, como cronista.
Desde então, rompeu fronteiras, quebrou normas de comportamento impostas pela sociedade às moças da tradicional família mineira. Por exemplo: na época em que todas saíam de casa usando luvas, foi uma das primeiras coisas que Anna aboliu, para desespero de sua mãe, Lygia.
Enturmou-se com os colegas de trabalho, porém sem nunca perder a classe e a elegância. Em agosto de 1966, passou a assinar esta coluna no Estado de Minas, quando foi criado o caderno de Cultura, na época chamado 3ª Seção. Nunca mais parou.
Em 1969, criou o Caderno Feminino, que mais tarde passou a se chamar Feminino & Masculino, editado por ela até hoje. Vale ressaltar que foi o primeiro jornal da imprensa nacional a ter um caderno exclusivo para falar de moda, decoração e temas de interesse da mulher. Foi – e é – um sucesso. Anna sempre trabalhou nos dois jornais ao mesmo tempo, até o fechamento do DT.
Ela sempre teve caneta afiada. Nunca deixou de emitir sua opinião, defender pontos importantes. Sua sinceridade e transparência, a personalidade forte e marcante levaram todos a lhe respeitar. Inúmeras grifes de roupas, marcas de calçados e empresas de decoração, entre outras, são hoje destaque no país por causa do apoio que receberam de Anna Marina.
A personalidade forte deu a ela uma grande teimosia. E teimosia leva o ser humano a achar que sabe tudo, que se conhece profundamente e tem consciência de todas as suas capacidades. É nesta hora que acidentes ocorrem, porque a idade chega, mas não nos conscientizamos de que as limitações chegam com ela.
Os leitores devem se lembrar da queda que ela sofreu em 2022. Achou que, ao sair do carro distante do meio-fio, conseguiria alcançá-lo, evitando pisar na poça d'água. Não conseguiu, o que resultou em queda e fratura na vértebra L11, deixando-a de cama por sete meses.
Desde então, foi pedido que usasse o apoio de uma bengala para andar. Sempre que sai de casa, leva a “companheira”, mas continua sofrendo de teimosia. Em casa, dispensa a bengala – afinal, conhece o piso, os degraus, cada milímetro. Há cerca de 15 dias, caiu no caminho do jardim. De noite, teve um episódio de tonteira, estava sem a bengala e sofreu outra queda. Fraturou a vértebra L2.
Está passando bem, em casa, em repouso. Não podemos nos esquecer de que está com 89 anos, o que demanda um pouco mais de tempo para se recuperar.
Desde a queda recente de Anna Marina, escrevi duas colunas sobre riscos para idosos e volto a tocar no assunto. Por favor, pessoas com mais de 65 anos, cuidem-se. Só usem calçados que prendam o calcanhar; eliminem tapetes; andem com bengala e, se necessário, andador; tomem banho sentados; levantem-se da cama aos poucos – sentem-se primeiro, para depois ficarem de pé.
Enquanto ela não retorna, estaremos aqui, tentando substituí-la à altura. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)