As escolas brasileiras nunca se importaram muito com alunos disléxicos. O que parece é que os profissionais – incluindo os de escolas particulares – não têm expertise para identificar o problema, ao contrário, colocam tudo no balaio de atraso de aprendizado. Isso traz problemas sérios para os alunos que os acompanham para o resto da vida, inclusive na vida adulta, ou seja, na vida profissional.

 



 

Com isso, muitas pessoas só descobrem que possuem esse tipo de condição quando são adultas, depois de anos de dificuldades em tarefas que exigem leitura e escrita. A falta de conhecimento sobre o transtorno é uma das causas que leva a diagnósticos tardios, afetando as relações sociais e até mesmo o desempenho no trabalho. Com cerca de 7,8 milhões de pessoas com dislexia no Brasil, o que representa aproximadamente 4% da população, identificar o quanto antes seus sintomas se torna crucial para que seja fornecido o suporte adequado.


Segundo Juliana Amorina, diretora-presidente do Instituto ABCD, instituição referência em dislexia e transtornos de aprendizagem no Brasil, detectar a dislexia na fase adulta pode ser mais complicado do que na infância, quando as dificuldades são mais visíveis. Em adultos, elas podem ser mascaradas por estratégias desenvolvidas ao longo dos anos. Existem relatos de pessoas em que o transtorno compromete a velocidade de leitura, a compreensão de textos complexos, a escrita coerente e a capacidade de seguir instruções escritas detalhadas. Entre as principais formas de descobrir a dislexia na fase adulta estão:


1. Leitura: levar em consideração, por exemplo, se a pessoa tem dificuldade em compreender adequadamente o sentido de um texto; se há uma demora maior do que o normal para ler um texto ou se existe a necessidade de reler várias vezes o mesmo texto para que seja compreendido. Com uma análise aprofundada, com ajuda de especialistas, é possível ter um diagnóstico preciso, permitindo estratégias de intervenção eficazes que ajudarão a entender melhor como lidar com as dificuldades de aprendizado associadas à dislexia.


2.Escrita: identificar se a pessoa tem alguma resistência em enviar mensagens em texto ou dificuldade na escrita ao trocar letras, apresentar esquecimento ou confusão em relação à pontuação e gramática e até mesmo o uso de letras maiúsculas fora do lugar são sintomas que podem revelar se um adulto tem dislexia. A escrita é muito importante em todas as etapas de nossa vida, por isso, é necessário realizar adaptações que ajudem a melhorar tanto a leitura quanto a escrita, tornando não só o ambiente de trabalho mais inclusivo, mas ajudando até em tarefas simples como uma receita de algum prato ou para ler uma história para o filho.


3.Memória de curto prazo: outro ponto de atenção é entender se a pessoa confunde frequentemente números de telefone, tem dificuldades em realizar contas simples de cabeça ou possui dificuldade no planejamento, organização e manejo do tempo. Essas condições afetam os disléxicos que passam por muitas dessas dificuldades durante a vida. Além de interferir no trabalho, essas dificuldades podem resultar em atrasos frequentes, bem como levar a pessoa a fazer contas erradas na hora de receber um troco, por exemplo.


Para minimizar os problemas e melhorar a qualidade de vida, é necessária uma maior compreensão sobre os desafios desse transtorno, inclusive para evitar sentimentos de inadequação que afetam a autoestima e a saúde mental das pessoas com dislexia. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)

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