Das doenças da tireoide, o hipotireoidismo é a mais frequente no Brasil, afetando de 8% a 12% dos brasileiros, principalmente mulheres e idosos. “O hipotireoidismo é uma condição na qual a glândula tireoide não produz hormônios tireoidianos suficientes. Entre 10% e 15% das pessoas com hipotireoidismo tratado apresentam sintomas persistentes, apesar de atingirem níveis normais de hormônio tireoidiano, e as causas subjacentes não são claras”, explica Deborah Beranger, endocrinologista com pós-graduação em endocrinologia e metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ).

 

 




Nova pesquisa publicada em abril no The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism começa a encaixar as peças para entender isso: segundo o trabalho, pessoas de personalidade tipo D com hipotireoidismo geralmente se sentem insatisfeitas com os resultados do tratamento. “A personalidade tipo D é caracterizada por pessimismo, preocupação, estresse, emoções negativas e retraimento social. Às vezes, está associada a um mau estado de saúde e carga de sintomas, mas esta associação ainda não havia sido previamente estudada em pessoas com hipotireoidismo”, acrescenta a médica.

 

 

Os pesquisadores do estudo atual entrevistaram mais de 3.500 pessoas com hipotireoidismo tratado e autorrelatado, e descobriram que mais da metade dessas pessoas tinha personalidade tipo D. Eles fizeram perguntas para entender melhor sua qualidade de vida e por que alguns pacientes estavam insatisfeitos com os resultados do tratamento.

 

“Pessoas com hipotireoidismo e personalidade tipo D podem apresentar resultados de tratamento mais negativos do que aquelas sem personalidade tipo D, segundo o estudo. Há duas hipóteses: a personalidade tipo D e o hipotiroidismo partilham causas subjacentes semelhantes ou as pessoas com personalidade tipo D podem perceber os resultados do tratamento de forma mais negativa”, diz Deborah.

 

 

Os pesquisadores confirmaram que alguns pacientes com hipotireoidismo estavam insatisfeitos com seus cuidados e apresentavam sintomas persistentes e inexplicáveis. “Esse grupo se queixava de apresentar níveis particularmente elevados de ansiedade, depressão, insatisfação com o tratamento, sintomas persistentes e baixa qualidade de vida”, detalha a médica.

 

A endocrinologista explica que mais pesquisas são necessárias para confirmar as descobertas e determinar se é possível prever como os pacientes recém-diagnosticados com hipotireoidismo responderão ao tratamento com base em traços de personalidade.

 

 

“Mas, de qualquer forma, é importante que o médico endocrinologista identifique esses sinais e encaminhe o paciente ao profissional de saúde mental para que ocorra realmente uma melhora da qualidade de vida deste paciente”, enfatiza Deborah. A médica ainda acrescenta: “É fundamental entender o contexto do paciente para que os tratamentos realmente promovam a melhora esperada”.

compartilhe