Muitas pessoas só conseguem se manter aquecidas no inverno quando os pés estão quentes. Minha mãe faleceu em outubro do ano passado. Ela morava em nosso sítio, em Santa Luzia, onde faz muito frio. Mesmo com aquecedor ligado e meias de lã, seus pés e mãos não esquentavam. Ficamos muito preocupados, porque as extremidades dos dedos ficavam roxas. Colocamos bolsa de água quente e, claro, levamos para ela meias e luvas forradas com pele animal.
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Agora fiquei sabendo que isso pode não ter relação apenas com o clima, mas com problemas vasculares. Para algumas pessoas, temperaturas mais baixas, ou até mesmo amenas, representam desconforto maior, principalmente nas extremidades do corpo.
É preciso ficar atento quando meias, luvas e cobertores não funcionam. Primeiro, é necessário compreender o que ocorre com o corpo. Geralmente, vasos sanguíneos se estreitam, reação que faz parte da defesa natural do organismo.
A cirurgiã vascular Allana Tobita explica que a vasoconstrição é a primeira reação da circulação ao frio, exatamente para diminuir a perda de calor corporal e manter a temperatura basal. A Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBAVC) informa que há pessoas que podem ter extremidades geladas mesmo em clima ameno ou quente. Isso se deve à pouca ingestão de água ou no caso de obesos, hipertensos, diabéticos e tabagistas, por exemplo.
O período mais frio também aumenta o risco do agravamento de doenças vasculares. A doutora Allana diz que a vasoconstrição pode ser um gatilho para vasculites, mudança de coloração do membro, dormência nas polpas digitais e até obstrução ou entupimento vascular, por conta da redução do fluxo sanguíneo.
Por isso, esta época de inverno é o momento em que se registra o maior índice de infartos e eventos cardiovasculares, pois a redução do diâmetro da parede vascular leva à menor oferta de fluxo sanguíneo.
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Na época do frio, é bom ficarmos atentos a sinais persistentes nas extremidades do corpo. As mãos podem mudar de coloração, temporária e transitoriamente, de forma fisiológica, mas devem voltar ao normal após aquecidas. Mãos permanentemente frias podem gerar lesão vascular, como obstrução e entupimento de microvasos, além de isso causar danos na pele, muscular ou nervoso.
Não é normal quando a coloração da pele se altera de forma persistente, ficando escurecida, arroxeada ou pálida. A alteração pode ser associada ou não à perda de sensibilidade ou até ao surgimento de dor local, com diminuição da mobilidade.
Se a pessoa tem doença vascular diagnosticada, deve ficar atenta às dores repentinas em uma das pernas; aparecimento de inchaço, peso e cansaço nos membros inferiores; presença de hematomas; escurecimento da pele; dor ao caminhar; perda de sensibilidade do membro; cãibras; queimação nas pernas ou planta dos pés; e à perda de pelos nos membros.
Se os sintomas não passarem com o aquecimento tradicional, por meio de luvas, cobertores, meias ou aquecedores, é aconselhável consultar o médico. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)