Quando o assunto é tratamento para perda de peso, atualmente existem dois grandes destaques: a cirurgia bariátrica e os medicamentos análogos de GLP-1, popularmente conhecidos como “canetas emagrecedoras”, como o Ozempic e o Wegovy.

 




Mas há uma nova opção no horizonte: um tratamento endoscópico que tem como objetivo promover uma ablação, isto é, queimar o revestimento do estômago para reduzir a produção de grelina, conhecida como o hormônio da fome.

 


“O procedimento tem como foco o revestimento do fundo gástrico, que é a parte superior do estômago, onde é produzida a grelina, principal responsável por controlar o apetite”, explica Deborah Beranger, endocrinologista com pós-graduação em endocrinologia e metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.

 


“Tal hormônio é liberado quando essa parte do estômago está vazia, gerando a sensação de fome. Conforme o fundo gástrico é preenchido, a produção de grelina cai e a fome diminui. Então, queimar o revestimento do fundo gástrico levaria a uma redução da produção de grelina e, logo, do apetite, com consequente perda de peso”, diz a médica.

 


Os testes clínicos ocorreram em um período de seis meses com 10 mulheres obesas, reduzindo o peso em mais de 7%, a capacidade estomacal em 42% e os níveis de grelina em jejum em 40%. Além disso, as pacientes afirmaram que seu apetite diminuiu em cerca de um terço.

 


“A produção de grelina, uma das diversas vias hormonais envolvidas na obesidade, tende a aumentar com a perda de peso, tornando difícil manter resultados. Então, se provado realmente seguro e eficaz, esse novo método pode ser uma opção não cirúrgica e rápida para somar ao tratamento da obesidade”, destaca a médica.

 


O diferencial do procedimento está no fato de atuar sobre a grelina de maneira não cirúrgica, o que até então não era possível. “Medicações para obesidade, como o Ozempic e o Wegovy, atuam sobre uma via hormonal diferente da grelina, um hormônio chamado GLP-1, que é produzido pelo intestino e, entre outras funções regulatórias, é responsável por comunicar ao cérebro que estamos alimentados, gerando a sensação de saciedade”, diz Deborah.

 

 

Mas a especialista afirma que mais testes ainda são necessários antes que o procedimento possa ser amplamente utilizado, principalmente para entender sua eficácia a longo prazo. “Pelos resultados dos primeiros testes clínicos, a perda de peso é menor em comparação a outras métodos disponíveis atualmente. Também precisamos saber se a redução dos níveis de grelina permanece após, por exemplo, 12 meses dos procedimentos”, diz.

 


“Em cirurgias bariátricas, também há uma redução da grelina devido à ressecção de mais de 50% do estômago. Porém, esses níveis voltam ao normal após cerca de 9 a 12 meses. O mesmo ocorreria com o revestimento do fundo gástrico? É uma questão que ainda precisa ser respondida.”

 


A médica diz que também há preocupação com a segurança, visto que o fundo gástrico é a região mais fina do estômago, além de ser altamente vascularizada e adjacente a diversos órgãos vitais. “Mais testes são necessários. Apesar disso, é ótimo ver novas opções para tratamento da obesidade que podem servir como uma alternativa para pessoas que não se sentem confortáveis ou não possuem indicação para outros tipos de tratamento, inclusive com vantagens sobre a cirurgia bariátrica, como o menor trauma e de recuperação”, afirma.

 

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