Tomei conhecimento, recentemente, de uma parceria interessante entre a Academia Mineira de Letras (AML) e o movimento Quem Ama Não Mata. Até novembro, serão realizados encontros mensais para discutir temas de interesse da mulher, com palestras e debates.

 


Pelo que me contaram, o evento é de grande importância, principalmente nesta época em que a violência contra a mulher tem aumentado significativamente.

 


O movimento Quem Ama Não Mata foi criado em Belo Horizonte, em agosto de 1980, ainda durante a ditadura militar. As mortes de Heloísa Ballesteros e Maria Regina Souza Rocha, assassinadas pelos maridos, deram origem ao ato que reuniu 400 mulheres na escadaria da Igreja São José, no Centro de BH.

 



 


“Quem ama não mata” foi o slogan utilizado em 1981, no segundo julgamento de Doca Street pelo assassinato da mineira Angela Diniz, em Búzios, em 30 de dezembro de 1976. Mulheres não aceitaram o argumento da defesa – crime passional em legítima defesa da honra – e se posicionaram em frente ao fórum, com faixas, gritando: “Quem ama, não mata!”.

 


O resultado daquela mobilização e do clamor popular foi a condenação do réu a 15 anos de prisão, após o reconhecimento do homicídio doloso qualificado.

 

Veja trailer do filme "Angela":

 

 

 


Reorganizado, mas ainda mantendo entre suas lideranças a jornalista Mirian Chrystus, o movimento luta pelo fim de todas as formas de violência e violação dos direitos das mulheres, declarando-se feminista e antirracista.

 


A próxima palestra ocorrerá no sábado (10/8), das 10h às 11h30, no auditório da AML (Rua da Bahia, 1.466, Lourdes), com o tema “Violência e masculinidades: desafios da cultura”. A mesa de debates vai reunir a socióloga e jornalista Elizabeth Maria Fleury-Teixeira, o psicanalista Felipe Lattanzio e o juiz Marcelo Gonçalves de Paula. A entrada é gratuita, a partir das 9h30.

 


“A ideia é debater a naturalização da violência de gênero, ensinada, de geração a geração, por meio do desprezo a valores ligados ao feminino e do receio de perda da identidade masculina”, comenta Mirian Chrystus.

 


Quais seriam as origens de tanta violência de homens contra mulheres – não só aquela mostrada pela mídia, mas, principalmente, a que ocorre anonimamente no cotidiano doméstico? O senso comum se acostumou a explicações de ordem econômica e até biológica, o excesso de testosterona.

 


Como demonstra pesquisa nacional realizada pelo Instituto Data Senado em 2023, 68% das brasileiras têm amiga, familiar ou uma conhecida que já sofreu violência doméstica.

 

O abuso predominante é a violência física, reportada por 89% das entrevistadas.

 

Uma linha de pensamento vem se impondo: a violência é socialmente construída, reflexo do aprendizado iniciado na infância e reforçado ao longo da vida.

 

O objetivo da palestra é compreender o fenômeno da violência contra as mulheres como processo cultural, que constrói a identidade masculina com base num paradoxo: a relação de desigualdade entre os sexos, conferindo poder e privilégios aos homens, e, por outro lado, o medo de que essa masculinidade se desvaneça no contato com o outro.

 

“O resultado é uma rigidez de corpo e mente, a par com a violência: o horror diante da possibilidade de perda da identidade sexual. Mas, assim como há o aprendizado da violência, o processo pode ser revertido e homens agressores aprenderem a lidar com a alteridade, de forma que os beneficiários da mudança sejam os envolvidos e a própria sociedade”, diz a jornalista Miriam Chrystus. (Isabela Teixeira da Costa/ Interina)

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