Vinha trazendo minha semana com um pouco de agonia, por causa de pequenos problemas que sempre acontecem aos domingos, quando recebi uma trombada e tanto: meu primo querido e colega, João Bosco Martins Sales, havia morrido pela manhã. A notícia era a complementação de um estado que eu já sabia, ele estava internado, incomunicável. Mesmo assim, tratava de visitar com meu outro primo, Mário Tamm, que também era primo dele. Combinávamos uma maneira de vê-lo, mesmo à distância, pois ele estava com pneumonia. E como era uma doença séria, ele devia ficar isolado. E no reforço dos exames, descobriu-se mesmo que ele estava com câncer no pulmão.
Ele era meu primo próximo, mas diferentemente dos outros, não tivemos muito contato na época, só quando viemos a nos encontrar diariamente aqui, na redação do Estado de Minas, quando subiu da revisão para ser repórter de Polícia do EM, mais tarde foi transferido para a editoria de Política, da qual se tornou editor em 1990.
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Discretamente trocávamos figurinhas na área de Cultura – área pela qual era apaixonado – para produzir matérias que marcaram época. Em 1992, assumiu a Editoria Geral do EM, posto ocupado por meu marido Cyro Siqueira por décadas. Ele ocupava seu lugar com conhecimento e cultura, desafiando discretamente quem não acreditava que soubesse o que sabia, porque não era ''falastrão”. Sua vizinhança comigo era bem saudável, porque era meu posto de pesquisa com resposta correta e rápida.
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Outra mania daquele tempo era que nas homenagens prestadas a figuras ilustres tinha sempre danças, elas não podiam faltar. Ele fazia questão de ser discreto, não abusava da profissão para fazer uma vida do tipo vai da valsa. Então, quando eu estava presente, dançávamos – danças mais sossegadas que chamavam menos atenção.
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Gostava muito de frutas, principalmente as rústicas brasileiras. E gostava muito de frutas grandes, como o araticum, que adorava. Levava as maiores que encontrava no Mercado Central e nós dois dávamos cabo dele em pouco tempo, para espanto dos outros repórteres da redação, que não podiam acreditar que alguém gostasse de araticum aquele tanto. Nós gostávamos – e nesse pé de discrição íamos levando a vida, ele às vezes embrulhado pela quantidade de matérias que recebia, todo mundo queria fazer parte do caderno de Política que ele editava.
Nesse clima de conhecimento, muitos amigos e muita calma era que rodava Mário Tamm. Apesar de ter raízes luzienses, João Bosco não conhecia a cidade. Mas era apresentado a ela pelos casos contados por Mário, que conhecia tudo e todos. Então, entre um caso tradicional, de família, daqueles que rendem mil e outros casos, do folclore da cidade, João Bosco ia recolhendo vontade de ir conhecendo a cidade – para conhecer tudo. Foi-se na santa paz do senhor, com nossa saudade. E com minha ausência, porque estando prejudicada no caminhar, não pude acompanhá-lo em sua última viagem.