A chuva não chega – como o inverno que também desapareceu. Tanto que sumiu com ele as divulgações das roupas e acessórios da época. Em lugar das roupas da estação, o que se vendia era puro verão. Do meu lado a falta de chuva atacou duplamente, sem molhar meu jardim. Para dar um só exemplo, o pé que dá fruta do tamanho de uma manga deu frutas do tamanho de um petit-pois.
Tenho um pé de jabuticaba em meu jardim, presente do então governador Hélio Garcia, meu amigo pessoal. Quando compramos nossa casa nova, eu e meu marido fazíamos questão de um pouco de terra para fazermos uma hortinha. A casa tinha muita terra à vista, sem nenhuma grama plantada. O morador, que trabalhava com o governador da época, era carioca e, como ia voltar para o Rio, não fazia questão de “embelezar terra dos outros”.
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Como eu conhecia há muito tempo o pé da fruta que seria arrancada porque a avenida onde ela estava plantada seria alargada, fiz o mesmo caminho do outro pé, fui pedi-lo ao governador. E para que não sentisse, fui acompanhar a retirada do pé, marcando todas as direções, com indicações de lado, de posição, para que a muda, já grande, não sentisse a mudança. E ela agradeceu, tem dado frutas deliciosas.
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Como eu gosto de algumas frutas, como a manga ubá, creditei que este ano fosse a mesma coisa, quando vi a mangueira coberta de flores, de cima abaixo. Só que a chuva que tem parte importante nesse crescimento não apareceu, o resultado foi bem diferente. A manga, que sempre tem tamanho normal, cresceu do tamanho de uma goiaba pequena.
Perdi minha ida a Santa Luzia, minha terra, para aproveitar as frutas recém-apanhadas, que são ótimas. Pouca gente se importa com esse sabor especial de fruta recém-colhida, mas ele é verdadeiramente diferente. Preste atenção em quem compra no mercado, roda a fruta por todos os lados escolhendo visivelmente a fruta que cresceu virada para o sol, que tem mais sabor.
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Acho muita graça da relação brasileiro e fruta – não é uma relação muito constante, como estrangeiro tem. Suco de laranja no café da manhã é mais do que comum por aqui, mas é uma cópia de americano. Até onde dá para ver, pelas bandas de cá, o abacaxi é especial, até onde dá para especular é a fruta mais consumida pelos brasileiros e é por isso que sua produção aumenta.
Por que no café da manhã daqui não se serve o suco de abacaxi? No Mercado Central tem um ponto de venda da fruta, com vários tamanhos e preços. Comprava lá toda semana – mesmo a banca ficando fora do caminho habitual –, até que descobri outra mais próxima, com o abacaxi do mesmo preço.
Mesmo com a falta de chuva ainda me impressiono com a riqueza do nosso país tropical, que continua, mesmo na seca, com fartura das frutas sem perder o sabor. E continuo na torcida, junto com todos os brasileiros, pela chegada das chuvas.