Elefantes apreciam a fruta africana marula, que adquire teor alcoólico quando é fermentada. Isso pode ocorrer no estômago do animal
 -  (crédito: Pixabay/reprodução)

Elefantes apreciam a fruta africana marula, que adquire teor alcoólico quando é fermentada. Isso pode ocorrer no estômago do animal

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Várias espécies animais têm o etanol na dieta, normalmente proveniente de frutas fermentadas, seiva e néctar.

 


Os humanos podem ter transformado a bebida em vício, mas quando se trata de animais que ingerem álcool, o Homo sapiens não é exceção, informam os cientistas.

 

 


Pesquisa mostra que esta substância está presente em quase todos os ecossistemas, tornando provável que a maioria dos animais que se alimentam de frutas açucaradas e néctar consumam regularmente a substância intoxicante.

 

 


Embora muitas criaturas tenham evoluído para tolerá-lo e ganhar pouco mais do que calorias com seu consumo, algumas espécies aprenderam a se proteger do álcool. Outras, no entanto, parecem menos capazes de lidar com seus efeitos.

 


“Estamos nos afastando da visão antropocêntrica de que o álcool é usado apenas por humanos. Na verdade, o etanol é bastante abundante no mundo natural”, diz Anna Bowland, pesquisadora da Universidade de Exeter, na Inglaterra.

 


Depois de vasculhar pesquisas sobre animais e álcool, cientistas chegaram a um “grupo diverso” de espécies que se adaptaram ao etanol em suas dietas, por meio de frutas fermentadas, seiva e néctar.

 


O etanol se tornou abundante na Terra há cerca de 100 milhões de anos, quando plantas floridas começaram a produzir frutas açucaradas e néctar que a levedura podia fermentar. O teor é baixo, em torno de 1% a 2% de álcool por volume (ABV). Porém, em frutas de palmeira bem maduras, essa concentração pode chegar a 10% ABV.

 

 

Estudo mostra que chimpanzés selvagens no Sudeste da Guiné foram flagrados por câmeras se empanturrando de seiva alcoólica de palmeiras de ráfia. Macacos-aranha da Ilha Barro Colorado, no Panamá, apreciam a fruta-da-câmara-amarela carregada de etanol, que contém de 1% a 2,5% de álcool.

 


“Estão crescendo as evidências de que os humanos não estão 'bebendo' sozinhos”, garantem pesquisadores em artigo publicado no periódico científico Trends in Ecology and Evolution. Se esse consumo leva à embriaguez, é outra questão.

 


Porém, histórias de animais embriagados são abundantes – de elefantes e babuínos bêbados depois de ingerirem a fruta marula em Botsuana ao alce encontrado com a cabeça presa numa árvore na Suécia após comer maçãs fermentadas. Em nenhum desses casos o álcool foi medido nos animais ou na fruta.

 


Há bichos que parecem ter tolerância ao álcool. Apesar do consumo prodigioso de etanol dos musaranhos-de-cauda-de-caneta, cientistas não encontraram evidências de que os animais ficaram intoxicados. Porém, admitem que não está claro “como um musaranho-de-árvore embriagado se comportaria”.

 


Animais que comem regularmente alimentos fermentados tendem a metabolizar o álcool rapidamente, sem sentir os piores efeitos da substância. Mas aqueles que ingerem etanol com menos frequência podem sofrer as consequências.

 


Testes em asas-de-cera-de-cedro, que morreram ao bater em cercas e outras estruturas, apontaram que elas voavam “embriagadas” depois de se empanturrar com frutas maduras da aroeira brasileira.

 


Talvez os efeitos mais marcantes do álcool se dêem em insetos. A mosca-das-frutas macho recorre à substância diante da rejeição por parte da fêmea.

 

No mundo dos insetos, há fêmeas que se tornam menos exigentes em relação ao companheiro e fazem sexo com mais machos depois de “beber”. Moscas-das-frutas depositam ovos em alimentos ricos em etanol, protegendo-os de parasitas.

 

Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv descobriram que vespas orientais podem ser os únicos animais capazes de consumir quantidade ilimitada de álcool sem sofrer efeitos nocivos da substância.

 


“Elas ingerem até 80% de solução de etanol sem quaisquer efeitos negativos em sua mortalidade ou comportamento”, informa a pesquisadora Sophia Bouchebti.