

Memórias da dor na Alemanha e em Israel
Fui a um campo de concentração e visitei casas onde viveram famílias que se escondiam dos nazistas. Chorei como condenada no santo sepulcro, em Jerusalém
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A data facilitou as coisas, mas o caderno especial publicado aqui no Estado de Minas sobre os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial me serviu de consolo por não ter produzido uma coluna sobre o assunto. Guardei o caderno entre as coisas que conservo como temas prediletos. Tenho lembranças tristes dos crimes contra a humanidade cometidos pelos nazistas e não perco oportunidade de enriquecer meu estoque.
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Na Alemanha, fui a um campo de concentração e visitei a pirâmide construída em Berlim para receber pequenas coisas largadas naqueles locais sinistros, principalmente por jovens. Havia várias formas de entrar em contato com os participantes da pirâmide, como telefones pessoais e endereços.
Objetos do dia a dia eram deixados nos centros de detenção nazistas – de peças femininas, como calcinhas e sutiãs, a lenços com monogramas pessoais, alguns com restos de sangue e pus.
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Tenho obstinação por visitar esses locais. Fui a casas onde viveram famílias escondidas dos nazistas, a cemitérios onde algumas poucas vítimas foram enterradas por parentes no fim da guerra. Terminava aos prantos, junto a cruzes das sepulturas de pessoas que nunca vi na vida.
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Quando estive em Israel, visitei o suposto santo sepulcro montado em uma basílica. Quem queria evitar as filas imensas podia entrar em uma sala especial, de portas fechadas, com muitos padres e outro sepulcro de mármore no meio.
Eu sabia, claro, que era uma simples encenação. Meu marido presbiteriano não tinha um pingo de paciência com aquilo, mas me acompanhou na sala alternativa. Ajoelhei-me junto ao sepulcro para chorar e chorar. Os padres não sabiam o que fazer. Quem esperava na fila batia na porta fechada, e eu lá, chorando como uma condenada.
Os padres me deram várias bênçãos e saí por uma porta alternativa, para evitar possíveis agressões de quem aguardava na fila.
Mais choro rolou, ainda em Israel, quando cumpri a incumbência de minha mãe: descobrir a casa de Nossa Senhora, onde ela tivesse morado em qualquer tempo, e trazer de lá uma rosa como lembrança. Levei horas e horas procurando o caminho. Primeiro, tentei no hotel, depois no comércio, finalizando com alguns padres que me deram, mais ou menos, o rumo.
O taxista que nos levou pensou que éramos dois brasileiros doidos procurando um lugar onde ninguém costumava ir. Chegamos a uma região muito habitada, lá me deram mais ou menos a localização da casa de Nossa Senhora. Curiosamente, havia no local outros turistas com a mesma busca. Entrei, olhei tudo e colhi a flor no jardim, como prova de minha tenacidade.
Estávamos na porta da casa esperando o táxi voltar, quando um rapaz atravessou a rua e veio conversar conosco. Era paulista. Nos levou ao núcleo de imigrantes brasileiros onde morava, contou como era vida por lá. A divisão da alimentação começava com o pão do café da manhã. Mostrou a plantação de rosas que eles cultivavam. Tudo na maior paz de Deus.
Tive vontade de largar tudo e ficar por lá...