O caso de racismo ocorreu apenas um dia após a baluarte ser homenageada em Brasília, no Dia da Consciência Negra. -  (crédito: Reprodução)

O caso de racismo ocorreu apenas um dia após a baluarte ser homenageada em Brasília, no Dia da Consciência Negra.

crédito: Reprodução

Na última terça-feira (21), dona Vilma Nascimento, ex-porta-bandeira da Portela, de 85 anos, enfrentou uma situação de abordagem racista enquanto estava na loja Dufry Brasil no Aeroporto Internacional de Brasília. A filha de dona Vilma, Danielle Nascimento, compartilhou a situação, documentando o momento em que a mãe teve sua bolsa examinada por uma fiscal de segurança.

 


É importante ressaltar, que durante a abordagem, a fiscal foi instruída por rádio a revistar a bolsa de dona Vilma. Esse constrangedor episódio ocorreu no meio da loja, diante de outros clientes, deixando dona Vilma "surpresa, revoltada e envergonhada", nas palavras de sua filha. Apesar das perguntas de Danielle, a fiscal se recusou a responder. A filha de Vilma tentou chamar a polícia, mas, sem assistência, a família teve que deixar o local para não perder o embarque no portão 43.

 


No dia anterior à abordagem racista, dona Vilma recebeu uma homenagem na Câmara dos Deputados. A ex-porta-bandeira foi destaque em uma sessão solene em celebração ao Dia da Consciência Negra. Ela desfilou pelo corredor do plenário, abrindo caminho para a exposição "Pensamento Negro no Brasil: uma Conexão Ancestral", a qual possui um painel dedicado a ela.

 


Dona Vilma concedeu entrevista ao O Globo e falou sobre o assunto: “um vexame, porque a loja tinha cliente olhando, e eu tirando tudo da minha bolsa do lado de fora, colocando tudo para fora e ela olhando — contou a porta-bandeira ao RJ2: — Eu negra estar lá no Congresso, os deputados todos me aplaudindo, vindo falar comigo, me beijando, me agradecendo por estar lá. Foi lindo mesmo. E depois eu passar essa vergonha no aeroporto? Eu acho isso um absurdo, porque tem tanta gente que rouba, de outra cor. Só perseguem o negro.”

 


Diante dessa situação absurda de racismo, qual foi o pronunciamento e atitude da empresa Dufry Brasil? Escrever a seguinte nota:


“A Dufry Brasil, uma empresa do Grupo Avolta, pede publicamente desculpas pelo lamentável incidente ocorrido na loja do aeroporto de Brasília. A abordagem feita pela fiscal de segurança da loja está absolutamente fora do nosso padrão.

 

Em razão da falha nos procedimentos, a profissional foi afastada de suas funções. Este tipo de abordagem não reflete as políticas e valores da empresa.


A Dufry está reforçando todos os seus procedimentos internos e treinamentos, em linha com as suas políticas, para impedir que situações assim se repitam”.


Ou seja, trata-se de uma nota inadequada, que não se desculpa diretamente com a Dona Vilma e sua filha, e não menciona os nomes delas em momento algum. Além disso, na nota, a situação absurda de racismo é referida apenas como uma falha ("em razão da falha"), dando a entender que "foi um caso isolado".


A nota também revela que a empresa atribuiu a culpa pelo crime (sim, racismo é crime) à funcionária demitida. Onde está a responsabilidade da Dufry em apresentar as ações que já existem na empresa voltadas para diversidade e inclusão? Elas existem? A instituição mantém um programa de DEI&P? Existem ações efetivas de letramento racial na empresa? Além disso, quais ações a empresa vai adotar a partir de agora para que casos semelhantes não voltem a ocorrer?


Como mencionado anteriormente no artigo sobre racismo institucional nas empresas: não basta uma nota de repúdio! Infelizmente, muitas empresas "lidam" com a diversidade étnico-racial apenas quando é necessário publicar uma nota de repúdio.


Na prática, o que as empresas têm feito para reduzir as situações que levam à emissão de uma nota de repúdio?