Tenho certeza de que você já acompanhou algum caso de racismo que repercutiu nas mídias, onde a pessoa que praticou o racismo, ao ser confrontada, diz frases como: "Foi sem querer", "Não tive a intenção", "Não sabia que isso era racismo", "Tenho amigos negros, não posso ser racista", "Quem me conhece sabe que não sou racista", "Não percebi que era racismo", "Você está exagerando, aqui somos todos iguais".

Em junho deste ano, por exemplo, durante uma live, uma deputada federal por São Paulo, filiada ao Partido Liberal (PL), chamou a também deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e atual coordenadora da Secretaria da Mulher na Câmara dos Deputados, Benedita da Silva, de "Chica da Silva". Ela afirmou: "Eu não vou ter poder de fala. Eu não vou falar porque, provavelmente… não sei por que que eu não vou falar. Parece que já foi montada pela Secretaria da Mulher, [que é a] Chica da Silva [que vai falar]".

Chica da Silva, nascida Francisca da Silva de Oliveira, foi uma mulher escravizada que viveu em Diamantina, Minas Gerais, durante o século 18. Em vez de se referir a Benedita da Silva pelo nome, a parlamentar do PL acabou utilizando um nome que remete a uma mulher que foi escravizada. Para muitos especialistas, esse comportamento não pode ser analisado isoladamente, especialmente considerando o histórico da deputada do PL. Em 29 de outubro de 2022, ela perseguiu um eleitor de Lula, um homem negro, pelas ruas de um bairro nobre de São Paulo com uma arma na mão.

Quando soube do ocorrido, imaginei que a deputada do PL não demoraria a alegar que foi "apenas um equívoco" ao chamar Benedita da Silva de Chica da Silva. E, de fato, isso aconteceu. Em nota, a parlamentar do PL afirmou que cometeu um "equívoco" por lapso de memória e que se desculpou em uma conversa "amigável" com a petista, afirmando não ter havido qualquer intenção de ofensa.

Uma postura semelhante foi adotada por uma das participantes do BBB 2024 após ser expulsa da casa e questionada sobre a forma como tratou um colega de confinamento negro: "Eu nunca tive a intenção de ser racista em nenhum momento...".

Seja consciente ou inconsciente, manifestado em atos falhos ou não, no Brasil, situações de racismo são frequentemente seguidas de justificativas como essas: "não sou racista, apenas me confundi", "foi apenas um lapso", "não tive intenção", "tenho amigos negros, não posso ser racista", "quem me conhece sabe que não sou racista", e assim por diante.

O racismo se manifesta de diferentes formas, incluindo falas e posturas cínicas, dissimuladas e veladas, o que torna ainda mais difícil combatê-lo. Chega ao ponto de a pessoa alvo do racismo ser acusada de vitimismo ou "mimimi" ao denunciar e expor o racismo sofrido. Como a filósofa, escritora e pesquisadora Djamila Ribeiro já disse, o racismo no Brasil é um crime perfeito.

É crucial combater também as formas sofisticadas de racismo, as adaptações e o cinismo que muitas pessoas adotam para continuar sendo racistas.

E é sempre importante lembrar: racismo e injúria racial são crimes (Lei nº 7.716/1989).

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*Arthur Bugre é um especialista em Diversidade, Equidade, Inclusão e Pertencimento (DEI&P). Como palestrante, dedica-se a transformar ambientes de trabalho em espaços verdadeiramente seguros e inclusivos. Bugre é um homem negro retinto, trans e neurodiverso, trazendo uma perspectiva única e autêntica às suas abordagens.

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