Por Natália Sousa

 

Uma relação abusiva não começa de forma violenta. Quando conhecem seus parceiros, muitas mulheres têm a sensação de que estão vivendo uma espécie de conto de fadas da vida real. Sentem que suas necessidades são atendidas antes de serem verbalizadas, e, são, constantemente, surpreendidas com elogios, presentes e gestos carinhosos. Então, quando os abusos aparecem, a impressão é que eles são um acidente. Uma exceção. Na realidade, são os primeiros sinais de um ciclo de violência que já começou e que geralmente tem 3 fases, como explica o Instituto Maria da Penha.




 

Assista aqui: 

 


1ª fase: aumento da tensão


É a primeira fase do ciclo de violência. Nesse momento o companheiro fica tenso e irritado por motivos insignificantes. E extravasa a raiva de forma intimidadora - dando murros em paredes, fazendo ameaças, humilhando e controlando os movimentos da parceira. Muitas mulheres vivem isso em segredo, acreditando que o comportamento é reflexo de um problema externo, como um momento difícil no trabalho e falta de dinheiro. Como se a agressividade tivesse uma justificativa. 


Com medo de “gerar ainda mais problemas”, a vítima vigia o próprio comportamento e se culpa pelo que está acontecendo. A crença é que se tiver paciência, tudo vai passar em breve. Mas não. Essa situação pode durar dias ou anos e a tendência é que se agrave. E isso leva à próxima fase.

 


2ª fase: ato de violência  


É quando a tensão explode e leva a uma violência mais evidente. Nessa hora, o que era ameaça, vira realidade. “Pode ser uma agressão física direta, a destruição de algo valioso para a vítima - uma situação que desencadeia medo e crise de ansiedade”, explica a gerente do aplicativo Penhas dAzMina, Mari Leal. É nessa hora que vem o choque. O momento que muitas mulheres reconhecem que estão numa relação abusiva e tentam buscar ajuda em abrigos, delegacias ou em casa de amigos e familiares. O medo faz com que se afastem, e aí vem a terceira fase. 

 


3ª fase: a “lua de mel”


Nessa etapa, aquele homem agressivo muda da água pro vinho. É o momento que ele diz frases como: 


“não sei o que me deu”, 

“nunca quis te machucar”, 

“não sei o que vou fazer da minha vida sem você”

“perdi a mulher que eu mais amei”


Junto com isso vem presentes, gentilezas e surpresas. Ele parece fazer coisas que antes não gostava, como dividir os cuidados com a casa, ser presente nas finanças, tratar bem pessoas próximas. Muitas vezes a vítima aceita as promessas de mudança, com a  sensação de que o cara legal por quem ela se apaixonou está de volta. Se instala, então, um período de calma. Mas tudo não passa de manipulação. 


 

A fase da “lua de mel” não é o fim das agressões, só é uma pausa da violência mais óbvia.  Um jeito que o agressor encontra de convencer a vítima que agora será diferente. Mas é só ele se sentir no domínio de novo, que de repente o ciclo recomeça. Conforme o tempo passa, o intervalo entre as fases diminui e o comportamento do agressor fica cada vez mais violento - o que pode acabar em feminicídio. 


É preciso buscar ajuda e reconhecer que “a lua de mel” é parte de um ciclo, que não vai parar. Essa fase tem cara de amor, mas não é. O nome nem devia ser lua de mel (expressão romântica para os dias de prazer após o casamento). Chamar assim confunde algo que é bom, com aquilo que deveria ser um sinal de alerta. Quando a gente olha de perto, dar o mesmo nome para duas coisas tão diferentes é romantizar a violência.  

 

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No PenhaS, o aplicativo d’AzMina, é possível encontrar uma rede de acolhimento, informações e um mapa de fuga que ajuda mulheres a romperem o ciclo de violência.

 

*A reportagem original pode ser consultada no portal d'AzMina.

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