Um pai matou a filha de 8 anos dentro de casa em Niterói. Ele torturou Aoulath com golpes de cinto. Segundo ele, para corrigi-la, porque a menina havia pegado o objeto de um colega na escola e levado para casa. A tristeza de ler essa notícia deixa o ar que respiro muito pesado. A menina cometeu um delito. O pai se tornou um assassino. Arrependeu-se tarde demais, vai passar o resto da vida com essa culpa.

 

“Apanhei e não morri”, dizem as pessoas que querem justificar a violência contra as crianças. Você não morreu, mas tem criança que morre. E quem não morreu fisicamente, às vezes morreu por dentro e nem se deu conta. A violência deixa marcas, se não no corpo, na alma. É preciso parar de normalizar a violência contra crianças. Já existe a lei da palmada, mas é preciso que as pessoas entendam que não é por causa de lei que criança não deve apanhar.

 

 

Nas mídias sociais sempre vemos pessoas dizendo que os pais de hoje estão muito permissivos, que não corrigem (leia-se agridem) seus filhos. Sim, existe também a permissividade, a tendência que temos de ir para os extremos quando deveríamos buscar o caminho do meio.

A criança que mente, que pega um objeto que não lhe pertence, o faz por sentir alguma falta. Pode mentir por necessidade de agradar, acreditando que será melhor aceita. Pode pegar um objeto de outra pessoa porque achou bonito. Crianças precisam de adultos para orientá-las a dizer o que é certo e o que é errado. Mas não com punição, e sim com acolhimento. Aliás, todos nós precisamos ser acolhidos.

Nossos filhos precisam ser ouvidos, precisam ter seus sentimentos validados. Precisam ser orientados sobre o que é certo e o que é errado por meio da palavra e não pela violência. Eu sei, às vezes a gente perde a paciência, às vezes eles ficam chatos demais, bravos demais, chorões demais. Mas crianças e adolescentes ainda têm dificuldade de se autorregular.



Quem já tem o cérebro formado e é plenamente capaz de se regular somos nós, adultos. Como vamos querer que nossos filhos consigam controlar suas emoções, se nós reagimos com explosões de raiva? É preciso parar para respirar. Controlar a nossa raiva, romper o ciclo da violência.

Quando os pais me dizem que os filhos estão insuportáveis, que estão descontrolados, que não sabem lidar, eu repito um provérbio chinês que diz: “Me ame quando eu menos merecer, pois é quando eu mais preciso.”

Quando eles estão mais difíceis, mais desafiadores, é quando eles mais precisam do nosso amor. Nossa tendência natural é nos afastarmos, mas precisamos nos aproximar. Nem é preciso dizer nada, só estar perto, sentar ao lado em silêncio, como quem diz: eu estou aqui por você. Se acolha. Acolha seus filhos.

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