Filhos são como pipas, na infância vamos montando a pipa, papel, varetas, cola. Podemos usar qualquer tipo de papel, podemos usar qualquer vareta, mas precisamos nos lembrar que, se a pipa ficar muito pesada, vai ficar difícil empiná-la. Precisamos de materiais leves, estáveis. Sim, leveza e estabilidade são o segredo de uma pipa bem-sucedida.
A pipa pode ter uma cor única, mas vai ficar mais feliz se for colorida. Um azul melancólico, um amarelo alegre e ensolarado, um vermelho irado, um verde calmo. Todas as cores são importantes na criação da sua pipa, todas as cores precisam ser validadas.
Uma chuva de lágrimas pode ajudar a fortalecer a estrutura, assim como a energia de um banho de sol. Até o branco de medo, um roxo envergonhado ou um cinza melancólico podem fazer parte da paleta.
Na puberdade a pipa está montada, você já pode prender a rabiola e amarrar a linha do carretel. Sua pipa está pronta para voar. Não é todo dia que a pipa vai poder voar, o céu precisa estar limpo, precisa ter uma brisa, mas não pode ser ventania, o ambiente deve estar seguro para que ela possa treinar seus primeiros voos.
Atenção no céu, na sua pipa, sem esquecer de olhar para o chão, atenção para não focar demais na pipa e se esquecer de você para não cair em um buraco ou tropeçar em uma pedra. Você deve ir soltando a linha aos poucos, sem pressa, pequenos voos de treinamento e aprendizado. Se preparando para os voos mais longos e mais distantes que a pipa precisa fazer.
Na adolescência, a pipa pode perder a cor e recuperá-la com a mesma facilidade; são oscilações normais de quem está alçando seus primeiros voos. O desafio é saber quando dar mais linha, quando a puxar de volta. Entender que às vezes é preciso pegar um pouco de chuva ou aguentar firme quando o vento chega forte.
Algumas vezes, a pipa vai sentir aquela rajada de vento e vai ter vontade de ir embora com ele, querendo que a linha se arrebente. Outras vezes o vento não vai levar sua pipa para o lado que você quer, vai levar para perto da rede elétrica e vai te apavorar. Respire fundo e se acalme para conseguir fazer o movimento certo e não perder sua pipa nesse momento, se você agir por impulso, se perder o controle num acesso de raiva ou desespero, vai acabar deixando a pipa se embolar nos fios de eletricidade.
Em algum momento, ela vai querer que você dê mais linha e você vai precisar deixar o carretel girando. O encontro com outras pipas também será inevitável e embolar as linhas é um processo natural, elas vão se embolar e se desembolar dançando no céu, alguém segura a linha da outra pipa do outro lado com as mesmas preocupações que você.
Em algum momento, a linha pode arrebentar, corra para resgatar sua pipa, é possível remendar a linha, é possível trocar o papel rasgado, trocar as cores, mas demanda muito esforço e dedicação, e até ajuda de pessoas mais experientes. Pipas também se deprimem e podem precisar de ajuda profissional.
O importante, ao cuidar de uma pipa, é saber que a linha é a sua conexão com ela, que com o tempo ela vai voar para longe, passar dias sem ser avistada. Ela se sentirá segura sabendo que a linha está ali e que, sempre que ela precisar voltar, será acolhida.