Por Marcela Bracarense

 

No dia 4 de agosto, perdi uma amiga, uma mulher muito forte e que lutou muito pelos direitos do seu filho. Esse é um resumo de um texto que ela escreveu em 2013.


“Ninguém vai fazer ultrassom esperando que algo de errado seja descoberto. Eu não estava preparada para o que aconteceria naquele dia. Aparentemente, o bebê apresentava um posicionamento anormal dos pés. Apesar de tentar manter a calma, uma onda de mal-estar tomou conta de tudo. Senti com extrema intensidade o que é ser mãe, responsável pela vida iniciada dentro de mim.


Buscamos informações por todos os meios sobre o que significava aquele posicionamento anormal dos pés do nosso bebê. As ultrassonografias seguintes confirmaram que ele era um menino, mas também confirmaram que ele nasceria com uma deformidade chamada pé torto congênito - PTC, e que afetava seus dois pés. Os estudos científicos nos diziam que a incidência é de 1 em cada 1.000 nascimentos!

 

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Naquele ano, eu atuava como professora referência para uma turma de crianças de 4 anos. Liguei o aparelho de som e as músicas foram tocando até que começou uma que dizia: “Meu corpinho é um presente, sobre ele há tanto para aprender... vou crescendo e descobrindo tudo o que ele pode fazer”. Precisei pedir licença e sair da sala. Chorei intensamente por alguns minutos, ainda ouvindo a música que tocava meu coração. Senti-me valente e grata pela oportunidade de me superar nessa experiência e receber um filho que também precisaria superar-se a cada dia. Nossa responsabilidade de receber Augusto e seus pezinhos iniciava por preparar a sua chegada da melhor maneira. Buscaríamos todo o conhecimento que fosse possível.


Visitamos ortopedistas e estudamos técnicas e métodos, apesar de leigos. Escolhemos a que mais nos parecia confiável: tratamento pelo Método de Ponseti. Adaptamos o enxoval e nossa casa para recebê-lo com seus gessinhos. O ortopedista já estava eleito e aguardando nosso contato para iniciarmos o tratamento o quanto antes. O início da correção dos pés era indicado para os primeiros dias do recém-nascido.

 




Nesse período, conheci a Família PTC. Mães e pais que trilhavam esse caminho e compartilhavam suas experiências, criando um movimento de ajuda mútua. Os relatos, dicas, a superação constante de cada família e as palavras de incentivo mudaram a nossa relação com o PTC.


Augusto iniciou seu tratamento com quatro dias de vida, usou seis gessos longos bilaterais, que eram trocados semanalmente, após manipulação dos pés e reposicionamento. Gradualmente, seus pés foram sendo corrigidos e mantidos pelos gessos.

 


Com 45 dias, ele foi internado, após passar por todos os exames pré-operatórios. Foi realizada uma tenotomia do tendão calcâneo nos dois pés para completar a correção. Ele já saiu do bloco cirúrgico com seus últimos gessinhos.


Para evitar recidiva, deveríamos usar a órtese de abdução (consiste em botas abertas na frente, amarradas por fivela e cadarço, e conectadas a uma barra metálica) 23 horas por dia por três meses, apenas retirando para um banho. Os dois pés tinham PTC, portanto, as duas botas foram colocadas a 70 graus de rotação externa de cada lado. Todo o nosso esforço foi recompensado depois de três meses, quando recebemos alta do uso de órtese por 23 horas. Passamos para o uso de 12 a 14 horas, à noite e durante a soneca da tarde até 5 anos.

 


Descrevo nosso caminho de flores, superando o PTC, como uma oferta de gratidão às oportunidades que recebemos para tratar Augusto da melhor maneira possível. E na esperança de que nosso relato possa iluminar o caminho de outras famílias que têm ou terão seus filhos com pé torto congênito.”

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