O mundo inteiro tem questionado o acesso a telas pelas crianças. A gente não solta nossos filhos numa avenida movimentada, mas larga solto na internet sem ter noção dos perigos que estão ali -  (crédito: Tom Wang/ chicagopolicyreview.org/Reproducao da Internet)

O mundo inteiro tem questionado o acesso a telas pelas crianças. A gente não solta nossos filhos numa avenida movimentada, mas larga solto na internet sem ter noção dos perigos que estão ali

crédito: Tom Wang/ chicagopolicyreview.org/Reproducao da Internet


Pedro Henrique Oliveira dos Santos, um garoto de 14 anos, vivia em um conjunto habitacional popular na Vila dos Remédios, próximo ao encontro dos rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo. Aluno bolsista do Colégio Bandeirantes, Pedro era estudioso e dedicado aprendiz de música, adorava tocar violoncelo. Pretendia fazer faculdade como o irmão, que teve bolsa do mesmo Instituto Social. Mas Pedro era preto, pobre e periférico e sofreu bullying até não suportar mais e tirar a própria vida no dia 12 de agosto deste ano.

 

Educação não sexista

 


A história da morte de Pedro foi amplamente divulgada, mas não foi a única história de bullying com um desfecho trágico que tivemos no Brasil em 2024. Outros jovens escolheram o mesmo fim por não suportar a pressão. Além dos casos que levaram à morte, tivemos, muito recentemente, casos de adolescentes sofrendo violência sexual dentro de suas escolas, sendo seus violadores outros adolescentes.


Como meninos de 11, 12 anos podem agir dessa forma? O que eles passaram ou viram para serem capazes de estuprar colegas? Foram abusados? Acessam pornografia na internet? Há muitas possibilidades, mas a certeza é de que faltou educação sexual, em casa e na escola. Só a educação sexual pode proteger nossos filhos de serem abusados ou de se tornarem abusadores.

 

Educação sexual nas escolas

 


Mas como agir quando ficamos sabendo que nossos filhos e filhas estão sofrendo bullying? Quem responde é Juliana Tassara Berni, psicóloga com experiência clínica em atendimento de crianças, adolescentes e adultos com ênfase em psicanálise.


“A primeira coisa que a gente deve fazer quando fica sabendo que nossos filhos e filhas estão sofrendo bullying é acolher, conversar e apoiar. Depois disso, entrar em contato com a escola. Marcar um horário pedindo urgência e ir pessoalmente conversar. Isso pode acontecer em qualquer escola, com quaisquer alunos.

 


Ambos, o que sofre e o que pratica, precisam de atenção, e a escola deve intervir. Se nada for feito e a situação permanecer, deve-se procurar o Ministério Público. Toda escola é obrigada a ter políticas e práticas anti-bullying e essas práticas têm que ser efetivas. O órgão que fiscaliza e investiga isso é o MP e ele tem sido rápido para atender esse tipo de denúncia. A denúncia pode ser feita pela Ouvidoria ou presencialmente. Você pode, inclusive, exigir falar diretamente com um promotor. Pode ir à Promotoria da Infância e Juventude direto.


A última coisa que a gente deve fazer é expor o caso nas redes sociais, o que inclui grupo de whatsapp de pais; isso só expõe ainda mais as partes e as conversas entre os pais sempre chegam nos adolescentes. Se a gente fica mesmo sem saber o que fazer, acaba indo para as redes sociais, e metendo os pés pelas mãos. Não tem que publicizar a situação, tem que tratar. E em último caso, denunciar no MP, que é o órgão competente”, explicou Juliana.


Crianças têm que ser protegidas pelos pais, pela família, pela escola, pela sociedade.


Estamos aprendendo a lidar com as mídias sociais, com o excesso de exposição.


Precisamos entender os riscos, especialmente a exposição de crianças que ainda não têm idade nem maturidade para lidar com as consequências dessa exposição.


Além da questão da imagem delas, você sabe o que seus filhos estão consumindo na internet? Que tipo de conteúdo eles veem? É adequado para a idade deles? E os desenhos e filmes, você observa a classificação indicativa para saber se são indicados para a faixa etária deles?


O mundo inteiro tem questionado o acesso a telas pelas crianças. A gente não solta nossos filhos numa avenida movimentada, mas larga solto na internet sem ter noção dos perigos que estão ali. E a gente fala e expõe nossos filhos nas mídias sociais, em grupos de whatsapp sem saber quem está vendo, e sem saber se alguém vai replicar o que falamos. Quando a gente se assusta, o caso já ficou público e a criança é a mais prejudicada.

 

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