Em todos os lugares a mesma coisa. Nada funcionava porque as mulheres haviam parado de funcionar. Estavam todas adormecidas e, por isso, o mundo parou. Nos primeiros dias ninguém sabia o que fazer.


Nos hospitais as enfermeiras, as médicas e demais mulheres das equipes que estavam de plantão, adormeceram durante o trabalho, as pacientes também dormiram e não acordaram mais. Já estando nos hospitais, foram examinadas, mas nenhum médico descobria a causa daquele estado de coma. A orientação era manter as mulheres em casa, não adiantaria nada levá-las para clínicas ou hospitais porque não havia o que fazer, nem pessoal suficiente para atender à demanda.

 

Câncer, maternidade e finitude

 

Muitas escolas tiveram que fechar por falta de funcionárias, especialmente as escolas de ensino infantil. Outras escolas funcionavam num formato de rodízio entre os alunos, uma vez que o número de funcionários estava reduzido.


Desde o dia em que as mulheres adormeceram, Luís ficou em casa cuidando das crianças, tentando trabalhar no formato home office enquanto encontrava alguma distração para os filhos. Geralmente, o que funcionava era deixá-los na frente das telas, hipnotizados e quietos. Além de cuidar dos próprios filhos, ele também estava cuidando de seus sobrinhos.

 

Belas adormecidas: o dia em que o mundo parou

 

Sua irmã dormia e o ex-marido dela não aparecia para ver os filhos há muito tempo.

Edson, o diretor da escola dos filhos do Luís, teve que se hospedar na casa da ex-mulher para cuidar dela e das crianças, também tentando conciliar a paternidade e o trabalho. Não sabia cozinhar; muitas vezes tentava pedir comida delivery, mas havia uma sobrecarga nos serviços. Não havia gente suficiente para cozinhar e havia pedidos demais. Nos supermercados, os congelados acabavam assim que chegavam.


Em muitas casas, crianças que moravam só com suas mães ficaram sem cuidados. Acabaram se sujeitando a abusos de vizinhos, e até mesmo de parentes que se aproveitavam da ausência das mães para molestá-las. Mulheres que dormiam também eram submetidas a abusos. Meses após o início do que passou a ser chamado de pandemia das Belas Adormecidas, muitas mulheres haviam engravidado durante o sono. Outras morreram nas mãos de ex-companheiros que aproveitaram o caos e a vulnerabilidade delas para exterminá-las.

 




A situação foi ficando tão absurda que muitos homens começaram a fazer campanhas e vigílias para proteger as mulheres que dormiam. Na TV e nas mídias sociais havia muitas campanhas falando sobre a importância de respeitar os corpos das mulheres. Ninguém sabia se elas iam acordar um dia, e, se acordassem, quando seria.


Começou uma guerra entre os homens que tentavam proteger as mulheres e as crianças, e aqueles que queriam se aproveitar da situação para cometer variados crimes contra elas. A situação chegou ao ponto de matar para protegê-las ou morrer tentando fazê-lo.

 

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