Desde crianças idealizamos o amor, projetamos esse ideal no outro, procurando nele aquilo que nos falta. O amor segue idealizado na adolescência, na vida adulta. A família margarina, o final feliz dos contos de fada, com as princesas sendo salvas por seus príncipes encantados. Homens idealizados, meninos mimados, alecrins dourados.

 

 

Tem uma série na Netflix que retrata bem essa busca incansável de mulheres pela família idealizada, no caso da série, a família da caixa de um cereal. O nome da série é “Invejosa”. A protagonista passa 10 anos com um homem, esperando ser pedida em casamento, mas isso nunca acontece. Prestes a completar 40 anos, preocupada por estar “ficando para titia”, eles terminam. Então, ela vai em busca do homem ideal: bonito e bem-sucedido. 

 

 

Como acontece na série, acontece na vida real. Sempre vai faltar algo, nossos ideais nunca serão atendidos. Na busca por um príncipe, encontram ogros disfarçados. O ideal imposto por padrões culturais, nos quais a mulher precisa ter um homem para ser considerada completa, para ser validada. Mulheres que não se casam, não têm relacionamentos, são consideradas mal-sucedidas, “encalhadas”. 

 



 

Buscando atender às expectativas da sociedade, do parceiro, a mulher vai deixando de ser ela mesma, se apagando, se tornando uma sobra do parceiro, sem desejo, sem vontade, disponível para atender o desejo do outro, deixando de se reconhecer. Todas nós, mulheres, fomos treinadas para sentirmos essa dependência emocional. E passamos essas ideias para nossas filhas. Mulheres acreditam que precisam de um homem. Essa crença é construída desde que nascemos. Em família, na mídia, nas histórias de princesas. Em todos os lugares os modelos que temos são modelos românticos. A busca pelo homem que vai nos completar, como se não houvesse completude em uma mulher sem par.


Assim, temos a autoestima minada, tentamos nos adequar a padrões de beleza só atingíveis nos filtros do TikTok. A indústria da insatisfação com o rosto, com o cabelo, com o corpo. A distorção da autoimagem. A necessidade de se moldar para agradar o outro. Com a autoestima baixa, a mulher se sujeita a relações abusivas. A dependência emocional as prende a essas relações. “Não posso viver sem o outro.” “Não sei quem eu sou sem ele.” “Não me reconheço quando me olho no espelho.” “Não consigo mais ser quem eu era.”

Os principais motivos que levam mulheres a permanecer em relacionamentos abusivos são: 


  • Não saber que aquilo que estão vivendo é abuso, até mesmo por questões culturais que naturalizam comportamentos abusivos vindo de homens. Lembrando que numa cultura machista e patriarcal, o abuso contra mulheres é normalizado.


  • Ser dependente financeira do parceiro, pois não sabe como vai sobreviver ou cuidar dos filhos sem ter o próprio dinheiro.


 

Não existe solução simples para uma questão tão complexa. Não é simplesmente tirar um abusador da sua vida e seguir sem ele. Eles mesmos tendem a não aceitar o fim do relacionamento. Muitos casos de feminicídio são consequência dessa não aceitação. Lembrando que discursos conservadores que pregam a submissão das mulheres ajudam a naturalizar as situações de violência. 


Na vida adulta, o que liberta uma pessoa da dependência emocional é a dor. A dor que cura, com ajuda de terapia. Mas será que é preciso esperar a vida adulta e toda a dor de viver dependente emocionalmente de um homem? Nossa geração está aprendendo a denunciar abusos, existe um caminho sendo trilhado e, como mulheres adultas, mães, precisamos trabalhar a autoestima das meninas desde cedo para que saibam que, quando amamos de verdade, entendemos que quem ama não se submete. Amor é uma troca.

 

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