Silvia Federici é uma filósofa contemporânea, professora e feminista autonomista italiana, radicada nos Estados Unidos. Nasceu em Parma, em 1942, e mudou-se para os Estados Unidos em 1967, onde foi uma das fundadoras do International Feminist Collective - Coletivo Internacional Feminista. 


Nos anos 1970, ela foi uma das pioneiras das campanhas que reivindicavam salário para o trabalho doméstico (Wages for Housework Campaign) . Na década seguinte, como professora na Universidade de Port Harcourt, na Nigéria, ela fez parte da organização feminista Mulheres na Nigéria (Women in Nigeria) e contribuiu para a criação do Comitê para a Liberdade Acadêmica na África (Committee for Academic Freedom in Africa). Uma das falas mais famosas de Silvia Federici é: “O que eles chamam de amor, nós chamamos de trabalho não pago.”


 

A escala de trabalho da maioria das mães atualmente é 7x0, ou seja, sete dias de trabalho e nenhum dia de descanso. E muitas dessas mães, no Brasil, ainda trabalham fora, numa jornada 6x1, no caso a jornada pela sobrevivência. 


Quando pensamos na remuneração do trabalho de cuidado, em grande parte realizado por mulheres, precisamos pensar no que é para uma mulher, que é mãe, a escala de trabalho 6x1, que não permite que elas tenham tempo para ficar com os filhos, para cuidar da saúde, ter tempo para o lazer. Uma dupla jornada de trabalho sem a implementação do 13° salário e sem tempo para descanso. É a sobrecarga das mulheres tentando conciliar o trabalho doméstico com o trabalho fora de casa. Vivem para trabalhar, trabalham para viver, na verdade, apenas sobreviver.


 

O fim da escala 6x1 tomou conta das redes sociais na última semana, não por acaso; essa pauta é de total interesse da classe trabalhadora, considerada a maior parte da população. Quem é contra, argumenta que o fim dessa escala desumana vai acabar com a economia. Esse discurso de acabar com a economia é velho, foi usado contra a abolição da escravatura, contra a implementação do salário-mínimo, contra o 13° salário,  contra a PEC das Domésticas. 

 



 

Sabe quando as pessoas dizem que são a favor da família? Pois é, para ser a favor da família e ser coerente, é necessário ser a favor de jornadas de trabalho menos desumanas.  Dessa forma, as pessoas, especialmente as mães, que são as mais afetadas, terão um pouco mais de tempo para investir em si mesmas e nos seus filhos. 


A escala de trabalho 6x1 tem impacto forte nas famílias, na sua saúde e na qualidade de vida. Ela impacta especialmente os mais vulneráveis: cuidadores, pessoas com deficiência e mães-solo. O fim da escala 6x1 é um primeiro passo para condições dignas para todas as pessoas.


Segundo o Dieese, dos 75 milhões de lares, no terceiro trimestre de 2022, 50,8% tinham liderança feminina, o que corresponde a 38,1 milhões de famílias. As mulheres negras lideravam 21,5 milhões de lares. 

 

Países como Islândia e Inglaterra já tiveram experiências positivas com a redução da escala de trabalho. Maior tempo de descanso deixa as pessoas mais produtivas, menos doentes, mais felizes. Não por acaso, estamos vendo toda essa mobilização a favor da PEC, que está fazendo com que deputados mudem seu posicionamento em relação a ela. Afinal, quem tem escala 3x4 não pode exigir que quem paga seu salário siga nessa escala desumana de 6x1.

 

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