Rainha Fernanda
O choro ficou retido no peito, travado na garganta. O choro que só conseguiu sair depois que o filme acabou
Mais lidas
compartilhe
SIGA NOFernanda Torres fez 2025 começar valendo a pena; fez a primeira segunda-feira do ano ter clima de final de Copa do Mundo com a taça na mão, mas ainda melhor que futebol. Fernanda é mulher, é mãe, já passou dos 50 anos e não para de subir. Filha de rainha, rainha é. Nossas majestades, a Rainha Mãe Fernanda Montenegro e a Rainha Filha Fernanda Torres. Esse Globo de Ouro foi praticamente uma cerimônia de coroação para nós, brasileiros. Rainha, diva, maravilhosa, inspiradora!
Fernanda, que nos divertiu, com personagens hilários durante anos, agora mostra seu lado dramático impecável, encarnando Eunice Paiva, outra mulher que mereceu uma coroa. Eunice, a mãe brasileira que chegou a ser presa e interrogada durante a ditadura militar. Mulher que liderou campanhas pela abertura de arquivos do regime militar, e que dedicou grande parte de sua vida a descobrir o paradeiro do marido Rubens Paiva, que só teve a morte reconhecida em 2012.
Eunice, a mulher que era uma dona de casa perfeita e se reinventou, se formou em direito, que não só lutou para fazer o estado admitir que matou seu marido por tortura, mas que também se tornou a advogada que lutaou pela demarcação das terras indígenas.
O filme "Ainda estou aqui", de Walter Salles, é tão maravilhoso e tão emblemático que já levou mais de três milhões de brasileiros às salas de cinema. Assisti como se estivesse segurando o fôlego debaixo d'água, às vezes descia uma lágrima do meu olho esquerdo, talvez o direito estivesse seco demais por eu não conseguir piscar. O choro ficou retido no peito, travado na garganta. O choro que só conseguiu sair depois que o filme acabou: respirei e as lágrimas desceram com uma sensação de dor e alívio. Que impactante pensar que tudo aquilo estava acontecendo em 1975. Como diz a letra da música do Erasmo:
“Mas estou envergonhado
Com as coisas que eu vi
Mas não vou ficar calado
No conforto, acomodado
Como tantos por aí
É preciso dar um jeito, meu amigo
É preciso dar um jeito, meu amigo
Descansar não adianta
Quando a gente se levanta
Quanta coisa aconteceu”
Esse filme precisa morar na cabeça das pessoas!
Estou parada no filme e no Globo de Ouro da grande Fernanda Torres, desde que ela ganhou o prêmio. Não consigo falar de outro assunto, tampouco as notícias bizarras diárias estão me abalando. Que felicidade, Fernanda, ver você brilhar, ver um filme brasileiro chamando a atenção do Brasil e do mundo. Ver a história sendo contada, lembrada, ver a cultura sendo novamente valorizada, ver o livro do Marcelo Rubens Paiva sendo lido por tanta gente, num país que vem deixando a literatura de lado.
Fernanda, minha Deusa, você poderia se chamar Esperança, pois foi isso que esse Globo de Ouro nos trouxe.
Muito obrigada!