
Eu ainda estou aqui, e vou continuar
"Não foi usado dinheiro da Lei Rouanet nesse filme, basta uma pesquisa rápida na internet para saber disso"
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Alguém disse, num tom acusatório, que eu tenho postado muito sobre o filme “Ainda estou aqui” nas minhas redes sociais. Tenho postado até menos do que gostaria, com muito orgulho. Orgulho que todo brasileiro deveria estar sentindo ao ver um filme que fala de uma parte da nossa história, que mostra uma família brasileira, que leva a nossa cultura para o mundo falando a nossa língua.
Vibro cada vez que vejo um cartaz de divulgação do filme em outros países: “Sono Ancora Qui” 'Aún estoy aquí', 'Je suis toujours là', “I´m Still Here”. O mundo está vendo o nosso cinema, isso, por si só, já é uma conquista. Além disso, Fernanda Torres vem nos representando muitíssimo bem, dando entrevistas em programas de muita audiência no exterior, se vestindo maravilhosamente em todas as suas aparições, posando para revistas importantes. Como não se orgulhar?
Quem reclama só pode estar com dor de cotovelo. Aliás, quem desdenha sequer assistiu ao filme, porque prefere continuar deixando a sujeira debaixo do tapete, prefere achar que o período da ditadura militar no Brasil foi bom. Não querem ver que uma família comum, de classe média, com pais presentes, pessoas trabalhadoras, com crianças comuns e adolescentes sofreram, e muito, naquele período. Quando eu era criança, aquele discurso de que “era só a gente não fazer nada errado” fazia sentido; hoje não faz, a gente precisa se perguntar o que é certo, o que é errado e para quem isso é certo? Era certo para alguém tirar um pai de dentro de casa para interrogá-lo e nunca mais devolvê-lo para a família. Era certo tirar uma mãe de dentro de casa e deixá-la presa por 11 dias. Era certo tirar uma adolescente de sua casa e levá-la para ser interrogada, apalpada pelos guardas e revistada brutalmente, enfiando o dedo em tudo quanto é lugar como relatou Eliana Paiva em entrevista para a Marie Claire.
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“A sua indignação é seletiva, Bebel, não vi você defender a mãe que foi presa no dia 8 de janeiro por pixar com batom uma estátua.” Eu acho tristíssimo uma mãe estar nessa situação, mas não foi só cometer um ato de vandalismo, ela estava participando de algo muito maior, não era um fato isolado, ela não foi arrancada de dentro de sua casa. Ela estava em um movimento por um golpe. São contextos totalmente diferentes. Além do mais, falar sobre um filme que é sucesso mundial e defender a democracia não é defender uma pessoa. Acho triste, acho uma pena que uma mãe tenha deixado seus filhos em casa, para participar de atos antidemocráticos, em que as sedes dos Três Poderes foram invadidas e depredadas.
Direito de se manifestar, todo mundo tem, mas isso é diferente de tentar abolir de forma violenta o estado democrático de direito. É diferente de tentar dar golpe de estado etc. Não foi uma pessoa sozinha escrevendo em uma estátua.
Se você não quer assistir ao filme, não assista, mas não fale do que você não assistiu, não critique sem ter assistido. Se você não gosta da ideia do filme, tudo bem, ninguém é obrigado a gostar, mas se poupe de passar vergonha dizendo coisas como “mamou nas tetas da Lei Rouanet”, porque desde 2007 a Lei Rouanet proíbe o financiamento de longas-metragens. Ela inclui apenas “obras cinematográficas de curta e média metragem e filmes documentais”. Não foi usado dinheiro da Lei Rouanet nesse filme, basta uma pesquisa rápida na internet para saber disso.
Para quem odeia o que eu posto e o que eu escrevo, fica a dica, você não precisa ler nada que eu escrevo, não precisa ver nada que eu posto nas redes sociais. Se quiser continuar me lendo e me seguindo, vai continuar passando raiva, mas essa escolha é só sua, porque a minha escolha é falar do que eu acho pertinente. Grata.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.