
Respire fundo
Ativista na luta contra a violência sexual há mais de 10 anos, Sheylli fala abertamente acerca do tema nas redes sociais, depois de ter vivido na pele
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Sheylli Caleffi é conhecida por ser referência no trabalho contra violência sexual e riscos da internet para jovens e crianças. Eu a conheci há alguns anos por meio de um vídeo no Instagram. Posteriormente, tive a oportunidade de estar com ela em alguns eventos sobre maternidade, adolescência e prevenção e combate ao abuso infantil e de fazer parte de um grupo de ativistas que ela montou para trocarmos ideias sobre o tema. Vejam, 63% das vítimas de estupro são crianças!
“Respire Fundo” é a primeira obra de ficção de Sheylli, a obra tem objetivo de alertar pais, educadores e adolescentes a respeito dos perigos que envolvem os ambientes digitais e afetam nossa vida presencial, com uma narrativa intensa e personagens impactantes, sem a pretensão de ser um conteúdo didático.
Trata-se de um suspense policial com a junção de seis contos inspirados em histórias reais. “Mesmo que os personagens sejam fictícios, os casos realmente aconteceram com pessoas que me seguem, ou foram noticiados nos jornais locais e fora do Brasil. E demonstram como a gente, sem querer, no dia a dia, não presta a atenção que deveria em algumas coisas. Uma simples foto dos filhos ou um post de um adolescente que pareça inofensivo pode alimentar uma rede de criminosos”, explica Sheylli.
Dados recentes da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos revelam um aumento de 77,13% nos registros de novos casos de abuso e exploração sexual infantil online em 2023, comparado com 2022. Por outro lado, documentos da Meta, responsável pelo Facebook e Instagram, estimam que 100 mil crianças e adolescentes recebem conteúdo sexual todos os dias, incluindo fotos de órgãos genitais. O teor dos arquivos foi revelado pelo jornal britânico The Guardian. “É muito fácil encontrar fotos e vídeos que sexualizam crianças. É como se nós os deixássemos em uma avenida movimentada sozinhos, sem proteção. As redes sociais são mais ameaçadoras, pois não há leis concretas e nem para quem denuncia”, afirma a pesquisadora.
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Ativista na luta contra a violência sexual há mais de 10 anos, Sheylli fala abertamente acerca do tema nas redes sociais, depois de ter vivido na pele. “Sofri um abuso quando criança, e outro já adulta em uma viagem, por isso resolvi falar. Criei um grupo no Facebook para acolher vítimas e recebi um perfil com imagem de crianças para denunciar. Em um primeiro momento, parecia inofensivo, já que se tratava de algumas delas dançando, mas eram intercaladas com conteúdos pornográficos. Ao longo da minha experiência, entendi que nem precisa ser algo explícito, já que esses criminosos podem enxergar maldade em tudo”, explica a especialista em relação ao início da jornada nessa temática.
A partir de então, ela passou a estudar o assunto, alertar sobre cuidados que podem ser tomados em ambientes online e de que forma esses criminosos agem. Com a intenção do livro ser também um instrumento educativo, o objetivo é que o público entenda como suas ações impactam em um mundo onde nossos sentimentos não diferenciam entre presencial e digital.
“Nós ainda somos muito ingênuos em relação às nossas atitudes em redes sociais e jogos, e as pessoas não percebem que estão colocando um filho em risco ao expor as imagens dele; as próprias crianças e adolescentes também não têm essa noção. Não estamos falando de ‘álbuns de fotos online’, temos uma rede de ‘comércio’ que está ali presente. Meu desejo é que as pessoas analisem esses contos para trabalharmos em conjunto ensinando a identificar os perigos e a como se proteger deles”, complementa.
A obra dá uma abordagem ampla a diversos temas pertinentes do cotidiano do público infantojuvenil, como a descoberta da sexualidade, o isolamento social e a ansiedade. E para quem é mãe de adolescente, como eu sou, estar sempre alerta aos riscos é fundamental. Essa cultura digital é muito recente, e os adolescentes de hoje são as cobaias, a primeira geração a lidar com o acesso a tudo e mais alguma coisa através da telinha de um celular. Toda informação é importante, por isso recomendo que pais comprem e leiam o livro, os adolescentes também podem ler.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.