Conta o folclore que, certa vez, Ulysses Guimarães foi questionado: “Dr. Ulysses, é de sua autoria a frase ‘Em política, mais importante do que o fato é a versão’?” Sem afirmar nem desmentir, Ulysses teria respondido: “É o que dizem”. Versão que segue.
Sabe-se, da literatura, que a questão frequentou as reflexões de pensadores como Nietzsche, preocupado que foi com o problema de um enunciado, de uma informação ou de uma notícia não precisar ser verdadeira para ser considerada como se fosse. A questão pode ser posta assim: não se trata “da verdade”, mas aquilo que é “tido por verdadeiro”.
O PSD mineiro de Brasília está preocupado com as versões que se farão circular – caso bem-sucedido o encaminhamento alternativo à adesão do estado ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). Avaliam que o governador Romeu Zema (Novo) é hábil em cunhar narrativas nas mídias digitais.
Se a saída proposta pelo presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD), vingar – e se de fato o estado tiver a perspectiva de, em dez anos, alcançar a “dívida zero” – muitos adorarão invocar a paternidade da proposta. Se der certo, claro, pois o ditado popular é conhecido: “filho feio não tem pai”.
Não por coincidência, Pacheco pretende se encontrar com Lula para discutir a proposta de federalização de ativos mineiros e de encontro de créditos judiciais e extrajudiciais antes de estar publicamente com Romeu Zema, para o aperto de mãos e a foto da midiosfera. Esse é um encadeamento que não pode deixar dúvidas. Pontas soltas podem alimentar futuras versões.
O presidente Lula (PT) conhece bem o jogo. Por isso, não recebeu o governador mineiro, que sem agenda prévia tentou o seu primeiro encontro pessoal, em Brasília. Procurava, assim, se antecipar ao encontro que Lula teve nesta segunda à noite com Pacheco.
Uma reunião para reafirmar o fato sobre o qual o PSD mineiro de Brasília não pretende deixar dúvidas. O DNA da autoria importa nessa hora, pois representa o futuro núcleo de uma campanha eleitoral. Se a alternativa for bem-sucedida, Pacheco deixará uma breve mensagem: daquele que, embora não seja o responsável legal por encontrar saída para a dívida, usa a habilidade política, agrega, constrói, resolve. De resto, Zema, de forma republicana, foi recebido pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, responsável pela articulação do acordo de Mariana.
Teve a promessa de uma reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Enquanto aguarda, deveria evitar reclamações gratuitas, posts provocativos, ao que chama de “esquerda”. A esta altura do jogo, tais versões aleatórias fazem bem ao público cativo, mas não resolvem a dívida de Minas.
Trabalho escravo
Com Minas na liderança da lista nacional de trabalhadores resgatados em situação análoga a escravidão, a deputada estadual Lohanna (PV) apresentou, nesta segunda, o Projeto de Lei 1.739/2023, para a criação de política estadual específica em combate à prática.
Penitenciárias
Em correição de rotina ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e corregedor nacional de Justiça, Luís Felipe Salomão, passou também pela Assembleia Legislativa. Quis ouvir, do presidente da Casa, Luís Tadeu Leite (MDB) sobre as condições das penitenciárias.
Também no encontro, o deputado estadual Alencar da Silveira (PDT) reclamou das revistas íntimas às mulheres, que, constrangidas, deixam de visitar filhos, maridos e familiares.
Não deixa passar
Alencar aproveitou para apresentar também ao ministro Luís Felipe Salomão o memorial sobre a disputa judicial em torno da mansão de Ilha Comprida, em Angra dos Reis, da qual afirma ter o direito de uso em sociedade com o jogador Richarlison e o seu empresário, Renato Velasco.
Alencar aguarda, na Justiça carioca, o julgamento do pedido de reintegração de posse do imóvel. O deputado já havia se queixado com o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), do advogado Willer Tomaz, com quem disputa a ação judicial. Willer Tomaz é amigo pessoal do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que testemunhou em favor dele nesse processo.
Consciência antirracista
Em evento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pela celebração do Dia da Consciência Negra, a ministra substituta, Edilene Lobo, salientou a importância de as instituições criarem políticas específicas para a capacitação e a qualificação das pessoas negras, primeiramente mulheres negras, durante o expediente de trabalho, incluindo no investimento a oferta de creches e atividades de apoio às crianças, filhas dessas pessoas.
Estímulo ao ingresso
Para Edilene Lobo, todas as esferas do serviço público devem criar programas de bolsas para preparação de pessoas negras que desejarem ingressar na carreira, acrescidas de auxílio-alimentação e preparação psicológica. Se tratará de estímulo ao ingresso, para futuras servidoras e servidores.
JK, nova obra
A vida, obra e trajetória do ex-presidente Juscelino Kubitschek já inspirou livros, filmes, documentários, minissérie e podcasts. E a julgar pelas novas informações da permanente pesquisa, que segue, ainda vai render muito material. O economista Carlos Alberto Teixeira de Oliveira, é o autor de “JK: Doutor em Desenvolvimento – Um Mineiro à Frente de seu Tempo”, obra lançada nesta segunda, no Automóvel Clube.
(Paulo Nogueira)