Ilustração -  (crédito: Divulgação)

Ilustração

crédito: Divulgação

 

Tucanos e petistas que por duas décadas protagonizavam a política em Minas, a partir de 2016, foram abatidos pelo lavajatismo. Sem lideranças que pudessem articular forças políticas, o que se viu, e de certa forma ainda se vê, foi a ascensão de outsiders que se autopromoveram sobre o discurso da antipolítica. Sim, há uma desilusão com a política, anunciada pela própria na taxa de participação eleitoral expressa nas urnas. Pegue as eleições municipais em Belo Horizonte entre 2000 e 2020 e o que se vê é a abstenção dobrar no período, de 14,12% para 28,34%. No estado, entre 2002 e 2022, o não comparecimento para votar cresceu de 17,09% para 22,28%.

O empresário Romeu Zema (Novo) alcançou nas eleições de 2018 um feito. Desconhecido, sem apoios sólidos na política, surfou no bolsonarismo. Foi fenômeno particular de um contexto. Uma vez no controle do estado, com a atração que este exerce sobre grupos de interesse e políticos mais pragmáticos, formatou-se um projeto de poder que ganhou novos contornos com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro. Romeu Zema quer ser presidente da República. É um projeto legítimo, construído sobre o espólio da extrema direita, ainda que desprovido de diretrizes, dado o ocaso de políticas neoliberais no contexto mundial.

Em Minas, quase não houve oposição ao governo Romeu Zema no primeiro mandato. Na Assembleia Legislativa, o ex-presidente Agostinho Patrus fez enfrentamento por discordar da forma como o propunha abordar o problema da dívida do estado. Sobretudo no enfrentamento da pandemia, se expressou a oposição do ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD). Reeleito para o segundo mandato, Kalil concorreu contra o Palácio Tiradentes. Lançou-se contra a maré, sem estrutura nem grupo político. Na história da redemocratização, apenas dois governadores perderam a reeleição: em 1998, para o ex-presidente da República Itamar Franco; e em 2018, para o próprio Zema, no contexto mencionado que os mais cínicos ainda agregam à análise o que chamam de “paradoxo Pimentel”.

No apagar de 2023, o debate em torno do Regime de Recuperação Fiscal (RRF) lança a semente de um novo projeto político em Minas. Eis, agora, o “paradoxo Zema” em curso. Ao mesmo tempo em que se discute uma alternativa para a dívida mineira, sob o comando de Rodrigo Pacheco (PSD) e do presidente da Assembleia, Luís Tadeu Leite (MDB), outro cenário se formata. Traz em seu bojo uma ampla frente que anuncia para 2026 a reorganização da política, num projeto que tem potencial para agregar o PSD, o PDT, o PT, o PV e o PCdoB e os partidos à esquerda, como a Rede e o PSOL A viabilidade de frentes assim dependem da perspectiva de poder, mas carecem de um programa sólido que arraste a esperança para as urnas. Será preciso mais. Pelo momento, a política em Minas ainda navega em triste horizonte, à espera de líderes e ideias que a façam ressurgir das cinzas.

 

Pescaria

O secretário de estado da Casa Civil, Marcelo Aro (PP) afirma a esta coluna que mantém sob controle a formatação das chapas para acomodar a bancada que ele chama de “Família Aro” na Câmara Municipal, atualmente com nove integrantes. Na avaliação dele, Professora Marli (PP), que é sua mãe, Flávia Borja (PP) e Cláudio Mundo Novo (PSD) têm capital eleitoral próprio. Aro afirma que trabalha em BH para as eleições de 2024 com sete partidos políticos, que irão acomodar todos os seus aliados na Câmara Municipal. “Peguei todos os partidos disponíveis na cidade. Não faltarão chapas para os meus aliados. O mesmo não digo para o grupo de 13 de Gabriel Azevedo”, avisa. Aro diz que irá anunciar as siglas em janeiro de 2024.

 

“Marca forte”

Marcelo Aro diz que tem estrutura consolidada para eleger metade das cadeiras da Câmara Municipal de Belo Horizonte. “Minha marca forte é montar chapas. Sempre elegi os menos votados”, diz, considerando ser mais hábil nessa tarefa do que o deputado federal Luís Tibé (Avante), conhecido no meio por sua expertise.


Economia do voto

Para demonstrar que faz jus à “fama”, Marcelo Aro lista nomes eleitos em chapas proporcionais montadas por ele, com o menor número de votos, entre os quais, Oswaldo Lopes, pelo PHS, em 2016, com 3.018 votos; e, em 2018, José Ferreira, pelo PP, com 3.311 votos. Ele também arrola chapas proporcionais para a Assembleia Legislativa, afirmando ter eleito seis parlamentares, o mais votado, Zé Guilherme (PP) seu pai, com 72.376 votos e a menos votada, Chiaria Biondini (PP), com 34.126 votos. Já nas eleições de 2018, Aro lembra que elegeu o pai Zé Guilherme para a Assembleia Legislativa com 19.341 votos, pelo PRP, tendo sido o segundo menos votado naquele pleito.

 

Pingo é letra

O ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD) anda na muda quando o assunto é a eleição para a Prefeitura de Belo Horizonte. Mas aliados garantem que se tem um nome que o fará entrar na campanha será o do médico Jackson Machado Pinto, que foi secretário municipal de Saúde durante o seu governo e liderou, com bom desempenho, o enfrentamento à pandemia na capital mineira. Perguntado, Kalil não confirma nem desmente. “Está cedo para me posicionar. Vamos esperar o quadro de candidaturas se estabilizar”. Indagado como anda o relacionamento com o prefeito Fuad Noman, que o sucedeu, Kalil afirma: “Tenho ótima relação com o prefeito”. Mas envolvimento na campanha, é outro assunto. “Não tenho compromisso com ninguém. E as pesquisas são claras: quem está quieto, continua com voto”, diz Kalil.


Marca do pênalti

A interlocutores, o comentário de Jackson Machado Pinto, quando provocado sobre eventual candidatura à PBH, é um só. “Se Kalil está, eu estou”. Neste momento, Jackson está em viagem ao exterior.


Cresce o eleitorado

Em Belo Horizonte, nas seis eleições realizadas entre 2000 e 2020, ao mesmo tempo em que o eleitorado da capital mineira cresceu 23,4% dois outros fenômenos paralelos são registrados: queda no comparecimento e queda no quociente eleitoral: em 2000, todos os candidatos de uma legenda precisaram reunir no mínimo 32.760 votos para eleger uma única pessoa. Em 2020, foram 27.297.


Maior competição

Nesse mesmo período, também subiu a competição eleitoral na capital mineira. Em 2004, por exemplo, 1061 candidatos concorreram a uma das 39 cadeiras na Câmara Municipal de Belo Horizonte; em 2020, 1448 disputaram uma das 41 cadeiras. Eleger está mais difícil.