Em 64 a.C. Marco Túlio Cícero disputava a eleição ao consulado de Roma. Nessa campanha, Quinto Túlio Cícero presenteou o irmão mais velho com um breve manual de técnica eleitoral. Sugeriu-lhe não assumir compromissos partidários sérios, antes disso, seria melhor dar tratamentos diferentes aos dois principais grupos políticos da época, os "optimates" (da nobreza) e os "populares" (das classes média e baixa). Como os nobres não aprovavam o sistema republicano vigente, Quinto aconselhou: "Deves convencê-los de que nós sempre tivemos os mesmos sentimentos (deles) em relação à República e que em absoluto temos sido populares; e que, se alguma vez nos viram falar como populares, o fizemos com a intenção apenas de atrair (o poderoso general ) Pompeu”.
Transpondo mais de dois mil anos de história, Quinto estaria hoje decepcionado: mais uma vez as eleições municipais de capitais como Belo Horizonte, em que o candidato à reeleição ainda é desconhecido do grande público – e a disputa se pulveriza em uma dezena de nomes menos conhecidos, não é a conciliação, mas a polarização que tende a dar tração às candidaturas. Os “optimates” hoje prevalecem em quantidade de candidatos, dada a lógica perversa da política tecnofeudal de exposição ou morte. Em BH, o deputado estadual Bruno Engler (PL) será o nome do bolsonarismo. E quando a campanha chegar, tenderá a causar baixas nas candidaturas de direita mais próximas, como a do senador Carlos Viana (Podemos), atualmente com maior recall nas pesquisas.
Já o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), de perfil conciliador, mas ainda desconhecido do grande público, acena à direita e à esquerda. Pela direita, o governador Romeu Zema (Novo) embora pudesse achar interessante emprestar-lhe apoio, talvez pense que não lhe seja conveniente tal aproximação. Noman deu sustentação a Lula nas eleições presidenciais. Zema luta pelo espólio do bolsonarismo. Preferiu, assim, lançar a candidatura de Luísa Barreto (Novo), secretária de estado de Planejamento e Gestão.
Pela esquerda, que seria a melhor aposta de Fuad Noman, a disputa vai se complicando. Os “populares” estão dispersos em três candidaturas e cada vez mais afastados dele, o que lhe poderá ser muito prejudicial. Duda Salabert (PDT), com maior visibilidade no identitarismo, mas também em sua plataforma consistente em relação às questões climáticas, sai à frente. Neste momento, a unidade parece difícil.
É fato que às vésperas do Ano Novo, alguns belo-horizontinos estão sonhando com as praias que não temos em Minas. Outros, pensam nos blocos de carnaval de rua, que anunciam alegria em fevereiro. Há aqueles que estão irremediavelmente presos à uma rotina impiedosa, em que até sonhar é artigo inalcançável. Há de tudo, menos atenção à eleição. Enquanto isso, Cicero continua fazendo a cabeça de nossas elites. Se o cenário entre os “populares” não se alterar, vamos ver em BH, mais do mesmo.
Presente de grego
O deputado federal Rogério Correia (PT), pré-candidato à prefeitura de Belo Horizonte para 2023, protocolou ação na Justiça para vetar o reajuste da passagem de ônibus na capital mineira e região metropolitana. A passagem passará de R$ 4,50 para R$5,25.
Candidatíssima
Pelo Instagram, a deputada federal Duda Salabert (PDT) também bateu firme contra o aumento das passagens. Embora o PDT esteja na base de Fuad Noman (PSD) na Câmara Municipal, há um indicativo claro de que eleições são eleições, base é base.
Entusiasmo
Em grupo da executiva estadual pedetista, Duda Salabert compartilhou nesta quarta-feira, o seu desempenho eleitoral na corrida à sucessão da Prefeitura de Belo Horizonte. Ouviu palavras de incentivo.
Qual unidade?
Embora o PT trabalhe para construir a unidade da esquerda na sucessão à Prefeitura de Belo Horizonte, para convencer o PDT, precisará mostrar desempenho melhor do que o de Duda. “Acho muito difícil Duda retirar a candidatura para apoiar o PT. Está muito bem posicionada. Mas se o PT quiser apoiar a Duda, não podemos recusar apoio”, afirma o vereador Bruno Miranda (PDT), líder de Fuad Noman (PSD) na Câmara Municipal.
Nova regra
As mudanças na legislação eleitoral promovidas pela lei 14.211/2021 estão levando a mudanças drásticas na lógica da formação de chapas proporcionais para as câmaras municipais. Em Belo Horizonte, além do número de candidatos caírem pela metade e também reduzirem o número de partidos, reunidos em federações, há uma mudança que já ganhou apelido. A distribuição das sobras partidárias – que responderam pela eleição de 17 dos 41 vereadores – terá novas regras. Poderão participar apenas partidos que tiverem conquistado pelo menos 80% dos votos do quociente eleitoral. E entre partidos participantes, concorrentes deverão ter no mínimo 20% do quociente eleitoral.
'Distritão' das sobras
A se repetir o mesmo quociente eleitoral das eleições de 2020 para Câmara Municipal de Belo Horizonte, que foi de 27.297 votos, os candidatos que concorrem às sobras precisarão ter obtido no mínimo 5.459 votos. Tal votação hoje, com a nova regra, deixaria de fora 11 vereadores eleitos no pleito passado pelo sistema de médias. Eles tiveram entre 5.125 votos, como foi o caso do vereador Reinaldo Gomes (MDB) e 3311 votos, como foi o caso de José Ferreira (PP). Em 2020, dos 41 vereadores, 24 foram eleitos por quociente partidário e 17 na distribuição das sobras.
Contestação no STF
A Rede e o PSB propuseram ação direta de inconstitucionalidade junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a regra que limita a distribuição das sobras partidárias entre candidatos. O julgamento prosseguirá em 8 de fevereiro. Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski – relator, já aposentado – deram procedência parcial ao pedido. Para o advogado eleitoral Paulo Henrique Studart, esse dispositivo impede que grupos minoritários participem das sobras, o que de certa forma contraria o pluralismo que o sistema proporcional deve garantir.