Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o clima era de distensão. Deputados estaduais da base e de oposição ao governo Zema, que viveram as duas últimas semanas com os olhos voltados para o Supremo Tribunal Federal (STF), celebraram a suspensão da tramitação do projeto de lei 1202/2019, que concederia autorização para a adesão de Minas ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF).

Em Brasília, o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD) chamou coletiva para agradecer ao ministro do STF, Nunes Marques, com quem esteve, na sexta-feira passada, acompanhado de Alexandre Silveira (PSD), ministro das Minas e Energia. 

Agradeceu a “compreensão” e “deferência” da União para com Minas Gerais. Mencionou o presidente Lula, o ministro da Fazenda Fernando Haddad, o Advogado Geral da União, Jorge Messias. Elogiou a “altivez” da Assembleia Legislativa e do presidente Tadeu Leite (MDB), quem primeiro o procurou em busca de apoio para ajudar a construir uma saída para o problema.

Em Brasília e na Assembleia Legislativa, as entrevistas coletivas se sucederam para celebrar um prazo que dará a Minas, uma segunda chance de encontrar um caminho alternativo ao plano do Regime de Recuperação Fiscal (RRF), proposto pelo governador Romeu Zema (Novo).

Mas, do Palácio Tiradentes, o silêncio gritava. O governador de Minas, quem primeiro deveria vir à cena agradecer e celebrar a oportunidade de oferecer ao estado um plano melhor do que uma dívida de R$ 210 bilhões, em nove anos, custou a se manifestar. E quando o fez, foi confuso.

Demonstrou ter aprendido muito pouco na sucessão de eventos que o deixaram sob as amarras da política. Depois de agradecer a Nunes Marques, a Tadeu Leite, ao seu líder de governo, João Magalhães (MDB), ao “presidente do Senado” e ao “Ministério da Fazenda” , ambos sem nominar, jogou sobre o governo federal a sua perda de protagonismo político nesse processo.



“Sempre fui a Brasília, inclusive muitas vezes solicitei agenda e não havia agenda”, disse. Não bastasse, minimizou a proposta alternativa: “Agora, tem que ficar claro que o que vai haver não é uma alternativa ao Plano de Recuperação Econômica, mas um aperfeiçoamento desse plano que hoje, para alguns, é extremamente rigoroso.”

Caravanas que seguem. Naquele século 1º a.C., no contexto de uma grave crise de abastecimento provocada pela rebelião de escravos, o general Pompeu, incumbido de transportar por mar o trigo da Sicília para a cidade de Roma, afirmou aos tripulantes, que hesitavam com medo de serem atacados por piratas: “Navigare necesse; vivere no est necesse.” Geraizeiros correm rios para ganhar o mar. E aí está a diferença entre o fazer política para construir saídas de interesse coletivo e o fazer política burocraticamente, negando-a.

Contas do governo

O conselheiro Agostinho Patrus será o relator das contas do governador Romeu Zema em 2024. A sugestão foi do presidente do Tribunal de Contas de Minas Gerais, conselheiro Gilberto Diniz. O revisor das contas será o conselheiro Cláudio Terrão. A aprovação em plenário, nesta quarta-feira, foi unânime. “Daremos atenção aos indicadores de efetividade das políticas públicas do Estado, atrelada à análise do desempenho orçamentário. As melhores práticas serão adotadas, como praxe desta Corte, na análise das contas do governador no próximo ano”, destacou Agostinho Patrus.

Kassab na linha

O prefeito Fuad Noman (PSD) tem o apoio de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, para ser candidato à reeleição em Belo Horizonte. O entendimento de Kassab é que Fuad Noman governa a maior cidade do partido; faz um bom trabalho; tem primazia na disputa à reeleição. Além de tudo, o PSD não teria outro nome, neste momento, com competitividade para concorrer à PBH, neste momento.

Estranhamento

Ao mesmo tempo em que tem respaldo de Kassab, a interlocutores, o prefeito Fuad Noman manifestou estranhamento quando soube que o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), gravou um vídeo em apoio ao lançamento da candidatura do deputado federal Rogério Correia (PT), à Prefeitura de Belo Horizonte. “Do ponto de vista partidário, não está correto. Mas é ministro, ele apoia quem quiser”, teria afirmado o prefeito.

O que é isso, companheiro?

Nas redes, circula o vídeo de Alexandre Silveira, em que declara: “No dia em que BH completa 126 anos, temos o lançamento da plataforma ‘BH Pode Mais’, uma parceria com o governo do presidente Lula. Me ajude a escolher um tema para ajudar BH avançar. Empenho e apoio nessa caminhada, companheiro Rogério. BH pode mais”.

Zema cá...

Em solenidade na Prefeitura de Belo Horizonte para a assinatura do convênio entre a prefeitura e o Estado para a expansão do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Belo Horizonte, Romeu Zema, afirmou: "Eu ainda tenho três anos à frente do governo do estado, faço questão que quando eu estiver saindo, espero que o prefeito esteja na minha saída como governador para ver uma cidade melhor".

... e Lula lá

Apesar dos acenos de Romeu Zema, pelo momento, a maior proximidade de Fuad Noman é com o governo federal. O presidente Lula solicitou aos ministros empenho em atender as demandas do prefeito de BH. No Ministério dos Transportes, Renan Filho prometeu a liberação de R$ 1,5 bilhão para obras no Anel Rodoviário, dos quais, R$ 62,5 milhões para as obras em dois viadutos – no entroncamento da BR 040 e da Via Expressa – próximos à Arena MRV, já serão licitados

Diplomacia

Ao falar sobre o novo prazo para a construção de plano alternativo para a dívida de Minas Gerais com a União, o presidente da Assembleia Legislativa, Tadeu Martins Leite (PSB), classificou Rodrigo Pacheco como “mediador e maestro de toda essa construção e trabalho”. Diplomático, disse que o governo federal abriu o diálogo “cada vez mais demonstrando a boa vontade de ajudar Minas”, considerando o governo do estado, “também interessado em conseguir mais tempo para a gente construir essa nova ideia”.

Galo e o regime

Antes de iniciar coletiva, chamada para repercutir a decisão do ministro do STF, Nunes Marques, o deputado estadual Ulysses Gomes (PT), líder do Bloco Democracia e Luta, brincou: “Esse regime foi igual a jogo do Galo. Sofrido até o finalzinho”.

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