Dito isso, com as provas reunidas de um presidente acusado de articular um golpe de estado, Bolsonaro está na antessala de uma condenação. -  (crédito: Ilustração)

Dito isso, com as provas reunidas de um presidente acusado de articular um golpe de estado, Bolsonaro está na antessala de uma condenação.

crédito: Ilustração

As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal – e inclusive apreensão do vídeo de reunião presidencial em 05 de julho de 2022, em que um presidente da República trama abertamente um golpe de estado – apresentam o filme de um país à porta da total falência. É ali exibido um conjunto probatório, que os observadores e analistas intuíam a partir das narrativas, gestos, simbologias usadas e abusadas ao longo de quatro anos pelo ex-presidente da República e integrantes de seu entourage. A começar pelo slogan de campanha “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” – que reverbera a memória discursiva “Deutschland über alles”, da Alemanha de Hitler – foi um tempo de naturalização de símbolos supremacistas, apologia à ditadura militar e a torturadores, toda espécie de violência e negacionismo científico, em particular no enfrentamento à COVID-19. Tudo isto em nome da distorção da ideia de “liberdade”...

 

A cada segmento da sociedade trazida ao “projeto” de um estado fundamentalista totalitário, desdobram-se narrativas paralelas. Na cooptação de certas igrejas, a manipulação da fé religiosa é entoada por aqueles mesmos que discursavam contra máscaras e vacinas. Em outros segmentos da sociedade, as eleições de 2022 exibiram um comportamento eleitoral fortemente associado às classes sociais. Para as chamadas “elites” da renda – e a classe média, que, (coitada), se crê parte dela – o ressentimento que se explora está enraizado na própria formação da sociedade brasileira: perda de certa “hierarquia e status social”; ameaça à primazia da figura masculina (patriarcal); temor das demandas por igualdade racial e tolerância às diversidades. Está aí a caricatura do homem “branco”, “heterossexual” e “bem-sucedido”, seduzido por essa ideologia que, com ou sem Bolsonaro, segue ainda em voga na boca de alguns governantes.

Dito isso, com as provas reunidas de um presidente acusado de articular um golpe de estado, Bolsonaro está na antessala de uma condenação. Haverá consequências para as eleições municipais. Tal ameaça tende a impactar a hierarquizada cadeia de comando da disseminação da guerra cultural no Brasil, nas mídias digitais e pelos grupos de WhatsApp. Com as barbas de molho, produtores de fake news e de narrativas antidemocráticas e negacionistas tendem a praticar, nesse momento, a autocontenção. Apesar disso, os defensores de valores civilizatórios não devem se iludir. A guerra híbrida em curso segue no mundo, com narrativas e enredos similares, impulsionada pelos interesses das big techs em aniquilar estados nacionais periféricos.

Dadas as características do tecnofeudalismo, os algoritmos vão continuar a trabalhar para retirar do armário toda sorte de barbaridades anticivilizatórias. Dividir povos e nações sempre foi uma regra de imperadores. As instituições democráticas brasileiras precisam aproveitar a oportunidade histórica para preparar a nação no enfrentamento dos conflitos subsequentes, com as novas cabeças que saltam da hidra do chamado “Consenso de Silicon Valley” ou como querem alguns, “o império da IA”.

A reunião ministerial de Bolsonaro foi a expressão dessa barbárie e, o 8 de janeiro, a sua consequência. Escancara o enredo de insanidades preparadas no coração e mentes de várias pessoas, em anos de processamento de fluxos estratégicos de informação, operados em nosso meio, sem qualquer regulamentação. Quem controla os algoritmos, controla o poder. Vladimir Putin, em recente entrevista a um jornalista norte-americano, contou uma história sobre como, ucranianos e russos, povo de origem comum, chegaram à atual situação. Disse ele que certo pelotão russo, ao cercar do outro lado combatentes ucranianos russófonos, gritou em russo: “Rendam-se!”. Como resposta, em perfeito russo: “Russos não se rendem!”. Morreram todos. As histórias ainda não acabaram. Em nosso caso, espera-se, um final mais racional. As eleições municipais serão só mais uma batalha. Inteligentes uni-vos

Afinadíssimos 

O presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD), e o presidente da Assembleia Legislativa, Tadeu Martins Leite (MDB), mais do que nunca, trocam passes no mesmo time. Ao discursar em evento de prestação de contas do governo Lula, em Belo Horizonte, na quinta-feira, Pacheco assinalou: “Quero saudar de maneira especial, quem faz política com “p” “maiúsculo, Tadeu Leite, quem me provocou na questão da dívida de Minas, de fato com a demonstração de sua preocupação em relação à dívida”. Pacheco cumprimentou as mulheres na pessoa da prefeita de Contagem, Marília Campos (PT).

Depois da banda

 Em réplica ao governador Romeu Zema, que mencionou a proposta do estado de adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) como alternativa única, Pacheco assinalou que a proposta alternativa apresentada por ele ao governo Lula foi idealizada conjuntamente com Tadeu Leite e Alexandre da Silveira, ministro das Minas e Energia. Prosseguiu considerando que a proposta tem “base científica e matemática”, além do “respeito aos números” e aos aspectos legais. “Apresentamos um modelo alternativo. Entregamos ao presidente Lula e ao ministro Fernando Haddad. E vamos conversarmos sobre (a proposta) logo após o carnaval e sentarmos todos, em diálogo maduro, para resolver definitivamente esse problema. Será o maior legado se resolvermos a sustentabilidade fiscal do estado de Minas”, afirmou.

Macarrão e vinho 

O prefeito Fuad Noman (PSD) jantou esta semana com o antecessor, Alexandre Kalil (PSD) e o deputado estadual Cássio Soares, presidente do PSD de Minas. A conversa foi de reaproximação. Pelo momento, ainda nenhum compromisso. Kalil vai viajar em férias com a família. Quando retornar, vai analisar o tabuleiro da sucessão municipal.