Com a máquina administrativa na mão, mas ainda sem ter se consolidado como força eleitoral, o prefeito Fuad Noman (PSD) caminha para pacificar a sua casa. Do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, obteve esta semana a garantia da legenda e de recursos do fundo eleitoral para tocar a sua campanha à reeleição. Kassab ajuda Fuad a aparar arestas junto ao PSD mineiro de Brasília. Constrói o entendimento de que o prefeito seria a melhor aposta para vencer o bolsonarismo em Belo Horizonte.

Interlocutores do prefeito apostam que, no momento certo, Lula intervirá para unificar, em torno de Fuad, o campo antibolsonarista. De olho em 2026, o PSD quer, na capital mineira, base sólida para construir a candidatura de Rodrigo Pacheco ao Palácio Tiradentes. Pelo momento, Pacheco é o nome de Lula e da maior parte do PT mineiro.

Se a mensagem em defesa da candidatura de Fuad, por um lado, já tem adesão do PSD de Minas, antes dividido; por outro, não ressoa junto aos partidos da base lulista. No entre e sai do gabinete presidencial, quem cruza com Gilberto Kassab é o deputado federal Rogério Correia (PT), pré-candidato à Prefeitura de Belo Horizonte.

Ao lado do líder do governo na Câmara dos Deputados José Guimarães (PT-CE) e de Gleide Andrade, secretária nacional do PT e responsável por Minas, no grupo de trabalho eleitoral do partido, Rogério Correia deixa a reunião de Lula convencido de que tem o apoio presidencial nessa corrida eleitoral.



Gleide confirma: “O PT terá candidato em oito capitais, o primeiro a ser recebido na condição de pré-candidato foi Rogério. É um recado forte”. É com essa sinalização – e acenando para o acordo paulista em torno da candidatura de Guilherme Boulos (Psol) –, que o PT de Rogério Correia quer atrair para o mesmo barco a pré-candidatura da deputada estadual Bella Gonçalves (Psol).

Mas, também à esquerda, onde o PDT da deputada federal Duda Salabert se afirma principalmente sob a força do debate identitário e ambiental, as chances de um acordo parecem menos promissoras. Duda tem, nesse campo, os melhores indicadores nas radiografias instantâneas de um sem número de pesquisas. “Ela só não será candidata se não quiser”, tem reiterado o presidente estadual do PDT, deputado federal Mário Heringer.

No campo bolsonarista, enfrentar Duda ou Rogério Correia num eventual segundo turno seria sonho de consumo. É na pauta de costumes – e na demonização da esquerda – que reside muito da narrativa bolsonarista. Ainda sem decolar, na extrema direita o deputado estadual Bruno Engler (PL) conta com a tração do ex-presidente Jair Bolsonaro para desbancar o adversário mais próximo, o senador Carlos Viana (Podemos), hoje, com maior recall eleitoral.

Nesse embaralhar de cenários, o governador Romeu Zema (Novo) aposta na “neutralidade” do primeiro turno: lança a candidatura de Luísa Barreto (Novo), secretária de estado de Planejamento e Gestão, que neste momento não chega a incomodar nem à direita nem ao centro. Zema está mais preocupado em se firmar como herdeiro do bolsonarismo, acreditando ter aí a alavancagem que precisa para concorrer contra Lula em 2026.

Enquanto os dados rolam – e as tendências eleitorais ainda se definem em Belo Horizonte – , os jogadores escondem as cartas. O momento é de demonstrar força eleitoral e capacidade de arrancada. É a essa percepção que se atrela a sorte das alianças.


Roadshow

Em sua primeira visita a BH depois de eleito, Lula chegará nesta quarta-feira, após passar pelo Rio de Janeiro. A exemplo do que fez em São Paulo, fará evento semelhante de prestação de contas, em que apresentará os investimentos destinados a Minas e responderá às perguntas da imprensa, diante de lideranças políticas e empresariais.

 

Lupa

Acompanham Lula, além de Alexandre Silveira, das Minas e Energia, os ministros da Educação, Saúde, Cidades, Comunicação, da secretaria geral da Presidência e da Casa Civil. O presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD) também acompanhará Lula.

 

Com Zema

Lula, que em São Paulo, anunciou ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, (Republicanos) parceria entre governo federal e estadual para a construção de um túnel ligando Santos a Guarujá, pretende atender ao ofício do governador Romeu Zema, que solicitou um encontro de 30 minutos.

 

Comando feminino

O ex-prefeito de BH Alexandre Kalil dá a sua interpretação de como será a campanha eleitoral na capital mineira. “Eleição municipal as pessoas querem saber do ônibus ruim, do buraco na rua, do problema de saúde, da creche e da merenda. Não tem nada de direita e esquerda”, afirma. Kalil continua: “Quem manda no voto da casa é a mulher, que logo pergunta: uai, você vai votar nesse cara? Esse outro aqui me deu médico, tem merenda...”

 

Vítimas do Fundão


Em entrevista exclusiva à esta coluna, o advogado José Eduardo Cardozo, diz que a ação de indenização movida pelo escritório londrino Pogust Goodhead contra a BHP Group e a Vale tem uma dimensão ética, preventiva e pedagógica. A ação representa cerca de 700 mil atingidos pelo desastre socioambiental de Mariana e demanda uma das maiores compensações da história: 36 bilhões de libras esterlinas, ou seja, cerca de R$ 230 bilhões. Em audiência de instrução esta semana em Londres, a juíza responsável pelo caso atendeu ao pedido da Vale de mais prazo no julgamento, que deve agora ser concluído em 2025.

O que o julgamento da barragem do Fundão, em Londres, representa para Minas Gerais, um estado minerário com diversas barragens em situação crítica?
Essa discussão que envolve Mariana, como aquela que envolveu Brumadinho, é vital para o estado de Minas e para o Brasil. Por quê? Além da dimensão de princípio, de ética, de que quem causa o dano tem de reparar o dano, há também dimensão preventiva e também a dimensão pedagógica. Somente quando certas empresas percebem o dano que causam, começam a tomar cuidados. Uma empresa estrangeira, mesmo associada a brasileira, não pode vir a nosso país ou estado e fazer o que fizeram, pensando apenas no seu ganho, sem atentar para o meio ambiente e para a vida das pessoas. A indenização tem de ser paga, tem de ser justa e a punição tem de ser de tal monta que leve as empresas a se assustarem e se prevenir.

Esta ação em Londres se comunica com outras ações movidas contra a Vale, BHP e Samarco no âmbito da justiça brasileira?
É natural que a jurisdição brasileira seja acionada e é justa. Mas quando um estrangeiro comete dano no nosso país, tem de ser responsabilizado no nosso país e fora. A Justiça no mundo globalizado não tem fronteira. Essa ação na Inglaterra tem uma dimensão peculiar, representa cerca de 700 mil vítimas que sequer foram chamadas para dialogar para um acordo no Brasil. Não podemos ter situações em que estrangeiros vêm e não são responsabilizados em sua própria terra. Então, as iniciativas da Justiça brasileira são bem-vindas, assim como as iniciativas do estrangeiro. A situação fática é a mesma. Mas são ações que tramitam independentemente, nao têm interferência recíproca.

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