O bolsonarismo entrou na sua fase mais delicada. A pergunta central que se coloca é como reagirão os aliados ao cerco policial, conduzido pelas investigações, sobre acusados de gestar um golpe de estado. Ficar na linha de tiro de forças policiais ou judiciais é o pior dos mundos. Até as pedras sabem onde chegará. Esse futuro razoavelmente previsível coloca um dilema sombrio para os candidatos que, sem conteúdo, se sustentam exclusivamente sobre a narrativa bolsonarista da guerra cultural. A julgar pelos movimentos das lideranças mais experimentadas e expressivas do bolsonarismo, os sinais não são bons para o ex-presidente. Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) demitiu o Major Angelo Denicoli da empresa pública de TI do Estado. O major foi incluído na operação de busca e apreensão da Polícia Federal “Tempus Veritatis”.

Tarcísio troca abraços com Lula faz tempo. Bolsonaro, em desespero, convoca pelas plataformas digitais um ato público, justo em São Paulo. O desconforto do governador vai aumentar. Trair ou incentivar a mobilização? Qualquer uma das alternativas é ruim. Se abraçar o ato, e este demonstrar grande força, sela seu destino com Bolsonaro. O seu próprio governo poderá entrar na mira da Justiça e do governo federal. Menos verbas, mais fiscalização não costumam ser uma boa dupla. Caso opte por trair, perde adesão junto ao bolsonarismo.

Na outra ponta dos bolsonaristas, está o governador de Minas, Romeu Zema (Novo). Até há bem pouco tempo parecia ser o mais afeito a manter distância de Lula e exibir a adesão incondicional ao ex-presidente. A julgar pela vinda de Lula a Minas, e os últimos acontecimentos que se desdobram da operação da PF, o mesmo dilema pode estar posto a Zema. Tal situação se vislumbra no Rio de Janeiro, coração do bolsonarismo e paraíso das milícias. Exceção aos bolsonaristas raiz que se fizeram na política exclusivamente pela carona nas pautas da guerra cultural, os candidatos a prefeito, em maior ou menor intensidade, enfrentam a mesma dúvida. Os mais espertos procuram isolar o PL. Se não for possível, o colocam de lado, evitando o cenário prospectivo em que, às vésperas das eleições, estejam associados ao ex-presidente, ameaçado de ser preso.

A política é cruel e, nela, a cobrança por fidelidade por quem nunca demonstrou tê-la, é artigo para aqueles sem saída. Parece ser o caso do deputado estadual Bruno Engler (PL), fundador do Movimento Direita Minas. Torce para que o bolsonarismo não se desidrate até outubro ou que o “tempo da verdade” chegue depois das eleições. Opções extremas na política costumam conduzir a situações limites como as atuais. Bolsonaristas que se bateram na linha de frente do ex-presidente agora procuram minimizar o seu passado. Existem aqueles, como o senador Sergio Moro (União), que recusam o rótulo, e outros que fazem o mesmo, disfarçando a sua participação na tragédia que ajudaram a desenhar.



Existe uma afirmação em ciência política que “ninguém mobiliza massas impunemente”. Os tempos do tecnofeudalismo e os interesses da big techs pareciam desdizer isto, mas a hora da verdade está chegando. Bolsonaro que o diga. Para este, só resta torcer para a maré virar. Ainda que a lua não pareça estar cooperando, pelo menos não até as próximas eleições. Alguns costumavam acreditar que a terra era plana. Para eles, qual será a posição da lua?

Prisão que tarda

A Polícia Federal prendeu, na madrugada desta terça-feira de carnaval, Hugo Alves Pimenta, em Campo Grande (MS), por sua participação na Chacina de Unaí. Ele portava passaporte falso. Aconteceu há 20 anos, em 28 de janeiro de 2004. E teve repercussão internacional. Os auditores fiscais do trabalho Eratóstenes de Almeida Gonsalves, João Batista Soares Lage, Nelson José da Silva e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram vítimas de emboscada na região rural da cidade mineira de Unaí quando investigavam o trabalho escravo na região. Nove pessoas foram indiciadas como intermediários, executores e mandantes. Entre estes, os fazendeiros e irmãos Antério e Norberto Mânica, José Alberto de Castro e Hugo Alves Pimenta.

Recursos em liberdade

Depois de condenados a penas que somavam 100 anos, os irmãos Mânica, José Alberto de Castro e Hugo Alves Pimenta recorreram em liberdade. Foi apenas em setembro de 2023 que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou a execução provisória da pena de José Alberto de Castro, acusado de contratar os executores do crime. Ele foi preso. Antério Mânica, principal mandante, apresentou-se na sede da Polícia Federal em Brasília. Mas os mandatos de prisão expedidos contra Norberto Mânica e Hugo Alves Pimenta ainda não haviam sido cumpridos.

PL mineiro

Integrantes do núcleo duro do bolsonarismo pediram ao PL de Minas que apoie na mobilização de uma caravana para participar, em 25 de fevereiro, do ato convocado para a Avenida Paulista, em São Paulo. Cautelosos, na Assembleia Legislativa a maior parte da bancada de 10 deputados está na muda. Comparecimento mais provável, pelo momento, só os bolsonaristas considerados “raiz”: Bruno Engler e Caporezzo.

Com quem estará?

Quem pergunta ao secretário de estado de governo, Marcelo Aro (PP), com quem estará na eleição municipal ouve, com todas as letras: “Ainda não tenho posição, mas posso garantir, vou me posicionar na disputa”. Aro tem conversado com o prefeito Fuad Noman (PSD) e com outros pré-candidatos, que, embora não nomine, estão no campo da direita: o deputado estadual Bruno Engler (PL) e o senador Carlos Viana (Podemos).

Promessa

Sem antecipar os partidos com quem tem conversado, Marcelo Aro afirma que organiza as chapas num pool de partidos que, juntos, reunirão 30% das candidaturas a vereador de Belo Horizonte. “Isso representa, pelas minhas contas, de 30% a 40% do eleitorado. O nosso grupo político será o fiel da balança nesta eleição”.

Pacificação

O presidente estadual do PSD, deputado Cássio Soares, garante: o PSD de Minas está pacificado em torno da candidatura à reeleição do prefeito Fuad Noman (PSD). Neste momento, o prefeito passa a acertar o arco de alianças. “Temos conversado com o MDB, está bem encaminhado, com o União Brasil e com o PP. É possível que estejam conosco, além das legendas como o Avante, que integram o governo”, diz Cássio Soares. Na avaliação dele, o PSD buscará, já no primeiro turno, uma aliança com o campo da esquerda. “Com todo o respeito para com as candidaturas que estão postas, vamos conversar”, diz, apostando que, em certo momento, o presidente Lula e Rodrigo Pacheco (PSD), presidente Congresso Nacional, estarão mais presentes na organização do cenário da disputa.

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