As batalhas político-eleitorais, agora, para além do Legislativo, se deslocam para a formação das chapas majoritárias -  (crédito: Quinho)

As batalhas político-eleitorais, agora, para além do Legislativo, se deslocam para a formação das chapas majoritárias

crédito: Quinho

Dizem que à beira da morte, Lúcio Septímio Severo (145-211), que se dedicara à guerra 12 de seus 18 anos como imperador, fez chamar os filhos e herdeiros Caracala e Geta, deixando-lhes o conselho: “Enriquecei vossos soldados e não vos incomodeis com mais nada”. Sete anos depois, Caracala foi apunhalado por Macrino, prefeito da Guarda Pretoriana. Em sua trajetória, Caracala tentou persuadir médicos a abreviar a vida do pai doente; mandou a Guarda Pretoriana assassinar o irmão Geta, o que aconteceu diante da mãe; aniquilou, um a um os partidários de Geta; exilou e mandou executar a esposa Fúlvia Plautilla. Legionário experiente, Macrino preferiu se antecipar ao destino que anteviu para si, se nada fosse feito.


Em meio à antropofagia entre cartolas da política pela cooptação de candidatos a vereador que forrem com votos as camas em que irão se deitar os escolhidos para se eleger (ou reeleger); e na competição entre deputados para atrair prefeitos, com promessas irrealistas de fundos eleitorais; a política entra esta semana em uma nova fase. Abre-se a temporada das intervenções de diretórios nacionais, em contexto local, para se necessário, impor aos partidos nas cidades acordos de caráter nacional. E é assim que as batalhas político-eleitorais, agora, para além do Legislativo, se deslocam para a formação das chapas majoritárias.


Em Belo Horizonte, o prefeito Fuad Noman (PSD) corre contra o relógio. Esteve em Brasília tentando amarrar a unidade de sua legenda com Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Congresso Nacional, e Alexandre Silveira (PSD), ministro das Minas e Energia. Até então fora do governo, Pacheco indicou dois aliados, Anselmo Domingos na secretaria de Governo; e Célio Moreira, no Meio Ambiente. Fuad Noman também deu aval ao seu partido e ao União, para fortalecer as respectivas chapas proporcionais, por meio da cooptação de candidatos a vereador exonerados do governo municipal, antes vinculados ao grupo do ex-aliado Marcelo Aro (PP), secretário de estado da Casa Civil.

 


Em campo para unificar o seu partido, Fuad também voltou a jantar nesta semana com Alexandre Kalil (PSD). Mas quase depois de dois anos de governo sem uma conexão com o antecessor, Kalil anda irredutível: não faz promessas. Fuad Noman vive as suas dificuldades por não ter cultivado a política por hábito e por ter chamado para o governo adversários de seus aliados. Mas sendo pessoa que cumpre acordos, começa a recuperar o tempo perdido: caminha para a unidade do PSD, já consolidou o apoio do União, do Avante, Agir e PRD.


Diferentes são os problemas do senador Carlos Viana: eleito pelo PHS, com passagem nos últimos cinco anos pelo PSD, MDB, depois PL e Podemos –, tentou recentemente filiar-se ao União. Buscou aproximação com o Republicanos. Ao governador Romeu Zema (Novo), sinalizou desejo de aliança. Procurou Alexandre Kalil, a quem deve a sua atual cadeira; mas não arrancou dele a solidariedade que também lhe faltou hipotecar ao ex-prefeito, em outros tempos. O senador encontra resistências para construir apoiamentos e agora assiste à gestação da candidatura do deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos), seu ex-colega de emissora.

 


Se fosse dado a Septímio Severo a oportunidade de introduzir um adendo em seu derradeiro conselho aos filhos Caracala e Geta, talvez lhes tivesse mencionado que, embora favorecer as “tropas” (leia-se, aliados) seja um permanente ponto de tensão nas relações de poder, isso não basta para conquistar lealdades necessárias à política e ao governo. Mas claro, nunca se saberá se o imperador em seu leito de morte, conhecendo os filhos que tinha, não o tenha feito de caso pensado. Até aqui, o que a história registra pela voz de Herodiano, foi o desabafo de Septímio Severo, deixado em seu diário: “Fui tudo e nada vale a pena.”

 

No muro

 

O PSDB bateu o martelo em Belo Horizonte: decidiu não decidir, nos próximos dois meses, sobre a sucessão de Fuad Noman (PSD). Pelo momento, tem na mão a candidatura do ex-deputado estadual João Leite (PSDB), com bom recall nas pesquisas. Se por um lado há interesse na composição com o prefeito Fuad Noman, egresso do PSDB, por outro lado, há igualmente interesse em acompanhar a evolução do desempenho da candidatura de Gabriel Azevedo (MDB), presidente da Câmara Municipal.

 

Indigestão

 

Depois de perder para Marcelo Aro e na sequência retomar o controle do PRTB, Gabriel Azevedo migrou os candidatos a vereador da chapa do PRTB para a Federação PSDB-Cidadania, ela própria, “atacada” pelo PSD. A “troca” de amabilidades, contudo, não gera compromisso, diz um tucano, expert em defender os prefeitos do seu partido de “ataques” externos. “Guloso na política tem indigestão”, diz o tucano em off para evitar atritos com possíveis aliados. E andou distribuindo troco: “Com canibais, canibal e meio”.

 

Casamento


Os convites já foram enviados pelo presidente estadual do União Brasil, deputado federal Marcelo Freitas. Será nesta segunda o anúncio oficial da legenda de apoio à reeleição de Fuad Noman, na sede do partido em Belo Horizonte.

 

Pingo é letra


Ao celebrar a conquista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pelo terceiro ano consecutivo, como a melhor federal do país em ranking do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart de Almeida afirma: “Estamos muito felizes. Mas também tristes, pois infelizmente a UFMG não tem o reconhecimento da PBH”.

 

 

Prato frio

 

Quando o assunto resvalou para a política, em novo jantar na casa de Alexandre Kalil com Fuad Noman, o ex-prefeito disse: “À exceção de Bruno Engler, tenho relações com todos os candidatos. O que você fez por mim na minha campanha ao governo de Minas? Alguém me perguntou se eu concordo com a briga da PBH com a UFMG? Se eu concordo com essa ciclovia?” E arrematou: “Não há motivo para eu ter pressa. Não vou escolher ninguém agora”.

 

PT-PSD

 

Interessados em maior proximidade com a prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), expoentes do PSD Rodrigo Pacheco e Alexandre Silveira, além do presidente estadual Cássio Soares, trabalharam pela filiação ao PSD do atual vice-prefeito Ricardo Faria (ex-MDB). De olho em 2026, quando se projeta, na corrida à sucessão de Romeu Zema, a reedição da aliança, Alexandre Silveira já consolidou palanques com PT e PSD nestas eleições em Juiz de Fora, Teófilo Otoni e em Uberlândia.

 

Solidariedade

 

Rodrigo Célio de Castro, filho do ex-prefeito Célio de Castro, até então filiado ao PSB, migrou, esta semana, para o Solidariedade. Vai ser candidato a vereador.