O grande eleitorado ainda não está atento para o tempo da política. Por enquanto coleciona as impressões em suas cidades: o atendimento público da saúde, a merenda escolar, a mobilidade urbana, a limpeza urbana, as áreas de lazer, os parques e praças, o verde... Aí estão demandas que afetam a rotina de moradores da porta das casas para fora.

 

O ambiente macroeconômico – sobretudo o custo de vida – abraça todas essas percepções, afetando o ânimo do eleitor: numa eleição municipal, mau humor inflacionário tira votos. Em nova camada, mais profunda, estão as narrativas que circulam em segmentos de certo eleitorado raiz, atitudes cristalizadas num “ethos” que vem sendo chamado de “bolsonarista”: uma mistura de conceitos religiosos impregnando a política e preconceitos reafirmados, que podem ser resumidos, para as camadas populares mais religiosas, numa visão que associa ao diabo o pensamento de esquerda e de políticos anunciados como de esquerda.

 

Em reação a essa visão que diferentemente de conservadora pode ser chamada de retrógrada, está o eleitorado à esquerda: em torno de teses identitárias, faz o contraponto pedindo o direito à diversidade e de acesso às oportunidades; patrocina uma discussão civilizatória importante, ao mesmo tempo em que alimenta o discurso da extrema direita. Ao que tudo indica, perdeu-se a dimensão, um dia central, de redução das desigualdades sociais e econômicas.


As eleições municipais não vão passar imunes a todas essas contradições. E como os fluxos de comunicação – sejam estes controlados nos feudos da tecnopolítica ou direcionados nas bolhas constituídas em mídias digitais – mais reforçam do que mudam percepções cristalizadas, os candidatos precisarão apostar em todas as mídias e oportunidades disponíveis para alavancar a sua mensagem.

 

Ainda que o horário eleitoral gratuito não tenha mais capacidade, por si, de alcançar o fim – ou seja universalmente o eleitor –, segue como um meio que, em convergência com as mídias digitais, poderá ser compartilhado e redirecionado.

 

Na extrema direita, o PL, com o apoio do PP, já reúne em Belo Horizonte, para a candidatura do deputado estadual Bruno Engler, aproximadamente 29% da parcela do tempo do horário eleitoral gratuito (90%) distribuído proporcionalmente entre bancadas federais eleitas em 2022.

 

As candidaturas do senador Carlos Viana (Podemos) e da secretária de estado do Planejamento e Gestão, Luísa Barreto (Novo), seguem com dificuldades para articulação de alianças: e como as bancadas são pequenas, se não firmarem alianças, terão tempo de horário eleitoral periférico.

 




O prefeito Fuad Noman (PSD) começou ontem a consolidar um movimento de aglutinação de partidos de centro: o acordo do PSD com o União e o Avante, até aqui representam aproximadamente 21% do tempo do horário gratuito distribuído proporcionalmente entre as bancadas federais. Ainda estão sendo disputados, nesse espectro de centro, entre as candidaturas de Fuad Noman, de Gabriel Azevedo (MDB), presidente da Câmara Municipal, e do ex-vice-governador Paulo Brant (PSB), partidos que ainda não se posicionaram: Republicanos (8% do tempo); e a Federação PSDB-Cidadania (3,6% do tempo). Estando ao centro, todos os três têm igual facilidade para transitar entre a esquerda e a direita. Na esquerda, até aqui, as candidaturas marcham isoladas, conversando, mas ainda não se acertando. O deputado federal Rogério Correia, pela Federação PT-PV-PcdoB, tem aproximadamente 16% do tempo do horário eleitoral distribuído segundo o peso das bancadas; a deputada federal Duda Salabert (PDT) e a deputada estadual Bella Gonçalves (Federação Psol-Rede) contam na Câmara dos Deputados com bancadas nessa ordem, de 17 e 14 parlamentares, o que lhes dará, se seguirem sozinhas, cerca de 3% do tempo proporcional.

 

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Costura

A chegada do União ao barco do prefeito Fuad Noman passou por uma articulação nacional entre o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD), o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab e as lideranças do União de Minas, com as quais Pacheco tem trânsito e origem comum: antes do PSD, Pacheco foi do Democratas, que se transformou em União pela fusão com o PSL.

 

Profissional em campo

O ex-deputado federal Bilac Pinto (União) passa a ser um dos principais interlocutores políticos de Fuad Noman na coordenação política de sua campanha. “Vou ajudar a construir a aliança”, diz Bilac, indicando movimento na direção do Republicanos e da Federação PSDB-Cidadania. Ao mesmo tempo em que afirma a intenção de trabalhar pela indicação do vereador Álvaro Damião (União) para vice na chapa de Fuad Noman, Bilac Pinto considera: “Política é construída. Temos de entender como as coisas vão evoluir”.


E o título?

Mencionado, ele próprio, entre conversas, como potencial candidato a vice de Fuad Noman, Bilac Pinto já acena com o seu título de eleitor: “É de Santa Rita do Sapucaí”.


Denúncia anônima

Chegou ao Ministério Público denúncia anônima contra o edital da concorrência pública aberto pela Loteria Mineira para a exploração dos jogos de prognósticos por captação de apostas online. Segundo a denúncia, além de exclusividade por 26 anos na exploração dos jogos, o edital restringe, por exigências absurdas, a participação de candidaturas. A Loteria Mineira acatou a impugnação do edital pela concorrência. Cancelou a entrega dos envelopes, nesta terça-feira, dia 9.


Irreversível

O deputado federal Rogério Correia (PT) afirma que a sua candidatura à PBH é irreversível e prioridade nacional de seu partido. “Trabalhamos agora para unificar a esquerda. Buscamos aliança com Duda Salabert (PDT), Bella Gonçalves (Psol) e Paulo Brant (PSB)”, diz.

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