A Nvidia, atual queridinha do mercado financeiro, publicou o seu balanço financeiro. Depois de as suas ações nas bolsas de valores saltarem mais de 8%, a empresa de tecnologia americana passou a valer a incrível quantia de 2,55 trilhões de dólares. Seria quase como somar o PIB do Brasil e da Argentina em 2023.
Um “analista do mercado financeiro” lamuriava, no mesmo dia, sobre o erro do Brasil em não ter apostado em ciência e tecnologia. Mas o autor do comentário é forte defensor da “mão mágica” do livre mercado, como aliás é praxe no meio.
Todo ultraliberal brasileiro se assemelha a um fisiocrata, guardada as devidas proporções e ressalvados os séculos que os distanciam. No Brasil o agro é pop e tech. Paulo Guedes que o diga. Guedes é aquele da “granada no bolso do funcionalismo público”. O que seria do agro sem a Embrapa? O que seria do agro sem as toneladas de LCA e CRAs que rodam no mercado?
Também nesta semana que se encerrou, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se recusou a comparecer em eventos de inauguração que Lula iria fazer em cidades de São Paulo. Apesar da visibilidade das obras, Tarcísio agora quer distância de Lula.
O motivo é óbvio. Chama-se herança do bolsonarismo. Mas os conservadores no Brasil enfrentam três graves dilemas, já que estão de olho na sucessão presidencial de 2026. O primeiro diz respeito a pegar o bastão do antigo mito e passar para aquele que carregue com alguma truculência, sem entretanto chegar ao nível de bestialidade do original.
Dentre os que pleiteiam o bastão, Tarcísio é sem dúvida o mais credenciado. Primeiro porque governa o maior estado entre os governados pela oposição de viés bolsonarista. Mas Tarcísio andava muito aberto às negociações e confabulações com Lula, e isso arrepia as lideranças bolsonaristas. Para mostrar seu jeito Bolsonaro de ser, o governador paulista colocou a polícia de seu estado para barbarizar as populações carentes. Essa violência cai nas redes sociais e a indignação eleva pontos negativos para a PM e o seu chefe.
As elites econômicas brasileiras têm horror ao grotesco. Querem um novo Bolsonaro, mas que não seja Bolsonaro. Já os grupos neonazistas e haters das mídias digitais querem um novo Bolsonaro em sua versão original ou mais brutal. Tarcísio tenta e vai continuar tentando. Haja jogo de cintura.
Um segundo problema é que, para vencer Lula, os conservadores terão de unir o bolsonarismo raiz, mas também as lideranças preteridas, depois que o ex-mito bater o martelo. Em eleições presidenciais passadas, com Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin, políticos forjados na negociação, reunir todos num mesmo barco nunca foi fácil e os ornitorrincos viraram motes e piadas de campanha.
Como esquecer os Lulécios, Dilmasias e coisas afins? Se com políticos tradicionais era difícil, imaginem com o bolsonarismo e seus habilidosos e gentis membros. Elefantes e lojas de cristais nunca fizeram boa parceria.
Um terceiro e último problema decorre do programa de governo. A ultradireita parece estar vivendo seu inferno astral. Apoia Israel e as redes mostram tantos massacres, que a opinião pública, apesar da realidade virtual, força até a ONU a indiciar Israel.
Condena a tese do aquecimento global e um dilúvio de proporções bíblicas arrasa o Sul do país. A política tecnofeudal, é bem verdade, opera milagres com a sua realidade virtual, mas quando a realidade toma a cena, fica difícil contrariar. Os economistas do futuro candidato vão tentar repetir François Quesnay: “Que nunca percam de vista, o soberano e a nação, o fato de a terra ser a única fonte das riquezas e que a agricultura as multiplica”. Se em 1767 esse discurso já não colava, imagine hoje. A Nvidia mostrou cabalmente que no mundo atual o feudo bom é o tecnofeudo. Com a palavra o próximo Paulo Guedes, digo a fisiocracia...
Revival
Há 12 anos, a esta altura da pré-campanha, a capital mineira assistia às prospecções do subsolo para a expansão do metrô. E nas duas últimas décadas, não houve uma única eleição municipal em que as promessas não retornassem à pauta. Essa velha conhecida da população belo-horizontina está de volta com o marketing político eleitoral em torno da expansão do metrô. Desta vez, as placas publicitárias de trens estão afixadas nos gradis do Palácio da Liberdade com a legenda: “Novo metrô”.
Pré-campanha
Nove dos 53 deputados federais da bancada mineira estão em campanha, com as pré-candidaturas colocadas. Quatro são do PT, dois do PL, dois do Avante e uma do PDT. Em Belo Horizonte concorrem Rogério Correia (PT) e Duda Salabert (PDT). Dandara (PT), em Uberlândia; Leonardo Monteiro (PT), em Governador Valadares; Paulo Guedes (PT), em Montes Claros; Junio Amaral (PL), Contagem; Rosângela Reis (PL), em Ipatinga; Bruno Farias , em Teófilo Otoni; e Delegada Ione (PL), em Juiz de Fora.
Internacional democrática
Deputados federais norte-americanos e parlamentares brasileiros que participaram das comissões parlamentares de inquérito (CPIs) para apurar responsabilidades das tentativas de golpe de Estado em 6 de janeiro de 2021 e em 8 de janeiro de 2023, publicaram declaração conjunta convocando democratas de todo o mundo a se unirem em defesa das instituições democráticas. “Reconhecemos os paralelos próximos e inquietantes entre os eventos de 2021, nos Estados Unidos, e o de 2023, no Brasil. As graves tentativas de subverter os resultados de eleições através de fraude e violência refletem uma crescente ameaça global às instituições democráticas”, anotam.
Bodes expiatórios
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) é a primeira, entre oito parlamentares brasileiros, a firmar o documento. O deputado democrata Jamie Raskin é o primeiro signatário, entre os sete norte-americanos. “É imperativo que os legisladores comprometidos com a democracia e a liberdade se unam internacionalmente para combater práticas antidemocráticas, como a proliferação do discurso de ódio e a utilização de bodes expiatórios para transferir responsabilidades, a discriminação baseada em raça e gênero, a disseminação de desinformação online e a promoção de violência política e autoritarismo”, assinalam.