A pressão do governo Romeu Zema contra deputados infiéis da base surtiu efeito. Alguns parlamentares chegaram a temer que o movimento de Zema poderia ser um tiro no pé. Em retaliação à votação favorável a um aumento maior para o funcionalismo público, Zema exonerou indicados pelos aliados para ocupar cargos públicos. Além disso, o governo ameaçou não receber mais os infiéis e nem atender suas demandas nos municípios.

 

A estratégia deu certo, comprovando, mais uma vez, que o controle do parlamento por meio da estrutura do estado (cargos e emendas) nunca falha. Ainda que não seja republicano.

 

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Na terça-feira passada, dia da votação em primeiro turno da emenda que garantia aumento de 10,67% para as forças de segurança, Zema ganhou por apenas um voto de diferença. E no máximo por cinco votos nas outras propostas que também aumentavam benefícios para o funcionalismo. Nesse dia, alguns deputados da base alinhados com as forças de segurança votaram contra todas as propostas que ampliaram direitos para o servidor, com exceção da que garantia benefício maior para as polícias.

 

O placar de ontem foi bem mais folgado. O governador derrotou todas elas, inclusive a das polícias, por oito votos de diferença, mesmo com quórum menor do que o de terça, quando 71 dos 77 parlamentares marcaram presença. Ontem foram 66.

 

Alguns deputados da base, estrategicamente, não compareceram à votação. Outros mudaram de lado. Uma parlamentar, a deputada Lud Falcão (Podemos), também retaliada por apoiar um aumento maior para as polícias, se absteve de votar.

 

Se essa estratégia terá algum custo político, a votação dos projetos que elevam as contribuições do funcionalismo ao Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg) e dos Militares (IPSM) poderá ser o termômetro. Não só para medir o grau de fidelidade da base, que reclamou, mas também para saber se o governo pretende abdicar de vez do diálogo e garantir suas votações na pressão. (Alessandra Mello)

 

Corra que o servidor vem aí

 

O governador Romeu Zema (Novo) cancelou uma visita agendada para ontem, em Ipatinga, no Vale do Aço. Zema participaria de um evento da prefeitura de entrega de títulos de regularização fundiária. A prefeitura de Ipatinga acabou também cancelando o evento, que deve ser remarcado para contar com a presença de Zema. As forças de segurança preparavam uma manifestação contra o governador por melhorias salariais, como tem tentado fazer em diversas agendas de Zema no interior do estado, todas até agora frustradas, pois as viagens têm sido canceladas, geralmente em cima da hora. (AM)


Mea culpa

 

As entidades de classe que representam as polícias aproveitaram o 9º Congresso Mineiro de Municípios, realizado esta semana em Belo Horizonte, para protestar contra o governador. Elas espalharam, em locais estratégicos por onde passaram os prefeitos, faixas cobrando melhorias salariais e responsabilizando o governador em caso de paralisação da polícia. “Prefeitos, se a polícia parar no seu município a culpa é do Zema”. (AM)


Cada dia mais próximos

 

O ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) se reuniu ontem, mais uma vez, com o pré-candidato do PT à Prefeitura de Belo Horizonte, Rogério Correia. De acordo com o deputado, eles falaram de tudo. “Menos do Galo”, afirmou o parlamentar que, como o ex-prefeito, também é atleticano. O PT vem cortejando o ex-prefeito para ter seu apoio nas eleições e chegou a oferecer para Kalil a possibilidade de ele indicar o candidato a vice da chapa, de preferência uma mulher de perfil mais de centro. (AM)


Com Kassab

Também participaram da reunião o presidente do PT de Belo Horizonte, Guima Jardim, e Camila Moreno, da direção executiva nacional do PT, além do ex-prefeito e deputado federal Patrus Ananias (PT), da ex-deputada federal Jô Moraes e do vereador Bruno Pedralva (PT). Ontem também Kalil se reuniu com o presidente nacional do seu partido, Gilberto Kassab (PSD-SP). O encontro ocorreu dois dias após o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmar que o ex-prefeito, por coerência partidária, teria obrigação de apoiar a reeleição do prefeito Fuad Noman (PSD). Kalil não respondeu o ministro e preferiu conversar com quem de fato tem poder sobre o PSD. E segue fazendo mistério sobre seu destino, mas cada dia mais dando sinais de uma composição com o PT, repetindo a dobradinha de 2022, quando disputou o governo coligado com o partido. (AM)

 

Foco errado

 

Um projeto em tramitação na Câmara dos Deputados proíbe homens que agrediram mulheres dentro de academia de frequentar esses locais. Outra proposta em tramitação na Câmara Municipal de Belo Horizonte proíbe a população de pescar, nadar e usar barco ou jet ski na Lagoa Pampulha, na capital mineira. Não seria melhor que os nobres parlamentares se preocupassem em despoluir a lagoa ou em criar políticas públicas para combater a crescente violência contra as mulheres? Punir as academias de ginástica ou proibir lazer em uma lagoa absolutamente poluída, há muito não usada para atividades recreativas, não vai resolver nada. Pura perda de tempo. É combater o sintoma e não a causa da doença. (AM)

 

Perfil racial da Justiça

Elaborado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Relatório Justiça em Números de 2023 traz, pela primeira vez, um perfil racial da magistratura brasileira, majoritariamente branca e masculina. Concluído em maio, ele aponta que a maior parte dos magistrados negros estão lotados nas justiças Eleitoral (18,1%), do Trabalho (15,9%), Estadual (13,1%) e Federal (11,6%). O menor percentual de magistrados negros é o da Justiça Militar Estadual, com apenas 6,7%. Já na Justiça Militar da União são 23,1% de juízes de primeiro grau negros. Nos tribunais superiores, só hávia magistrados negros no Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Agora, com a nomeação da ministra Edilene Lobo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também passou a contar com uma magistrada negra. (AM)

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