Em sua batalha particular para se equilibrar entre o pragmático PSD de Gilberto Kassab e ideologia extremista do bolsonarismo raiz, Tarcísio de Freitas (Republicanos) é levado reiteradamente a reafirmar “lealdades”. Nem tão longe estão os arroubos em defesa das operações policiais altamente letais para a população da periferia: só nos três primeiros meses de 2024, cresceram 138% as pessoas mortas por policiais militares em serviço em São Paulo, num total de179 corpos abatidos. Tarcísio posa dentro da lógica de “polícia boa é polícia que mata”.


Agora reitera declarações de que “sempre foi bolsonarista e sempre será” ao mesmo tempo em que tenta desesperadamente ressignificar o termo. Tarcísio quer afastar a associação do bolsonarismo à tentativa de golpe de Estado, ao negacionismo científico, à necropolítica, para não mencionar a guerra cultural que busca firmar os fundamentos de um estado teocrático. Em vez de retrógrada – definição correta para o corpo de valores que o bolsonarismo busca consolidar – Tarcísio se declara “conservador”. São coisas totalmente diferentes.

 

Mas para manter a pose de “bolsonarista” sem ser Bolsonaro, Tarcísio afaga Gilberto Kassab e a sua abertura ao diálogo. Fala de suas relações e papel no governo Dilma Rousseff (PT), às vezes vai a encontro com o presidente Lula (PT) e dá a ares de bom menino. Enquanto a radicalização eleitoral não está nas ruas, o governador de São Paulo vai navegando. Os bolsonaristas vão engolindo... Nunca se sabe como será depois, quando o clamor das disputas se apresentar no palco.


Já o governador Romeu Zema (Novo) segue em seu estilo manso de ser. Aproveitou-se do lançamento da candidatura do Novo à sucessão em Goiânia para mais um gesto público de aproximação com o governador Ronaldo Caiado (União). Zema atualmente parece conformado em estar, dentre os candidatos que lutam pelo espólio eleitoral do ex-presidente, o menos cotado para queridinho do bolsonarismo raiz.
Michelle Bolsonaro, Ratinho Júnior (PSD) e Ronaldo Caiado andam submersos da cena nacional na corrida ao espólio bolsonarista. Como a via das manifestações parece ter desembocado num nada, os três parecem aguardar um sinal dos tempos. Entre eles, Michelle alimenta mais sonhos por sua estreita relação com a base evangélica. Em comum, os cinco nutrem o desejo de agarrar a herança do extremismo cristalizado. Um atalho cognitivo e tanto numa eventual corrida presidencial, em que enfrentam um território continental para se apresentar, sem nítidas referências de lideranças locais que possam avalizá-los.

Os candidatos a herdeiro lidam com a inconveniência de um “mito” em batalha de vida ou morte com uma Justiça que tentou decapitar. Aliás, um “mito” que aposta em si: trabalha mesmo é para alcançar a “anistia” por atos contra o Estado democrático e para reverter a inelegibilidade. Todos que brigam pelo espólio, como Tarcísio, têm a dura tarefa de parecer um “fantoche” do ex-presidente, mas igualmente mais razoáveis do que o original. É que se Jair Bolsonaro não gostar ou mudar de opinião na última hora, podem ser lançados ao limbo. Ser poste de político nunca foi desafio fácil. De políticos de viés autocrático então... Ser ou não ser o poste é a questão.

 



 

Galo de briga

Candidato à sucessão de Romeu Zema em 2026, o vice-governador Mateus Simões (Novo) aposta na visibilidade que alcançará com o confronto direto com o governo Lula. Em evento da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) para a apresentação do PIB do agronegócio em Minas, Simões disse que o governo federal tem “falhado com agricultores”. Além de mencionar as dificuldades dos produtores de leite com a concorrência internacional subsidiada por outros países, atacou a importação do arroz. “O presidente da República, em uma manifestação pública de botequim – conversa de boteco – resolve dizer que nós tínhamos o risco de desabastecimento de arroz. O que é mentira. Fake news na boca de quem está no Planalto parece não ter problema". (Ígor Passarini)


Reação


Mateus Simões conseguiu chamar a atenção do Ministério da Agricultura e Pecuária. Em nota, a pasta informou que “desde que foram identificadas dificuldades na cadeia produtiva leiteira, o governo federal vem tomando medidas de socorro ao setor”, entre elas, linha de financiamento ao setor com taxa fixada em 8% ao ano com limite de crédito de até R$ 40 milhões. A pasta rebateu também as críticas sobre o leilão de arroz: citou os entraves para o escoamento dos grãos e as variações de até 40% nos preços do arroz, um comportamento “especulativo e aproveitador, diante da calamidade pela qual passa o Rio Grande do Sul”. (IP)


Disponibilidade

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aplicou a pena de disponibilidade – a segunda sanção mais grave do Judiciário –, por 60 dias, à juíza Zilda Maria Youssef Murad Venturelli, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, pelo compartilhamento de mensagens de campanha negativa contra o presidente Lula. Todos os conselheiros entenderam que a magistrada cometeu falta funcional e violou a Lei Orgânica da Magistratura Nacional ao publicar material de caráter político-partidário. Juízes são proibidos de demonstrar apreço ou desapreço a candidatos, lideranças políticas e partidos políticos.

 

PL-Novo

A principal missão do presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, em Belo Horizonte ontem foi articular junto ao governador Romeu Zema (Novo) a chapa Bruno Engler (PL)-Luísa Barreto (Novo) para a PBH. Ainda que não se explicite quem ficará na vice, o critério é o de quem está pontuando mais nas pesquisas eleitorais. Costa Neto condiciona o apoio do PL ao Novo nas eleições de 2026 a esta composição na capital mineira e em outras cidades importantes. Segundo ele, aquelas que chama de “estrelas” do partido estarão no estado pedindo votos: o deputado Nikolas Ferreira (PL), Michelle Bolsonaro, o senador “astronauta” Marcos Pontes e o ex-presidente Jair Bolsonaro.

 


Refundação

O advogado e ex-deputado constituinte Vivaldo Barbosa estará em Belo Horizonte nesta sexta-feira, 14 de junho, para o projeto de refundação do PTB, que originariamente traz em sua essência o trabalhismo brizolista. No mesmo projeto estão ex-socialistas que deixaram a legenda com a chegada do deputado estadual Noraldino Júnior, entre eles, o ex-deputado federal Mário Assad Júnior, que foi presidente, e o ex-deputado federal Carlos Mota. Em 2023, o antigo PTB se fundiu ao Patriota, dando origem ao Partido da Reconstrução Democrática (PRD). O grupo de Vivaldo Barbosa já tem autorização da Justiça eleitoral para coletar assinaturas necessárias à criação do novo PTB.

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