A extrema direita no Brasil é maior do que o bolsonarismo? Os dois termos, é bem verdade, têm sido usados quase como sinônimos -  (crédito: Quinho)

A extrema direita no Brasil é maior do que o bolsonarismo? Os dois termos, é bem verdade, têm sido usados quase como sinônimos

crédito: Quinho

A extrema direita no Brasil é maior do que o bolsonarismo? Os dois termos, é bem verdade, têm sido usados quase como sinônimos. A posição ideológica extremada, em princípio, foi vinculada ao político que, na pós-redemocratização e no contexto do lavajatismo e da desmoralização da arena da política, explorou com método as narrativas antissistêmicas, anticientíficas, antidemocráticas. Ganhou adeptos no caldeirão que juntou comportamentos latentes, nem sempre explícitos, mas muito presentes em parte da sociedade brasileira: o machismo, a misoginia, o racismo, a homofobia, o apoio à ditadura militar, o senso de hierarquia social e a fantasia da crença religiosa que substitui a autoridade do conhecimento científico.

 

 

Mas, em São Paulo, no contexto da sucessão na capital, a criatura se rebela contra o criador. O ex-coach Pablo Marçal (PRTB) enfia o dedo na ferida. A extrema direita dá indicações de que inicia um movimento “separatista” do clã familiar que pariu o bolsonarismo. O ovo chocado salta do ninho com a força original do repertório que reforça estereótipos, cospe na arena pública , ganhando protagonismo pela força da indignação que provoca em mentes sãs.

 

Ao polarizar com Guilherme Boulos (Psol), com quem está tecnicamente empatado, Pablo Marçal (PRTB) toma o lugar do prefeito Ricardo Nunes (MDB), a quem ultrapassou numericamente, segundo informa o Datafolha desta quinta-feira. Provoca estresse na sucessão paulista, ameaçando Nunes, o conveniente candidato à reeleição de Jair Bolsonaro, que precisa do ex-presidente em seu palanque, mas preferiria não tê-lo.

 

 

Com um comportamento desviante, inadequado ao debate político, Pablo Marçal vai acumulando seguidores nas mídias digitais: age com a desenvoltura de Bolsonaro, antes de se tornarem públicos, entre outros, a tentativa de golpe e o caso das joias sauditas. Mas o reinado de Pablo Marçal começa a sofrer abalos. O seu passado vem sendo exposto pela mídia e o “fogo amigo” de ex-aliados também é intenso. É da lavra do ex-aliado e “irmão”, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) a crítica ao PRTB de Marçal, associando os integrantes da legenda ao PCC, em operações de troca de carros de luxo por cocaína. Já Bolsonaro, o pai, em ofensiva contra o ex-coach, divulga vídeo em que Marçal o critica, tentando se desvincular do ex-aliado.

 

Nessa briga de comadres, todas parecem ter razão. A ficha corrida de Pablo Marçal começa a ganhar visibilidade e é, precisamente ela, que poderá salvar o bolsonarismo do grito de independência da extrema direita. Nada pior do que um lacrador que aponta o dedo aos adversários, ocultando o próprio passado criminal.

 

Se em São Paulo Bolsonaro luta para reafirmar o seu protagonismo nesse campo político, em Minas Gerais, pelo momento, enfrenta problemas de outra natureza. Na sucessão à Prefeitura de Belo Horizonte, o seu ninho, neste primeiro turno, está sob o cuidado do deputado federal Nikolas Ferreira (PL), do deputado estadual Bruno Engler (PL) e do senador Cleitinho Azevedp (Republicanos). Mas a paz no seio do bolsonarismo em Minas poderá ser fugaz.

 

Outrora em órbita de satélite do bolsonarismo, o governador Romeu Zema (Novo) dá sinais de afastamento: apesar do ultimato de Valdemar da Costa Neto, rejeitou Engler para apoiar o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos), a este indicando a sua vice, Luísa Barreto (Novo). E, se por um desígnio do eleitorado belo-horizontino, o segundo turno se desenhar entre Tramonte e Engler, aí sim, o bolsonarismo terá novas razões para confrontar, no caso mineiro, a direita. Assim será a guerra pelo protagonismo do eixo.

 

Crime organizado

A presença do crime organizado nas eleições no estado de São Paulo é bem maior do que se imaginava, assegurou o chefe do centro de inteligência da Polícia Militar do Estado de São Paulo, coronel Pedro Luís de Souza Lopes. A Polícia Civil aponta vários candidatos financiados pelo crime organizado. Mas, segundo especialistas mineiros, o problema está disseminado no país e as autoridades estão articuladas nestas eleições para tentar deter o fenômeno.


Método universal

Estudiosos do tema salientam que o modelo de atuação do crime organizado no Brasil é clássico, se repete em todo o mundo: infiltram seus representantes em instituições do Estado. O processo eleitoral é uma das formas. O financiamento de campanhas é muito frequente. Também é muito comum o controle do acesso aos territórios dominados pelo crime organizado: só entram candidatos apoiados pelo comando local.


Nó górdio

O enfrentamento ao crime organizado, na avaliação de especialistas, deve ser coeso, com troca de informações e inteligência entre órgãos de controle, o que não é praxe no Brasil. A única forma de enfraquecer essas organizações é por meio da identificação e sequestro pelo Estado de todos os ativos obtidos de forma ilícita.

 

Estresse

A expectativa da divulgação do Datafolha, nesta quinta-feira, gerou estresse nas campanhas. Havia incerteza de quem estaria numericamente nas cinco primeiras posições, critério definido para a participação nas entrevistas realizadas pelo portal G1. O resultado também é critério definidor para a cobertura diária da TV Globo: apenas candidatos com intenção de voto igual ou maior de 5%. Até o próximo levantamento, as posições poderão ser atualizadas.

 

 

Gênero em pauta

Irmão do senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), o deputado estadual Eduardo Azevedo (PL) é autor do Projeto de Lei 1296/23, que tenta impedir que pessoas transgênero participem em testes físicos de concursos para a administração pública do estado com pessoas do sexo biológico feminino. Relatada pela deputada estadual Bella Gonçalves (Psol), a matéria recebeu parecer pela rejeição na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia. Com o voto contrário do deputado Caporezzo (PL).


Casarões

Os casarões Solar Narbona e o Palacete Dantas, que integram o Circuito Cultural Praça da Liberdade em Belo Horizonte, serão restaurados para abrigar o Centro Cultural da Justiça Federal. Acordo de cooperação técnica entre o Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6) e o Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG), assinado entre a desembargadora Mônica Sifuentes, presidente do TRF6, e o procurador-geral de Justiça, Jarbas Soares Júnior, permitirá a destinação para as obras de R$ 1,4 milhão. Os recursos são oriundos da Plataforma Semente, recuperados pelo Ministério Público de ações na área ambiental.