Se há algo que a política ensina é que as candidaturas à reeleição bem-sucedidas costumam ser comparadas, em seu nascedouro, ao percurso dos rios. Governantes que fazem o seu dever de casa, em geral são bem-avaliados. Está aí, na boa avaliação, um entre poucos e importantes preditores de voto. Muito além da perspectiva da gestão, contudo, essa é uma dimensão que refere-se também – e sobretudo - ao âmbito da política.

 

 

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É lá onde se processa a competição pelos recursos sempre escassos. Na política está o refúgio para a construção de consensos. É lá onde se cavam as soluções para o impossível. Quando concorrem a um novo mandato, tais governantes se assemelham às corredeiras: rasgam com naturalidade montanhas e vales; para abraçar o oceano, basta a gravidade.

 

 


Se em Belo Horizonte, o ex-vice prefeito Fuad Noman (PSD), candidato à reeleição, em pouco mais de dois anos de governo não teve tempo de se apresentar à cidade como prefeito – e por isso enfrenta nesta campanha o preço; o mesmo não se pode dizer de Marília Campos (PT), na vizinha Contagem. No terceiro maior PIB de Minas, R$ 36, 48 bilhões (IBGE/2021), Marília enfrentou em 2020 uma eleição difícil em segundo turno.

 

 

Engatou ali o diálogo para expandir a base política que lhe sustentaria ao longo do mandato, inclusive ampliada pelo tipo de interlocução que estabeleceu. Marília chega nesta candidatura à reeleição com coligação formal integrada por 14 legendas, que, em Belo Horizonte, apoiam cinco candidatos à sucessão municipal: PT, PcdoB, PV, Psol, Rede – estão com Rogério Correia (PT); PP está coligado com o PL de Bruno Engler; MDB e PSB sustentam a candidatura de Gabriel Azevedo; o PDT, a de Duda Salabert; o PSD, Solidariedade, União e a Federação PSDB-Cidadania compõem a aliança de Fuad Noman.

 

 



 

 

Há ainda, em Contagem, legendas como o Republicanos, de Mauro Tramonte, que não está na coligação formal, mas tem lideranças na cidade em sustentação à reeleição dela.

 

 

Quando indagada sobre apoio tão amplo – no contexto de uma sociedade fraturada, polarizada em torno de teses artificiais – Marília Campos retruca: “Discuto os interesses da cidade e da população. Não entro em pautas de valores, em polarização que nada tem a ver com a gestão da cidade. Faço parceria com o governo federal, com o governo Zema e em Brasília, visito todos os parlamentares que tiveram voto e me ajudam aqui com emendas”.

 

 

Liderando pesquisas de intenção de voto com ampla margem, nesta eleição, Marília Campos tem como principal adversário o deputado federal Junio Amaral (PL), coligado ao Novo, que terá o apoio de Jair Bolsonaro (PL). Também concorrem Dulce (PMB), Gustavo Olimpio (PSTU) e Sebastião de Oliveira Pessoa (PCO).



Se reunir apoios tão amplos à sua reeleição foi consequência natural de seu governo, o desafio maior de Marília foi administrar a disputa entre apoiadores pela posição de vice na chapa. O MDB gostaria de ter o vereador e líder de governo Teteco; o União Brasil postulou Jorge Periquito, ex-assessor de Rodrigo Pacheco (PSD); e o PSD, do atual vice, Ricardo Faria, trabalhou para manter a mesma chapa.

 

 

No embate de forças – que projeta a liderança de Marília Campos nas eleições de 2026 – Faria venceu por inércia. Assim, a eleição municipal de Contagem é a paisagem que ilustra a atração entre a política e a perspectiva de poder. Com a palavra, Álvaro de Campos, digo, Fernando Pessoa.

 

 

 


O retorno

O Projeto de Lei 2238/2024, do governo Zema, que aumenta o piso e o teto de contribuições de servidores estaduais ao Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg) vai voltar à pauta da Assembleia Legislativa nesta quarta-feira (28/8). A estratégia para driblar a obstrução da oposição, contrária à matéria, é deixar correr o limite de seis sessões em que uma proposta pode permanecer em discussão no plenário. A votação da matéria deve ocorrer após as eleições.

 

 


Sem quórum

Na quarta-feira passada, a Assembleia iniciou o debate do projeto do Ipsemg, mas houve esvaziamento do quórum pela base de Zema, que evita a matéria indigesta em plena campanha eleitoral: o projeto sobe de R$ 33,02 para R$ 60 o piso dos repasses mensais de beneficiários; e o teto passa de R$ 275,15 para R$ 500. Está prevista alíquota extra de 1,2% aos usuários com mais de 59 anos, além do fim da isenção de contribuição para dependentes com até 21 anos.

 

 

Disparada

Flagelo da economia brasileira desde os anos 80, fim da ditadura militar, em junho de 1994, às vésperas do lançamento do Plano Real, a inflação, pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), passava de 47% ao mês. A partir de 1996, apenas por três vezes superou os 10% ao ano. “O plano foi bem-sucedido, um dos poucos casos na história de desinflação sem queda na atividade econômica”, assinalou, em mensagem à Câmara dos Deputados, o economista Pérsio Arida, um dos criadores do Plano Real e ex-presidente do Banco Central. A Câmara dos Deputados relembrou em sessão solene nesta terça-feira os 30 anos do Plano Real.

 

 


Criador e criatura


Criado sob a presidência de Itamar Franco e foco no controle da inflação, o plano foi implementado pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que, com o sucesso da iniciativa, se elegeria presidente da República, naquele mesmo ano. Itamar e Fernando Henrique, pela década seguinte, se confrontariam politicamente muitas vezes, principalmente porque o primeiro esperava o apoio tucano para concorrer à Presidência da República em 1998. Mas ali, emenda constitucional articulada por Fernando Henrique instituiu a reeleição. Naquele ano, Itamar não conseguiu a indicação do então PMDB para concorrer à Presidência da República; elegeu-se governador de Minas.

 

 


Clubes de tiro

Acordo entre governo e oposição no Senado Federal retirou de pauta o projeto de decreto legislativo – aprovado na Câmara dos Deputados – que anula partes de um dos decretos mais restritivos em relação a registro, posse e porte de armas assinados pelo presidente Lula em 2023.

 

 

Pelo acordo, o governo federal editará um novo decreto para alterar a proibição de autorização para que clubes de tiro desportivo fiquem a menos um quilômetro de distância de instituições de ensino. Segundo a oposição, essa proibição prejudica clubes de tiros que já estão em funcionamento, pelas regras anteriores, editadas no governo Bolsonaro.

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