Favorino, o Gaulês (80-160), gargalhava de suas contradições e das disputas intelectuais que estimulava entre eruditos romanos da época. Não costumava ceder facilmente em debates, nem com o Imperador Adriano, também chamado “rei filósofo”. Censurado certa vez pelos amigos por ter assentido aos argumentos de Adriano, teria respondido rindo: “Qualquer homem que tem atrás de si trinta legiões deve ter razão”.
Na era da tecnopolítica, milícias digitais são percebidas como as “modernas legiões romanas”. Atacam adversários, constroem narrativas políticas e promovem candidaturas. Jair Bolsonaro (PL), “o imbrochável”, reinaugurou no Brasil o “orgulho” em arregimentar a misoginia. Quando bafejava as suas máximas do cercadinho, atacando as jornalistas, fazendo piadas e lançando máximas contra a mulher brasileira, era aplaudido principalmente por uma trupe de homens ressentidos, pelo pavor de se relacionar com mulheres não submissas. “No Brasil, as casas chefiadas por mulheres são as que mais passam fome”, afirmou certa vez o então presidente. De outra feita, saiu-se com a oferta de corpos femininos brasileiros a estrangeiros: “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”.
Que ninguém duvide por que, das mulheres pobres, – principalmente aquelas não “catequizadas” pela defesa da submissão doméstica, tão presente em alguns cultos – partiu a maior resistência à reeleição de Bolsonaro. Esse é fenômeno que se repete neste momento entre eleitoras paulistas em relação à versão de última geração da extrema direita, encarnada por Pablo Marçal (PRTB). Ana Carolina, mulher do “coach” – em inglês, aquele que guia cavalos –, repete em palestras o ideal da casa controlada pelo macho alfa: “Se tiver dois cabeças dentro de um lar, a equipe vai rachar no meio. Cada um tem o seu papel, sua função, seu lugar. O marido vai na sua frente para te proteger”.
Coisas assim naturalizam lacradas de gênero voltadas para o mesmo público de homens amargurados e mentes colonizadas: “Deus me livre de mulher CEO (...) essa mulher vai passar por um processo de masculinização que invariavelmente vai colocar o meu lar em quarto plano, eu em terceiro plano e os meus filhos em segundo plano”. Acuado pela repercussão e pelo cancelamento de palestras, o empresário Tallis Gomes, agora pede perdão.
Montado sobre o controle dos algoritmos e de certos fluxos de informação, Elon Musk é useiro e vezeiro na autopromoção de seu poder digital. Dócil com regimes totalitários, anda por aí atacando governos democráticos. “Vamos dar golpe em quem quisermos. Lide com isso”, tuitou em 2020, na esteira de uma crise política na Bolívia que forçara à renúncia do então presidente eleito, Evo Morales.
No Brasil, bancou a aposta recusando-se a cumprir ordens judiciais. Viu a sua plataforma sair do ar. Seguiu em blefe ameaçando divulgar supostas provas contra Alexandre de Moraes. Tentou um último lance para provar ao mundo que “pode tudo”: lançou mão de um sistema de hospedagem terceirizado, a Cloudflare, para burlar o bloqueio judicial no Brasil. Lançou pelo X a bravata, do escritor de ficção científica Arthur C. Clarke: “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia”.
Musk, que já havia mobilizado as suas milícias digitais para reunirem assinaturas pelo impeachment de Moraes, ao perceber que não haveria recuo do magistrado, cumpriu silenciosamente as decisões judiciais tirando do ar disseminadores de fake news. Também nomeou representante no Brasil, louco para superar o bloqueio imposto à rede X no país.
Os boquirrotos da tecnopolítica são assim. Alguns são interrompidos quando descobrem que do outro lado, alguém dobra a aposta; outros, caem com uma cadeirada. E há quem submerja em silêncio assustado pela investigação de patrimônio público desviado e envolvimento em tentativa de golpe de estado. De rugidos de tigrões, emitem miados domesticados. Ser confrontado não parece fazer bem a certo éthos.
Justiça Federal no STJ
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) fará, em 15 de outubro, a eleição interna para compor duas listas tríplices destinadas ao preenchimento das vagas abertas pela aposentadoria das ministras Laurita Vaz e Assusete Magalhães. A desembargadora do Tribunal Regional Federal (TRF) da 6ª Região, Monica Sifuentes e o desembargador Rollo d’ Oliveira integram a lista com 17 nomes da Justiça Federal que concorrem à vaga de Laurita Vaz.
Vaga do Ministério Público
Originária do Ministério Público Federal, para a vaga de Assusete concorrem 24 promotores e procuradores de todo o país, entre os quais, os promotores do Ministério Público de Minas Gerais Júlio César Teixeira Crivellari e Leonardo Barreto Moreira Alves. Pela primeira vez, a votação será feita por um sistema eletrônico, dispensando as tradicionais cédulas de papel.
Eventos extremos
Com o tema “Impactos das Mudanças Climáticas no Estado de Minas Gerais”, auditoria operacional do Tribunal de Contas do Estado (TCE) estuda o planejamento de instrumentos e ações para o acompanhamento das ações do governo do estado destinadas a prevenir e a mitigar riscos decorrentes das mudanças climáticas. Foram realizadas reuniões com representantes da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, a Defesa Civil, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam). Neste momento, a equipe do TCE seleciona os municípios em que a auditoria estará presente. O relatório está previsto para o primeiro semestre de 2025.
Maior doador
Assim como nas eleições de 2022, o empresário Rubens Ometto, presidente do grupo Cosan S.A., é, até este momento, o maior doador individual no país das eleições de 2024: já investiu R$ 7,8 milhões em 92 candidaturas e partidos políticos. O grupo Cosan atua em áreas do agronegócio, na distribuição de combustíveis, em usinas sucroalcooleiras e logística. A fortuna de Ometto é estimada em R$ 1,9 bilhão. As doações foram para os diretórios nacionais do MDB, do União e do PSB, para três diretórios estaduais do PP (Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Sergipe). Para direções municipais, o empresário doou para o PL, em Cuiabá (MT), o PSDB, em Osasco (SP), o PP, em Miracema (RJ), o PDT, em Rio das Flores (RJ), e para o PSD, em Petrópolis (RJ).
Segmentos
Agronegócio, energia e mineração são os principais segmentos dos grandes doadores. O dono do conglomerado Grupo RZK, José Ricardo Rezek, fez o segundo maior investimento em campanhas, doando aos diretórios partidários de sua escolha R$ 3,62 milhões. Radicado em Mato Grosso, o empresário do agronegócio Odílio Balbinotti Filho, presidente do Grupo Atto Sementes, destinou R$ 2, 4 milhões aos partidos políticos para financiamento de candidaturas de sua escolha.
Jogatina fora do ar
As cinco casas de apostas que distribuíam bets on-line sobre quem seriam os futuros prefeitos de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro já tornaram o mercado eleitoral indisponível. Além considerada ilegal pelo Ministério da Fazenda, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) alterou artigos da Resolução 23.735, de 27 de fevereiro de 2024, explicitando a proibição e caracterizando como ilícito eleitoral a prática de vendas, ofertas de bens ou valores, apostas, prêmios ou sorteios vinculados a resultados do pleito eleitoral.