Ao “brado da Independência” seguiu-se, em 1822, em três teatros de operação – Bahia, Norte e Cisplatina – violenta guerra entre a antiga colônia e Portugal. Patriotas eram chamados aqueles que se alinharam em torno da fundação de uma nação independente de nome Brasil. Em que pese tenha havido, nesse grupo, dois projetos nacionais em relação à forma de governo pretendida; estavam alinhados em torno de uma perspectiva única: a independência, a fundação de uma nação soberana. Do outro lado, os portugueses. Lutaram pela restauração do Império luso-brasileiro, de monarquia constitucional, com o poder centralizado em Portugal, como pretendiam as Cortes Constituintes ou Primeiro Parlamento Soberano, que se desdobraram da Revolução Liberal do Porto (1820). Assim pensava por exemplo o comerciante Joaquim José da Silva Maia. Nascido no Porto – estabelecido por volta de 1802 em Salvador, capitania da Bahia, Maia transportava e vendia além de carne seca, couro, sebo, açúcar, aguardente e farinha de trigo, possivelmente também escravos.


Em 1821, Joaquim José da Silva Maia engrossou o movimento que ligava a Bahia às Cortes de Lisboa, passando a defender a tese mais pragmática aos seus negócios, que se expandiam para a África e a Europa: trabalhava pela consolidação de uma ampla rede comercial luso-brasileira. “Portugal não pode prosperar, e enriquecer, sem que outro tanto aconteça ao Brasil; é o que já experimentamos na época do Ministério do Marquês de Pombal, e na subsequente; quando Portugal prosperou no seu comércio, navegação e indústria, foi também quando o Brasil fez os grandes progressos em todos os ramos da sua agricultura, navegação e comércio”, defendia Maia no periódico Semanário Cívico, por ele fundado para disseminar o seu projeto político de apoio ao Império luso-brasileiro. Aos olhos dos patriotas, figuras como Maia, que inclusive pegaram em armas do lado luso, eram “entreguistas”.


Mais de 200 anos depois, a palavra que é substantivo, mas também adjetivo, foi ressignificada. Aqueles que hoje se autodeclaram “patriotas” são aqueles que defendem, contra interesses da soberania nacional, uma gigante tecnológica que desrespeita as leis do país; que milita politicamente em diversos cantos do mundo, inclusive no Brasil, incentivando golpes de estado; e que carrega, no bojo de seu projeto de dominação, a submissão de estados nacionais, entre os quais o Brasil.


“Patriotas” estão também associados à tentativa de golpe de estado de 8 de janeiro de 2024; em projeto que tentou atropelar a liberdade que emana das urnas por uma perspectiva autoritária de poder, aderente à lógica dos novos “senhores feudais”, digo, os novos donos do poder global, que controlam e disseminação o fluxo de informações no planeta. Assim como Joaquim José da Silva Maia, há mais de 200 anos se aliou à perspectiva de recolonização do Brasil por interesse próprio – mas foi contido pelos patriotas da época; em inversão de papeis, estão os novos “patriotas”. A diferença entre eles é que, à época, Maia não escondeu os seus interesses. E aqueles que lutaram ao seu lado tinham clareza do que viria depois, caso vencessem a guerra.


Enquanto os novos “patriotas” se batem pela recolonização dos brasileiros, os verdadeiros patriotas continuam a lutar pela soberania nacional, formal e digital. Os primeiros se entregam aos novos senhores dos algoritmos e das moedas digitais, acreditando, ao cumprir os interesses da gigante tecnológica, alçarem a alguma espécie de poder. Nesta mais recente batalha da longa guerra pela verdadeira independência, o Brasil, às vésperas de eleições municipais, vive mais um capítulo dramático.


“Letícia”

“Toda tecnologia que promova mais segurança no processo eleitoral, mais inclusão, realmente assegurando a igualdade, é bem-vinda. Mas qualquer tecnologia traz possibilidades e desafios”, afirmou a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, em encontro “Mulheres e Inteligência Artificial (IA)”, promovido pelo Projeto Substantivo Feminino, do YouTube, no escritório do Google em Belo Horizonte, na sexta-feira (6/9). A ministra explicou como “Letícia”, a IA da Justiça Eleitoral, tem operado em apoio aos processos administrativos. “Agora estamos desenvolvendo na secretaria de inovação eleitoral, outra possibilidade de uso da IA na leitura de fotos, permitindo maior acessibilidade a quem tem deficiência visual”, disse ela.


Vozes femininas

O projeto Substantivo Feminino é a plataforma do YouTube para a promoção de conversas sobre equidade de gênero e temas relevantes. "Nem sempre as vozes encontram as mesmas oportunidades e espaços em nossa sociedade, por isso fomentamos o debate sobre como podemos coletivamente avançar”, afirmou Alana Rizzo, Head de Políticas Públicas do YouTube no Brasil. “A inteligência artificial vai transformar das mais diversas formas as nossas vidas e queremos garantir que seja usada com responsabilidade, ajudando a destravar o potencial criativo e a diminuir as desigualdades", considerou.


Rodízio

Para lidar com a crise na Secretaria Municipal da Fazenda, que culminou com o pedido de demissão de todos os auditores-fiscais de cargos de confiança, o prefeito Fuad Noman (PSD) decidiu pelo rodízio: Leonardo Colombini deixou a Fazenda para assumir a Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão. Por seu turno, André Reis, que estava à frente do Planejamento, assumiu a Secretaria Municipal de Política Urbana. Já João Fleury Teixeira, que acumulava desgastes na Política Urbana com o setor da construção civil, foi escalado para a Fazenda. Neste jogo de cadeiras, todos com assento.


Orfandade

Dados oficiais dos cartórios indicam que existem em Minas Gerais mais de 6,1 mil órfãos, 70% dos quais menores de 6 anos e 10% deles perderam pais pela COVID-19. É igualmente grande a ocorrência de orfandade por feminicídios. A informação é de Milton Alves Santos, secretário-executivo da Coalizão Nacional Orfandade e Direitos, em audiência pública na Assembleia Legislativa, promovida pela Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social. A iniciativa foi da deputada Ana Paula Siqueira (Rede), autora do Projeto de Lei 3.632/22, que institui a Política Estadual de Proteção e Atenção Integral aos Órfãos e Órfãs do Feminicídio.


A boiada

Enquanto os líderes da extrema direita pressionam, na Paulista, pelo impeachment de Alexandre Moraes, na Câmara dos Deputados, a oposição alinhada quer anistiar participantes da tentativa de golpe de 8 de Janeiro. A presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Caroli de Toni (PL-SC) vai pautar nesta terça-feira (10/9) projeto que concede perdão a presos por participação nos atos de 8 de Janeiro de 2023, que vandalizaram as sedes dos Três Poderes em Brasília. No embalo do esforço concentrado desta semana, já na quarta, a pauta seguirá com o pacote “Anti-STF”, com análise das propostas que limitam poderes do STF.

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